Operadoras regionais otimizam investimentos

Investir por projeto ou compartilhar Capex são alternativas apontadas por Eletronet e Acessoline Telecom para manter crescimento de receitas, mesmo com queda nos preços por banda. As duas operadoras concordam que a adoção de soluções da Ciena reduzem os custos por bit.

Os provedores e operadores regionais vivem um cenário complexo. O consumo de banda tem crescido exponencialmente desde 2020 devido às mudanças de hábitos provocadas pela pandemia. Os operadores têm dado respostas a esse incremento e buscado alternativas para expansão das redes, a fim de estar cada vez mais presentes e prestar mais serviços a seus clientes.

“É preciso oferecer uma boa experiência de banda larga, incluindo todo tipo de acesso, como WiFi residencial e os investimentos a ele associados. Além disso, há o aumento da competição, como com o acesso fixo-móvel. Mas talvez o maior desafio de negócio seja a necessidade de correr muito para ficar no mesmo lugar com a contínua queda de preços. Os provedores têm de entregar cada vez mais capacidade pelo mesmo preço, pois o cliente dificilmente vai pagar mais por upgrades”, diz Francisco Sant’Anna, líder global de Marketing para o Segmento de Provedores Regionais da Ciena.

A Eletronet defende o uso inteligente dos investimentos. A empresa opera há mais de 20 anos no mercado de atacado, com uma rede de mais de 17 mil quilômetros em 18 estados, e é focada em serviços de alta disponibilidade para operadoras e provedores. Cassio Lehmann, diretor Comercial da Eletronet, diz que o desafio de crescimento da receita é constante e só é possível ser vencido por meio da venda de mais capacidade.  Mas nem sempre esse crescimento é sustentável, pois, quando se entrega muita capacidade, o efeito sobre o Capex pode impactar o EBTDA da empresa.

Sendo assim, reduzir Capex de forma inteligente é a melhor estratégia. Lehmann diz que, atualmente, há ainda o impacto do câmbio, mas essa é uma variável sobre a qual os provedores não têm controle. Segundo Lehmann, a Eletronet vendeu 5 Terabits de capacidade em 2020, e seus principais pilares para ser competitiva e aumentar receitas de forma saudável, é usar o Capex com inteligência, investindo conforme a necessidade.

“Toda venda é baseada em projeto, o que faz com que 95% de nossa rede fique ocupada. Além disso, estamos trocando todos os equipamentos e modernizando a rede com produtos Ciena, com um salto de tecnologia. Numa rota São Paulo-Porto Alegre, gastávamos 12 transponders. Hoje gastamos quatro, sendo mais competitivos em escalabilidade e banda e mais efetivos em custos. Não estamos sozinhos, o papel do fornecedor é importante para nos permitir ter acesso a novas tecnologias, novas ideias, equipamentos com mais capacidade e escala, e melhores condições de financiamento”, diz o executivo.

Rafaela Werlang, líder de Engenharia Comercial da Ciena, diz que a melhor solução para os provedores é baixar o custo do megabit. “A modernização da rede permite que o provedor passe mais tráfego com menos hardware e transponders, e com um custo por bit menor”, completa. Sant’Anna destaca que os vendors também precisam investir fortemente para gerar inovações e, no caso da Ciena, a empresa desenvolveu plataformas ópticas que permitem ampliar a capacidade em até 800 Gbps por comprimento de onda, para extrair mais valor das fibras. Essa luta gera não só inovações tecnológicas, mas também novos modelos de negócio.

Parcerias

Um exemplo é a Acessoline Telecom, que atende aos mercados corporativo, de governo, de atacado e residencial. A empresa tem inovado no modelo de parcerias para otimizar Capex, investindo com outros provedores para adquirir plataformas mais robustas, operar com mais escala e reduzir custos.

A ALT iniciou operações em 2011, em Santa Catarina, e tem crescido aceleradamente com o backbone regional presente no Rio Grande do Sul, em Santa Cataria e Paraná, conseguindo estender para São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A empresa também opera uma rede por meio de parceira no Mato Grosso do Sul.  Gilmar Balbinot, diretor de Operações e Relacionamento da ALT, diz que o segredo de tamanha expansão de uma operadora regional é a possibilidade de compartilhar infraestrutura. Nos últimos dez anos de operação, a prestadora amadureceu diferentes modelos de negócios e contratos, que viabilizaram acordos de compartilhamento via swap de fibra óptica, swap de capacidade, troca de canais DWDM como infraestrutura e acordos de construção conjunta de redes de longa distância via consórcio. Além desses modelos mais conhecidos, a empresa também usou modelos menos conservadores, como iluminação conjunta de backbone e matriz de tráfego compartilhado.

“Na rota São Paulo-Rio de Janeiro, tínhamos a fibra e os sites, mas não tínhamos o Capex para a camada óptica para uma estrutura de transmissão que possibilitasse a implantação de matriz de tráfego de alta capacidade. Buscamos na região outros parceiros que tinham a mesma demanda e fizemos uma composição em que entramos com a fibra e os sites e o parceiro fez o investimento na camada óptica. Passamos a ter 40 canais de implantação de transponder de alta capacidade, 20 para cada um”, explica Balbinot.

A empresa também fez investimentos compartilhados em matriz de tráfego que permitissem o maior volume de banda por canal. Balbinot explica que alguns projetos de TCI que se autoajustam de 100 a 400 Gigabit por banda exigem Capex elevado para ser implantado imediatamenteo (D-0). Mas, nas mesmas rotas, alguns parceiros tinham a mesma demanda.  Assim, a ALT fez a aquisição de três equipamentos, e o parceiro, também três. Construíram um anel óptico ligando São Paulo, Pouso Alegre e Belo Horizonte, Juiz de Fora e Rio de Janeiro, voltando a São Paulo. Trata-se de um anel de 200 gigabit de banda em que a porta cliente foi dividida entre os parceiros.

“Conseguimos fazer o investimento com a melhor tecnologia, e o Capex ficou pela metade. No próximo investimento, as duas empresas farão novamente três caixas, e cada uma ficará com seu anel de 200 GB de banda. Assim teremos possibilidades futuras de fazer a redução dos enlaces, inserindo caixas no meio de cada trecho, diminuindo a distância e obtendo uma melhor relação sinal-ruído. Com isso, garantimos que o investimento seja, de fato, de longo prazo”, destaca Balbinot.

Francisco Sant’Anna observa que, embora uma rota de 100 Gigabit custe pouco mais que uma de 10, não adianta investir em alta capacidade de banda se não há como escoá-la no mercado para monetizar o investimento. Assim, são cada vez mais comuns ofertas de atacado, mesmo por parte de provedores residenciais. Lehmann observa que a Eletronet é uma operadora de atacado e cresce nos mercados onde há expansão de internet. Mas não briga pelo mercado das capitais, e sim do interior, onde estão a demanda dos provedores regionais e maior crescimento. O objetivo é estar onde é preciso, com entrega de alta qualidade de SLA e maior escalabilidade.

“Com os últimos projetos de modernização, estamos prontos para entregar 88 Terabit e preparados para suportar 5G. Temos dois produtos que o mercado quer: transporte para as operadoras – de onde vêm 95% das receitas – e o IP voltado para ISP, que foi lançado há três anos e é um sucesso. Mas não adianta ter tudo isso se o preço não for competitivo. Não temos o melhor preço, mas temos o melhor custo-benefício”, diz Lehmann.

A ALT também tem experiência no mercado de atacado devido às estratégias de troca de infraestrutura. Gilmar Balbinot explica que a operação multimercado da empresa – corporativo, residencial, governo e atacado – é vital para o faturamento da empresa. No mercado de atacado, a operadora se destaca quando entrega o serviço o mais próximo possível do cliente. “A estratégia de crescimento tem uma premissa comercial, mas ela não é determinante. O backbone São Paulo-Rio de Janeiro- Belo Horizonte, não foi implantado para a empresa competir nesses mercados, e sim para se conectar aos principais geradores de tráfego e aos datacenters, aonde chegam grandes geradores de conteúdo. Com isso, conseguimos reduzir nosso Opex”, explica Balbinot.

Rafaela Werlang diz que é fundamental conciliar a redução de custos de rede com qualidade para garantir a sustentabilidade do provedor no longo prazo. O conceito-chave é não pensar na rede como um investimento que se faz imediatamente. “Precisamos pensar no TCO ( total cost of ownership), no crescimento e no prazo em que o equipamento vai funcionar. Quando se pensa apenas no valor inicial do investimento, o ímpeto é pagar pelo mais barato. Mas muita gente que vai por esse caminho acaba se arrependendo ao ver os competidores com custos inferiores no longo prazo. É importante pensar no custo por megabit e no crescimento, compreendendo que o hardware vai servir à rede por vários anos”, recomenda ela.

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Da Redação

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