Pressão por tráfego de dados estimula indústria de cabos submarinos

Executivos da EllaLink, Infinera e Cirion destacam que demanda por aplicações mais exigentes empurra segmento a realizar investimentos constantes; tráfego internacional de dados cresce 30% ao ano
Indústria de cabos submarinos cresce com demanda por tráfego internacional de dados
Indústria de cabos submarinos tem cada vez mais necessidade de investir em infraestrutura (crédito: Eduardo Vasconcelos/TeleSíntese)

Os investimentos em infraestruturas de cabos submarinos ligando redes de internet entre países e continentes devem continuar aquecidos, mesmo que o volume de tráfego internacional de dados esteja “pisando no freio”.

Em painel no Futurecom 2023, Rafael Lozano, country manager da EllaLink no Brasil, destacou que a computação de borda, modelo em que o processamento e o armazenamento ocorrem mais próximo ao usuário, está reduzindo o tráfego internacional de dados. Ainda assim, a taxa de crescimento da transferência entre diferentes países é de 30% ao ano.

“Investimento é crítico no nosso segmento – construir novas rotas e mais cabos submarinos para conectar mais países e cidades. Antigamente, a internet estava concentrada nos Estados Unidos. Hoje, vemos a China se tornando um polo de conectividade. A Europa está correndo atrás. A América Latina precisa correr também”, avaliou o executivo, nesta quinta-feira, 5.

A EllaLink é responsável pela instalação do primeiro cabo submarino de alta capacidade que liga diretamente o Brasil à Europa.

Na avaliação de Alexandre Salomão, country manager da Infinera no Brasil, o “avanço tecnológico traz a necessidade de mais banda”, de modo que o “aumento da capacidade de uso da rede é uma constante em cima desse mercado”.

Segundo ele, a adoção de novas tecnologias, como Inteligência Artificial (IA), e downloads de conteúdos mais intensos, como streamings de alta qualidade, exercem uma “pressão constante por aumento da demanda de tráfego”. Contudo, destacou que a fibra é um recurso escasso. No caso dos cabos submarinos, são instalados no fundo do mar com a expectativa de que permaneçam em operação por 25 a 30 anos.

Desse modo, a indústria tem duas formas de aumentar as capacidades dos cabos: utilizando transponders mais eficientes ou aumentando a capacidade de espectro.

“O desafio é conseguir extrair mais capacidade dessa fibra”, frisou. “Todas as redes de transporte óptico operam dentro de um espectro – no mercado submarino, na banca C, de 4,8 Tbps. Na hora que expandimos o espectro, podemos aumentar em até 25% a capacidades dessas redes”, acrescentou Salomão.

Vida útil das redes submarinas

Tatiana Fonseca, vice-presidente de Operações da Cirion no Brasil, afirmou que, além de investimentos em infraestruturas submarinas e data centers, a companhia tem fortalecido as redes legadas monitorando a vida útil dos equipamentos. Recentemente, a empresa constatou, por meio de consultorias internacionais, que grande parte dos cabos ainda pode operar por dez anos.

“Trata-se de fazer uma gestão da obsolescência de modo inteligente para extrair o melhor desempenho possível da infraestrutura”, salientou – em conversa com jornalistas, a executiva informou que a empresa começou, nesta quinta, a reparar um cabo subaquático rompido na costa do Rio de Janeiro, cujo dano foi causado por embarcação.

No papel de moderador da discussão, Marco Canongia, sócio-diretor da Lumicon, apontou que, de 2018 a 2022, a capacidades dos cabos submarinos cresceu 13% ao ano.

“Quem está sustentando esse crescimento são os serviços de cloud [nuvem]. A capacidade total das rotas submarinas nas Américas passou da faixa de 200 Tbps, em 2016, para [atuais] 800 Tbps”, assinalou.

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Eduardo Vasconcelos

Jornalista e Economista

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