Trabalhadores dos Correios iniciam greve geral

Funcionários são contra a retirada de direitos, a privatização e a negligência em relação à Covid-19; empresa rebate dando conta de que a pauta dos grevistas representaria 10 vezes o lucro de R$ 1 bi registrado em 2019.

Os trabalhadores dos Correios iniciaram, desde ontem,17, à noite, greve geral por tempo indeterminado, deixando de entregar parte dos produtos encomendados por consumidores em todo o país. A exceção será em caso de mercadorias relacionadas ao combate da pandemia. Os grevistas são contra a retirada de direitos, a privatização da estatal e a negligência com a saúde dos trabalhadores em relação à Covid-19.

A Fentetec (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares) justificou a decisão pela revogação, desde o dia 1º de agosto, por parte da direção da estatal do atual acordo coletivo que estaria em vigência até 2021.

Em nota, entidade lista os benefícios eliminados: “Foram retiradas 70 cláusulas com direitos como 30% do adicional de risco, vale alimentação, licença maternidade de 180 dias, auxílio creche, indenização de morte, auxílio para filhos com necessidades especiais, pagamento de adicional noturno e horas extras”.

Outro motivo para a paralisação geral é a privatização dos Correios e o aumento “descabido da participação dos trabalhadores no Plano de Saúde”, o que segundo a instituição gera evasão e “descaso e negligência com a saúde e vida dos ecetistas na pandemia da Covid-19”.

De acordo com o secretário geral da Fentect, José Rivaldo da Silva, a greve é uma verdadeira batalha pela vida dos trabalhadores. “A direção da ECT buscou essa greve, retirou direitos em plena pandemia e empurrou milhares de trabalhadores a uma greve na pior crise que o país vive. Perdemos muitos companheiros para a Covid-19 em função do descaso e negligência da empresa”, afirmou.

Sem alternativa

A ADCAP (Associação dos Profissionais dos Correios) afirmou em nota que lamenta a medida extrema adotada pelos trabalhadores. Mas, não houve alternativa diante da tentativa de imposição de uma redução significativa nas remunerações. “A outra opção seria aceitar a absurda, descabida e drástica redução de remuneração, durante a pandemia”, afirmou em nota.

Um carteiro ou atendente tem um salário inicial de menos de R$ 1.800,00, segundo a associação. “E, ao mesmo tempo em que força o “empobrecimento dos trabalhadores concursados”, o presidente da empresa, general Floriano Peixoto, contrata advogados para defender a permanência de assessores especiais admitidos sem concurso público”.

A associação denuncia que a empresa “abriu mais 7 vagas de assessores especiais na subsidiária – Postal Saúde, com salários de R$ 16.000,00, para abrigar outros apaniguados”. Valor que daria para manter 200 carteiros, que atendem 800.000 habitantes. O Tele.Síntese consultou a empresa sobre a denúncia.

Reivindicações impossíveis

A empresa alega que atender tais reivindicações “custariam aos cofres dos Correios quase R$ 1 bilhão – dez vezes o lucro obtido em 2019. E trata-se de uma proposta impossível de ser atendida”. Veja a nota da estatal:

“Os Correios não pretendem suprimir direitos dos empregados. A empresa propõe ajustes dos benefícios concedidos ao que está previsto na CLT e em outras legislações, resguardando os vencimentos dos empregados.

Sobre as deliberações das representações sindicais, os Correios ressaltam que possuem um Plano de Continuidade de Negócios, para seguir atendendo à população em qualquer situação adversa.

No momento em que pessoas e empresas mais contam com seus serviços, a estatal tem conseguido responder à demanda, conciliando a segurança dos seus empregados com a manutenção das suas atividades comerciais, movimentando a economia nacional.

A diminuição de despesas prevista com as medidas de contenção em pauta é da ordem de R$ 600 milhões anuais. As reivindicações da Fentect, por sua vez, custariam aos cofres dos Correios quase R$ 1 bilhão no mesmo período – dez vezes o lucro obtido em 2019. Trata-se de uma proposta impossível de ser atendida.

Respaldados por orientação da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (SEST), bem como por diretrizes do Ministério da Economia, os Correios se veem obrigados a zelar pelo reequilíbrio do caixa financeiro da empresa. Em parte, isso significa repensar a concessão de benefícios que extrapolem a prática de mercado e a legislação vigente. Assim, a estatal persegue dois grandes objetivos: a sustentabilidade da empresa e a manutenção dos empregos de todos.”

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Abnor Gondim

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