Para analistas, Algar, Highline, Pátria e BTG podem surpreender no leilão 5G

Bolsa de apostas tem bloco vazio em 3,5 GHz, compra de espectro para prestação de serviços IoT e preço como condição para venda de 2,3 GHz e ondas milimétricas.

A proposta de edital do conselheiro Carlos Baigorri, feita nesta semana, gerou mais debate no mercado em função dos custos que certas obrigações trarão, do que pela modelagem de blocos a serem vendidos. Para analistas do mercado financeiro, consultores e representantes de algumas das empresas interessadas no certame, com tantas obrigações, dificilmente veremos um novo grande competidor nacional formado a partir da aquisição da faixa de 3,5 GHz.

Baigorri manteve a sugestão da área técnica, de vender 5 blocos de 80 MHz em 3,5 GHz, e condicionou ao compradores dessa faixa o atendimento de obrigações previstas da Portaria 1924, editada pelo Minicom na semana passada.

Pelas regras, um bloco é regional, divido em 8 lotes destinados aos ISPs. Outros 4 blocos são nacionais. Como a Oi Móvel está sendo vendida, a suposição mais comum no mercado é que Claro, TIM e Vivo dividam entre si o bloco “sobressalente”. Neste caso, todas teriam 100 MHz na faixa de 3,5 GHz. Mas sobrariam 20 MHz sem dono.

Para Eduardo Tude, da consultoria Teleco, sobrar não é um problema. “A Anatel poderia colocar esses 20 MHz à venda novamente, como fez em outros leilões de sobras”, pontua. A seu ver, os lotes regionais devem ir para as mãos das maiores ISPs, como Americanet, Brisanet, Arqia e Algar.

Lote vazio

Já Ari Lopes, consultor da Omdia, aposta que o quarto bloco de 3,5 GHz vai ficar vazio. A seu ver, o volume de obrigações acrescentadas inviabiliza a entrada de novos players, mesmo que já estejam no mercado brasileiro como operador regional. “Difícil uma empresa que queira encarar esses condicionantes todos. Pode acontecer como no leilão dos 700 MHz, de 2014, em que um lote ficou vago”, lembra.

Ele não acredita que fundos como o do BTG, que deu um lance pela Infraco da Oi, ou o Digital Colony (por trás da Highline), invistam no espectro. Percepção compartilhada por um analista financeiro que prefere não ter o nome revelado. Para este especialista, os fundos buscam se tornar sócios de empresas com infraestrutura pré-existente. Se comprarem espectro em 3,5 GHz, teriam de erigir o negócio do zero e ainda atender a obrigações.

“Um cenário mais especulativo seria o BTG, e qualquer outro fundo, se aliar a empresas médias, como Algar ou Brisanet, para ter acesso ao espectro. Mas eu diria que essas empresas iriam mais para o lado das licenças regionais”, acrescenta Lopes.

A Algar, lembra um executivo do setor, disputou palmo a palmo a aquisição da Copel Telecom ano passado. O ativo era diferente do espectro nacional, mas mostra que a empresa está capitalizada e pode surpreender.

Menos citada, a Oi também é lembrada. Um dos entrevistados para essa reportagem ressaltou que Rodrigo Abreu falou, em diferentes ocasiões, que a tele mantinha interesse em comprar espectro para uso em banda larga fixa. “A empresa vendeu ativos, renegociou dívida com a Anatel. Pode ser que tenha caixa para comprar uma das faixas nacionais. É difícil, mas não é impossível”, afirma executivo que pede para não ter o nome divulgado.

700 MHz

Lopes, da Omdia, diz que se houver alguém entrando no mercado, será pela faixa de 700 MHz. A seu ver, a Highline poderia ser uma das surpresas aí. A empresa cogitou comprar a operação móvel da Oi ano passado, mas desistiu após oferta superior do consórcio criado por Claro, TIM e Vivo.

A tentativa repercutiu mal, no entanto, entre aqueles que seriam seus potenciais clientes: as grandes operadoras. Isso levou a uma revisão dos planos, e fez com que executivos da Highline deixassem claro que o interesse é ser suporte para a expansão das teles, jamais concorrente, e que isso é inclusive mandato do fundo Digital Colony.

Ainda assim, executivos das operadoras não descartam que o Digital Colony compre espectro. Isso seria possível de forma coordenada com uma operadora, que seria já a cliente âncora dessa frequência. Embora não pareça mais a prioridade, o fundo tem dado pistas às operadoras locais de que está disposto a investir no Brasil, desde que tenha parceiros para tanto.

Uma fonte das operadoras também acha que, se houver surpresa, será nos 700 MHz. Poderiam aparecer BTG, Winity (nova empresa de telecom do Pátria Investimentos) e os maiores ISPs. Outro executivo também acha possível que BTG entre na disputa, a fim de entregar conectividade móvel para fintechs e serviços de pagamento (IoT), por exemplo.

Eduardo Tude, da Teleco, ressalta que havendo alguém capitalizado com planos de expandir para o mercado móvel com cobertura nacional, deverá apresentar seu lance pelos 700 MHz. “É uma frequência importante para quem quer lançar um 5G regional”, resume.

Por fim, ele ressalta que as faixa de 2,3 GHz e de ondas milimétricas são ainda incógnitas. “Não está claro quem tem interesse. Por enquanto é de se imaginar que sejam as grandes, mas vai depender muito do preço”, conclui o consultor.

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Rafael Bucco

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