Redução da oferta e investidores institucionais explicam alta do Bitcoin

Depois de iniciar o ano valendo U$ 29 mil o bitcoin saltou para US$ 61 mil em março, valorização de mais de 100%. Atualmente, o bitcoin, a principal moeda digital, está cotada a US$ 59.833,20 (R$ 340.774,01) e não há ainda sinais de que pare de subir. A expectativa é de que chegue a US$ 100 mil até o final do ano.

Depois de iniciar o ano valendo U$ 29 mil, o bitcoin saltou para US$ 61 mil em março, valorização de mais de 100%. Estima-se que haja mais de 4 mil criptomoedas no mundo e  que a médio e longo prazos apenas 1 mil permanecerão. Atualmente, o bitcoin, a principal moeda digital, está cotada a US$ 59.833,20 (R$ 340.774,01) e não há ainda, segundo o mercado, sinais de que pare de subir, com alguns projetando que a criptomoeda deve atingir US$ 100 mil até o final do ano.

Rodrigo Monteiro – Diretor Executivo da ABCripto

Efeitos do terceiro halving – processo que ocorre a cada quatro anos em que a produção da criptomoeda é cortada pela metade –, mudança do perfil do investidor de varejo para o nível institucional e alterações regulatórias são alguns dos fatores da disparada, na avaliação do mercado.

A permissão dada pela Office of the Comptroller of the Currency (OCC, órgão regulador norte-americano) para que os bancos americanos possam custodiar criptoativos gerou negócio para essas instituições financeiras. E o pacote de estímulos do novo presidente americano, Joe Biden, imprimindo dólar para ajudar a sociedade na pandemia, também levou os investidores a buscar proteção nos criptoativos.

“O bitcoin foi criado para trocas financeiras na internet, mas vem se caracterizando cada vez mais como um ativo de investimento para dois perfis, o do especulador e do que está apostando na moeda como reserva de valor de longo prazo”, diz uma fonte do mercado de cripto.

Depois do pico de dezembro de 2017, quando atingiu quase US$ 20 mil, os investidores amargaram dois anos de ressaca com a derrubada do valor do bitcoin, que em 2018 chegou a cair para 3,9 mil. Em abril de 2019, a moeda voltou a subir com um pico de U$$ 12 mil em julho, voltou a cair e em dezembro atingiu US$ 6,9 mil.

“Em 2020, o valor da moeda estava se recuperando, chegando a bater em US$ 9,8 mil em fevereiro, mas, com a pandemia, caiu para US$ 5 mil na primeira quinzena de março, acompanhando a derrocada dos mercados. Mas, enquanto as bolsas demoraram a recuperar, o bitcoin subiu rapidamente. Chegou a US$ 62 mil no início de março de 2021”, ressalta a fonte.

Para Rodrigo Monteiro, diretor executivo da ABCripto o comportamento do bitcoin segue a lei econômica clássica de oferta e demanda. Como mais pessoas querem um bem que é escasso, o preço sobe.

“Tantas pessoas passaram a desejar o bitcoin em suas carteiras de investimento porque ele é uma moeda de fácil distribuição e controle; começa a ser cada vez mais aceita e transacionada; e permite uma proteção natural contra naturezas cíclicas da economia real porque não está atrelado a ouro nem a dólar e não segue as dinâmicas de commodities como o petróleo; além da oferta limitada”, analisa Monteiro

Carlos Russo, CFO da Transfero Swiss

Para Carlos Russo, CFO da Transfero Swiss, o principal fator de valorização é a escassez da moeda. Só poderá existir 21 milhões de unidades – já se minerou quase 90%, 18.678.975, de acordo com o site CoinMarketCap. E, à medida em que há a circulação de outro bem como a moeda fiduciária – dólar ou real – que não é um bem escasso, podendo crescer de forma infinita, a relação entre esses dois ativos muda ao longo do tempo.

“O ativo escasso, tende a estar mais valorizado no longo prazo e vai ganhar valor em relação à moeda fiduciária, que cresce de acordo com o a expansão da economia. Além disso, o bitcoin respeita ciclos de quatro anos que são demarcados pelo efeito de halving, divisão pela metade da recompensa dos mineradores”, diz Russo.

Desde 2008, quando o bitcoin foi criado, já ocorreram três halving. Inicialmente, cada minerador recebia uma recompensa de 50 unidades de bitcoins. Em novembro de 2012, houve o primeiro halving e a recompensa caiu para 25 unidades. Na ocasião, o bitcoin era negociado na faixa dos US$ 12, passando para mais de US$ 1 mil um ano depois, com um grande aumento no volume de negociação.

Já no segundo ajuste, em setembro de 2016, a remuneração desceu para 12,5 unidades. O bitcoin estava cotado abaixo de US$ 700, mas saltou para a máxima de US$ 20 mil um ano depois. No terceiro halving, em maio 2020, a remuneração dos mineradores caiu para 6,25. E, como efeito, o preço do bitcoin superou os US$ 62 mil em março de 2021.

“Estatisticamente há essa correlação: 18 meses depois do evento do having, há uma apreciação muito forte do bitcoin. Isso aconteceu em 2013, em 2017 e vem acontecendo em 2021”, explica Russo.

Outro fator é a tese de que o bitcoin pode ser uma reserva de valor como o ouro. Mas Russo ressalva que o bitcoin não tem o mesmo comportamento e nem é tão estável como o ouro. Na crise de 2020, o bitcoin derreteu junto com os mercados. Apesar de ser uma boa reserva de valor no longo prazo, no curto tem uma correlação muito forte com as bolsas.

“Se houver uma crise, ou o estouro de uma bolha e a bolsa despencar, o bitcoin pode perder muito valor no curto prazo. Mas, no longo prazo, é um bem escasso, que deve se valorizar. Não se sabe até quanto irá subir, mas depois vai haver uma correção. Não seria absurdo imaginar que chegue a US$ 150 mil e depois caia novamente para US$ 30 mil”, alerta Russo.

O movimento de 2020 também pode ser explicado pela entrada do investidor institucional. Em fevereiro, a Tesla ultrapassou a MicroStrategy ao comprar US$1,5 bilhão em bitcoins. Mas a MicroStrategy ainda é a empresa listada em bolsa com maior quantidade de Bitcoins em custódia, por ter adquirido o criptoativo a um preço médio inferior ao da Tesla, segundo análise do portal BlockTrands. A Visa anunciou que vai usar stablecoins em seu sistema de pagamentos. O Pay Pal anunciou que vai aceitar bitcoins.

Guto Antunes, diretor da mesa de operações OTC do Mercado Bitcoin, afirma que a disparada também decorre do fato de essas empresas e demais investidores institucionais estarem colocando posições de tesouraria em bitcoin e acreditando que a moeda é muito mais do que uma ativo de volatilidade e sim uma tecnologia disruptiva, que atende diversas necessidades dos clientes de forma global.

“Bancos e family offices nos EUA já entenderam que os investidores estão migrando para esses ativos, buscando uma possível maior rentabilidade, já que os juros dos títulos americanos para 10 anos estão com retorno por volta de 1,7% ao ano. O investidor busca ativos de risco como os principais índices de bolsas – Nasdaq, S&P, DowJones – e começou a operar criptoativos”, analisa Antunes.

Ele destaca que não há como prever quando o preço do bitcoin vai cair. Hoje a tendência ainda é de alta pela entrada dessas empresas. E cita a previsão de que a criptomoeda vai chegar a US$ 100 mil até dezembro. “Mas nada impede que até caia para US$ 45 mil, US$ 40 mil e depois vá buscar os US$ 100 mil. O investidor tem de entender que os criptoativos ainda são instrumentos de alta volatilidade porque ainda estão buscando suas funções”, alerta Antunes.

A Mercado Bitcoin é uma das exchanges líderes no mercado de crioptomoedas no Brasil. A empresa fechou 2020 com cerca de 2 milhões de clientes cadastrados na plataforma com um volume de trade de R$ 6,4 bilhões e 150 profissionais. De janeiro a março de 2021, o número de clientes saltou para 2,5 milhões e volume de R$ 13,5 bilhões de trade, crescimento de mais de 100%; e 300 colaboradores. “Tivemos de crescer o quadro dada a demanda e ao padrão tecnológico pois estamos entre as 20 exchanges mais seguras do mundo”, diz Antunes.

A liderança vem sendo disputada com Brasil com a Binance, maior exchenge do mundo, que iniciou suas operações na China, mas hoje prefere não ter um head quarter definido. Ricardo Da Ros, country manager da Binance no Brasil, diz que os investidores de peso ainda não entraram no mercado, apesar de lances como os da MicroStrategy e da Tesla.

Por enquanto, a empresa vem oferecendo no Brasil serviços de sua plataforma global, mas planeja uma operação mais consolida no país. Para ele, o mercado brasileiro está em processo de profissionalização.

“O mercado brasileiro ainda é um pouco imaturo. Há todo tipo de investidor, mas ainda é necessário que as empresas trabalhem na educação para que as pessoas possam investir com consciência, senão podemos ver coisas estranhas e fraudes. Muitos brasileiros acreditam que o bitcoin é para ficar rico, mas é um investimento como qualquer outro, tem risco e precisa de estudo”, analisa Ros.

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Carmen Nery

Jornalista especializada na cobertura dos setores de tecnologia, inovação, varejo, infraestrutura e finanças, formada pela UFRJ com MBA em Gestão pelo IBMEC especialização em comunicação corporativa pela Cândido Mendes.

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