Sucesso de uma smart city depende de administração coesa e experimentação

Alinhamento entre as secretarias e orçamento dedicado são fundamentais para fazer de uma cidade uma smartcity, afirmam representantes de Curitiba, Rio de Janeiro e Guarulhos.
Foto: SmartCities Mundi

O que existe de comum entre Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ) e Guarulhos (SP)? Aparentemente são cidades bastante distintas, com densidade populacional diferente, localizadas em estados diferentes, e com orçamentos para inovação e governo eletrônico também bastante diferentes. No entanto, cada uma descobriu seu potencial como smart city (cidade inteligente).

No SmartCities Mundi, evento realizado pela Momento Editorial, que publica o Tele.Síntese, representantes de cada cidade comentaram seus esforços rumo à digitalização. E concordaram que o primeiro passo é conseguir um alinhamento de todos os entes ligados à prefeitura e legislativo local.

Curitiba

Foto: SmartCities Mundi

“A gente vê muito no Poder Público ações desconectadas. As secretarias operam como silos. Procuramos então trabalhar as secretarias como clientes internos, em um movimento de colaboração”, reflete Carla Cavichiolo Flores, Assessora Especial da Superintendência de Tecnologia da Informação da Secretaria Municipal de Administração, Gestão de Pessoal e Tecnologia da Informação de Curitiba.

Para implementar a digitalização da cidade, sua área foi alocada na Secretaria de Administração, e conversa com todas as demais secretarias a fim de alinhar a TI às necessidades gerais.

Dessa capacidade de articulação, surgiram o serviço Check-in Seguro, de monitoramento da disseminação da Covid-19 junto à Secretaria de Saúde; a solução Muralha Digital, de vigilância pública com monitoramento de intrusão e reconhecimento facial no Centro da cidade, nas rodovias, em escolas (com a Secretaria de Educação), em praças e até cemitérios, abandono de bagagem, e botão de pânico para mulheres sob medidas protetivas da Lei Maria da Penha, sensores de barométricos e pluviométricos; 227 praças com WiFi público; digitalização de 100% dos processos; política de dados abertos.

Atualmente, a cidade testa o uso de 511 câmeras corporais junto à guarda civil, 180 câmeras veiculares e dock stations com reconhecimento facial.

Outro ponto que Flores destaca é a capacidade de testar rápido, para ter sucesso ou mesmo falhar rápido. “É um conceito já praticado no mercado, que dá resultados. Tínhamos o pagamento por tributos via cartão, que em dois anos teve 500 pagamentos. Abrimos para uso do PIX, e foram 1 mil pagamentos em 24 horas”, observa.

Curitiba prepara ainda o lançamento do e-Cidadão, um login único de acesso aos serviços públicos, interoperável com o Gov.br federal, com cinco níveis de confiabilidades (inclusive com certificação digital), e que embora não tenho sido lançado, já tem em suas bases 800 mil cidadãos cadastrados.

Outro ponto de sucesso é a adesão da população à cidade inteligente. Uma vez por ano a prefeitura organiza o Fala Curtiba, em que os moradores podem opinar sobre a destinação do orçamento e projetos prioritários, garantindo assim apoio às iniciativas.

Rio de Janeiro

Foto: SmartCities Mundi

Alexandre Goldfeld Cardeman, Chefe Executivo de Resiliência e Operações do município do Centro de Operações do Rio de Janeiro, contou no evento que a prefeitura criou um ambiente para centralizar dados das diferentes secretarias e, ao mesmo tempo, atender cada uma com necessidades específicas de digitalização.

Segundo ele, de fato a cidade inteligente não funciona se cada secretaria atuar de forma isolada, e por isso é essencial um alinhamento estratégico e ir além do Poder Público, convocando iniciativa privada e os cidadãos a participarem.

“A gente trabalha com as concessionárias, com as prestadoras de serviço público, com agências do Estado, que precisam estar interconectados ao nosso centro de controle. Temos parcerias com 99, moovit, Nasa, Google, Tim. isso é importante para trazer expertise das empresas. A gente transforma tudo em inteligência e podemos definir melhor políticas públicas”, contou.

O Rio de Janeiro, além do Centro de Operações onde se dá a gestão dos dados, criou uma Coordenação de Cidades Inteligentes, que fica responsável por ajudar a todas as secretarias a tirar proveito da iniciativa e se tornarem mais eficientes.

Outro ponto crucial é a forma como definir o orçamento municipal. Além do dinheiro destinado à Secretaria de Inovação, Cardeman recomenda que cada secretária tenha também um porcentual para investir em inovação. “Cada secretaria tem que evoluir junto com uma visão de governo”, ressalta.

O Rio tem várias ações digitais, desde os Jogos Olímpicos de 2016. Ali, começou a entender como parcerias com o setor privado pode render benefícios aos cidadãos de maneira ampla. “Fizemos em 2017 trabalho com a TIM em que tínhamos o CDR [registro de conexão] de quem acessava as antenas. Com isso, a gente conseguia ver a mancha de pessoas se deslocando nos blocos de carnaval. E aí fazíamos a mobilidade com base nessa mancha”, contou.

No réveillon, a parceria voltou. “Percebemos que as pessoas saíam já 00h05 da praia, então começamos a colocar os melhores shows à 0h15. Precisamos de mais parcerias assim. Na parte logística isso aconteceu nas Olimpíadas, sabíamos onde ficavam mais chineses, mais alemães etc., usando apenas do CDR da telefonia móvel, sem informação das pessoas, apenas o dado anonimizado”, disse.

Guarulhos

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Cidade da região metropolitana de São Paulo, Guarulhos também implementou uma série de iniciativas para tornar a administração mais eficiente e oferecer serviços de forma fácil ao cidadão.

Giuliano Carlo Rainatto, Diretor de Modernização na Secretaria de Gestão de Guarulhos, contou que sua secretaria tem investido na construção de um anel de fibra óptica, ativando ferramentas de conectividade nos diversos órgãos, uso de processos 100% digitais.

Guarulhos tem metas ousadas. Atualmente, 10% dos serviços oferecidos aos cidadãos são digitalizados. O objetivo é chegar a 100% em 2024.

Trabalha também na revisão da legislação de antenas, de olho na chegada do 5G. Oferece também WiFi em praça e pretende aderir ao programa federal Internet para Todos.

Rainatto concorda com os colegas quanto à melhor forma de viabilizar as iniciativas de cidade digital. “A integração orçamentária é fundamental. Quando a prefeitura não tiver orçamento, então precisa saber se movimentar entre as agência de fomento. E é essencial haver harmonia entre as secretarias. A proposta de tecnologia da informação é melhorar qualidade da informação e prestação de serviço. Todos têm que estar alinhados com o planejamento estratégico e com o objetivo de entregar bons serviços”, conclui.

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Rafael Bucco

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