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Governo deve liderar padronização de coleta e uso de dados em saúde

Para especialistas, padronização para intercâmbio de dados em saúde exige ação centralizada. Ministério da Saúde acelera trabalho na ampliação da plataforma RNDS

O Governo Federal deve chamar para si a responsabilidade de criar a padronização da troca de dados de pacientes, para que seja possível às novas tecnologias de saúde digital se disseminarem por todo o Brasil.

Conforme especialistas debateram nesta sexta-feira, 18, no evento Smart Cities Mundi 2023, organizado pela Momento Editorial, a interoperabilidade universal de dados e sistemas é medida crucial para tornar o sistema de saúde mais eficiente.

Geraldo Reple Sobrinho, Presidente do COSEMS SP (Conselho de Secretários Municipais de Saúde de São Paulo), ressaltou que a rede pública e a rede privada de saúde devem trabalhar em conjunto..

“Temos que ter um prontuário único, compartilhado. Então é fundamental a interoperabilidade. Aqui em Sçao Paulo temos parceria com o BID para modernizar os sistemas. Escolhemos uma tecnologia, mas o BID insistiu para rever e adotar um padrão interoperável capaz de integrar ambos os sistemas”, observou.

Só em São Paulo existem mais de 5 mil Unidades Básicas de Saúde, que ainda serão integradas entre si, exemplificou. “A RNDS [Rede Nacional de Dados em Saúde], se todo mundo entrar, vai funcionar”, acredita.

Datasus em ação

Robson Willian de Melo Matos, Coordenador de Padrões de Informática em Saúde do DATASUS, do Ministério da Saúde, disse que a pasta vem buscando uniformizar e padronizar a troca de dados e mensagens de saúde. Para tanto, vem elaborando a RNDS, que é uma plataforma à qual diferentes sistemas podem se integrar.

Para ligar com a variedade de sistemas, o Datasus decidiu utilizar um padrão de troca de mensagens, o FIRE. A partir dele já há uniformização para mensagens informando o cidadão sobre atendimento clínico e sumário de alta hospitalar.  “Estamos desenvolvendo um modelo de sumário de alta  obstétrica, e em breve estaremos recebendo os primeiros registros de prescrição de medicamentos na rede”, falou.

E completou: “A meta é criar um ambiente nacional padrão e um ambiente de interoperabilidade internacional com foco no dado, não mais no sistema, para conseguir interoperar essas mensagens entre todos os profissionais de saúde e pacientes”.

Hospital das Clínicas testa

Manancial de inovações, o Hospital das Clínicas, em São Paulo, testa diferentes tecnologias em saúde digital. Como explicou Carlos Carvalho, Diretor da Divisão de Pneumologia do InCor-HCFMUSP, será preciso um modelo integrado para que no futuro aconteçam teleconsultas conectando unidades básicas de saúde em lugares remotos a médicos localizados em um centro urbano. Isso porque, afirmou, haverá escassez de médicos especialistas no futuro.

O HC vem realizando testes de atendimento remoto e colhendo bons resultados. “Fizemos um teste em um distrito de Santarém, um bairro localizado há 6 horas de barco da cidade, onde viviam 1 mil pessoas e havia uma enfermeira para atendê-las. Treinamos a enfermeira para coletar os dados vitais e queixas do paciente. Ela repassava essas informações previamente e, a partir daí, o médico de cá começava a teleconsulta. Neste local que nunca teve médico, em 94% dos atendimentos o problema do paciente foi resolvido e não houve necessidade de remoção para o centro urbano”, contou.

Para projetos assim se alastrarem, no entanto, é preciso um coordenador central, como o Ministério da Saúde, defendeu, a fim de que as plataformas para a troca dos dados sejam padronizadas.

BP inova

Alexandre Mattos, Gerente Executivo de Inovação na Beneficência Portuguesa de São Paulo, concorda. Ele vê o momento atual da área de saúde equivalente ao movimento que a indústria em geral fez anos atrás quando padronizou sistemas ERP, criando data lakes que poderiam ser acessados por diferentes sistemas.

Segundo ele, outras inovações vão surgir de um modelo comum de transmissão de dados em saúde, que são regidos por lei específica. “Nós estamos idealizando um projeto de cabines de medicina preventiva, nas quais o paciente entra e tem instrumentos para ele mesmo realizar um autoexame, coletar dados como pressão, temperatura etc. Depois de coletados os dados, começa uma teleconsulta”, contou. 

O motivo para um produto assim é a carência de profissionias. Além da falta de especialistas, Mattos ressalta que faltam clínicos no Brasil. “São 4 mil UBS sem um médico”, disse.

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