600 MHz e 6 GHz: o que as empresas querem nos próximos leilões de espectro

Faixas estão na mira de prestadoras de diversos portes e para diferentes serviços. Veja o panorama da demanda.

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A tomada de subsídio nº 2 da Anatel, finalizada em 9 de abril, movimentou o mercado e resultou mais de 440 páginas de contribuições. O objeto era apurar quais faixas de frequência a autarquia deve priorizar para licitar em futuros leilões. Apesar da extensão, a leitura do documento completo mostra que um novo embate se avizinha entre operadoras de telefonia móvel, de todos os portes, e empresas de radiodifusão pelos 600 MHz. Em outra frente, a disputa pela faixa de 6 GHz – toda ou fatiada – segue quente (veja no gráfico abaixo).

No caso dos 600 MHz, a tomada de subsídio recebeu contribuições de Abratel, Abert, SET e Qualcomm em defesa da destinação da faixa para a radiodifusão. Especificamente, para a TV 3.0. Isso porque não há espectro suficiente em VHF e UHF que permita uma migração dos canais da atual TV Digital para o futuro padrão 3.0, previsto para ser oficialmente lançado em 2025. As emissoras querem dispor do espectro de 600 MHz para realizar a migração paulatina, sem desligar no mesmo momento o sinal da TV Digital.

A Qualcomm tem interesse similar, mas não idêntico. Defende que os 600 MHz são importantes para o 5G Broadcast, um formato de TV 3.0 para sintonia em smartphones 5G. A faixa, vale lembrar, já foi reservada pelo Ministério das Comunicações para a TV 3.0, mas o que se viu nas manifestações foi muita pressão do setor móvel pelo insumo.

Das operadoras móveis que enviaram contribuições solicitaram a faixa de 600 MHz, Brisanet, Cloud2U, Unifique, Claro e Vivo defenderam a destinação dessa faixa de frequência para o serviço móvel. Algar e TIM lembram que a faixa tem excelentes características de propagação, complementando a área de cobertura do 5G, ao mesmo tempo em que há dispositivos compatíveis no mercado.

A Brisanet foi a mais específica, e falou que tem interesse em usar o espectro para atendimentos rurais. A Unifique, por sua vez, disse que a faixa é uma carta na manga para quem não tem acesso aos 700 MHz, e por isso deve ser cogitada logo. Para a Vivo, não é o caso de proceder a nova licitação de espectro tão cedo, mas já seria importante a Anatel começar a estudar a redestinação dos 600 MHz para o SMP. A Acel, entidade que congrega as operadoras móveis nacionais, trouxe proposta semelhante: de colocar a discussão em pauta, para liberar essa faixa ao móvel no longo prazo.

6 GHz

A disputa pela faixa de 6 GHz, que logo mais completa quatro anos, segue mais viva do que nunca. A Anatel destinou esse espectro para o WiFi (não licenciado), mas isso não trouxe nem conforto aos que o desejavam no SMP, nem resultou em ocupação imediata para redes domésticas, uma vez que os aparelhos compatíveis começam a aparecer no mercado, e ainda são caros. Na última Conferência Mundial de Radiocomunicações (WRC-23), o Brasil adotou uma postura que abriu a possibilidade de mudar a destinação atual.

Para Abrint, Oi, Algar, Apple, Câmara-e.net, Broadcom, Cisco, Intel, HPE, Meta e Microsoft, o espectro é do WiFi, e de mais ninguém. As empresas norte-americanas se alinham com a política dos EUA de governo, que destinou a faixa para uso não licenciado, e assim, focam no desenvolvimento da tecnologia. Para Abrint, Oi e Algar, as redes domésticas demandam cada vez mais capacidade, e assim, precisam de um upgrade. A faixa será usada para o WiFi 7, que prevê não apenas maior velocidade de transmissão de dados, como também mais dispositivos conectados.

Já as operadoras móveis querem acessar a faixa. Mas dizem que não precisam dela inteira, bastam 700 MHz dos 1.200 MHz disponíveis. E citam (Claro, TIM e Vivo) relatórios da GSMA a respeito da necessidade de mais espectro sub-7GHz para compor com 6G no futuro, ao lado de faixas como 3,7 a 4,2 GHz (hoje reservada ao SLP) e 4,9 GHz.

Brisanet, Cloud2U e Unifique também querem destinação de 700 MHz dos 6 GHz para o serviço móvel. Propõem, inclusive, que o leilão seja semelhante ao do 5G, com lotes para operadores nacionais e regionais, a fim de permitir a participação de entrantes na disputa.

O setor satelital também se posiciona sobre os 6 GHz. A Abrasat afirma que, se a faixa for destinada ao móvel, é importante garantir que não interfira em serviços profissionais prestados por satélite em bandas próximas. A Viasat mandou contribuição na qual diz que oferece serviços móveis por satélites (MSS), como os marítimos, na frequência, e também requer proteção.

As demais faixas cogitadas na tomada de subsídio parecem mais pacificadas que serão bem vindas em algum momento pelo SMP. As empresa diferem mais é no quando, com as entrantes mostrando mais pressa por novas bandas do que as grandes.

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Rafael Bucco

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