Onde investir em julho: A previsão do tempo dos seus investimentos

Para os investimentos em renda fixa, o clima segue tropical, com o cenário que ainda é de alta da taxa Selic. Risco fiscal faz a bolsa sofrer.
Onde investir em julho: A previsão do tempo dos seus investimentos - Crédito: Freepik
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Paula Zogbi*

Chegamos em julho! Após uma metade de ano bastante agitada, está na hora de revisitar sua carteira e prepará-la para o que vem pela frente. Confira nossas recomendações de alocação para sua carteira no mês de julho e os principais pontos para ficar de olho nos seus investimentos. Começamos com a nossa tradicional previsão do tempo para cada classe de ativos.

Você compra guarda-chuva em dia de sol ou deixa para o momento de desespero? Quando vai à praia, passa filtro solar antes ou depois de sentir o ombro ardido?

Investir bem é como se precaver de mudanças bruscas no tempo, sempre de olho na previsão antes de sair de casa ou fazer planos ao ar livre. Nesse conteúdo, trazemos a meteorologia para as principais classes de investimento disponíveis no mercado e a nossa dose recomendada para todas elas para o próximo mês. Assim, evitamos que uma frente fria pegue a sua carteira desprevenida ou que você não planeje um dia de praia para aproveitar a próxima massa de ar quente.

Renda Fixa, Tesouro e seus amigos: sol a pino

Para os investimentos em renda fixa, o clima segue tropical, com o cenário que ainda é de alta da taxa Selic. Isso porque juros mais altos levam os títulos de renda fixa a apresentarem melhores retornos ao investidor.

Os títulos atrelados ao IPCA (os famosos IPCA +) ajudam a proteger o seu patrimônio da maior “frente fria” do momento, por acompanharem a alta de preços medida por esse indicador. Já os títulos atrelados ao CDI ou à Selic se beneficiam da alta da taxa básica de juros, elevando a rentabilidade da sua reserva de emergência e do seu “caixa” – aquele dinheiro que você deixa rendendo em liquidez para aproveitar oportunidades de investimento.

Mas lembre-se de coordenar o prazo do seu investimento com o vencimento do título, se for optar por títulos prefixados ou atrelados à inflação, uma vez que o preço desses títulos irá variar conforme movimentos de mercado. Explicamos essa dinâmica nesse vídeo.

Bolsa brasileira: sol entre nuvens

Com preços ainda descontados, a bolsa brasileira segue atrativa. Apesar do cenário menos favorável para alguns segmentos no curto prazo, nossas ações seguem relativamente baratas, especialmente quando comparadas às ações de empresas de outros países emergentes ou mesmo ao nosso histórico.

Esse raio de sol ainda se esgueira entre algumas nuvens, na forma de: aumento de aversão ao risco global; alta de juros nos Estados Unidos; aproximação das eleições e risco fiscal por aqui; inflação pressionada; queda do fluxo de capital estrangeiro; risco de desaceleração global; entre outras. Quem nunca olhou pra cima e viu uma nuvem com o mesmo formato de um fluxo negativo de capital, certo? Ninguém??

Visto que as preocupações de curto prazo podem fechar o tempo para investimentos de maior volatilidade, recomendamos posições mais defensivas e menos dependentes de ciclos de crescimento econômico, como empresas do setor elétrico, saneamento e consumo essencial. Você pode conferir na nossa carteira recomenda aqui. Caso você prefira delegar essa tarefa, fundos de investimento em ações podem ser uma boa opção.

Como nossas recomendações levam em conta não somente o presente, mas também perspectivas sobre o futuro, seguimos otimistas com o potencial desse investimento longo prazo, aumentando levemente a exposição à bolsa brasileira este mês para perfis com horizonte de investimento mais longo através de fundos multimercado.

Bolsa estrangeira: Tempo nublado

Sabemos que a elevação de juros, normalmente, leva a duas coisas: i) freio na atividade econômica; e ii) redução do preço considerado justo para ações, especialmente de empresas com grande parte do seu crescimento esperado no futuro. O recente movimento de alta de juros nos EUA trouxe uma frente fria para as bolsas estrangeiras.

Por outro lado, a consequente queda no preço das ações trouxe a principal bolsa americana de volta ao patamar histórico de acordo com o famoso “P/L (Preço/Lucro)” – medida que identifica o preço das ações em relação ao seu lucro esperado. Em outras palavras, a bolsa americana ficou mais barata.

Assim, o momento atual pode representar um bom ponto de entrada para o investidor que ainda não possui exposição ao mercado internacional. Porém esse movimento deve ser feito com cautela, já que a incerteza atual deve seguir presente, trazendo possíveis novas ondas de reprecificação de ativos, principalmente se riscos de recessão aumentarem mais.

Lembrando que mantemos nossa recomendação de parte do patrimônio em investimentos internacionais para quase todos os perfis de investidor. Se realizados em moeda estrangeira (dólar ou euro), podem ajudar a proteger sua carteira em momentos de grandes incertezas globais; dão acesso a investimentos em setores que muitas vezes não existem por aqui; além de proteger seus investimentos contra eventos puramente domésticos, como eleições.

Renda fixa internacional: Sol entre nuvens

O processo em curso de alta de juros no mundo (de novo ele!) vem aumentando a atratividade da renda fixa internacional. Com uma dinâmica bem diferente dos ativos brasileiros, a renda fixa internacional além de incluir muito mais opções de ativos, possui maior liquidez e estratégias que podem ser exploradas por grandes gestores de fundos de investimento.

Assim, diante de movimentos de mercado favoráveis, estamos em um bom momento para ir adicionando esse tipo investimento em sua carteira (com cautela, dado o cenário ainda turbulento) – lembrando sempre de respeitar o percentual indicado para seu perfil de investidor, e o horizonte de investimento mais longos.

Por trás das recomendações: tudo o que rolou em junho

Os principais temas por trás dos movimentos de mercados ao redor do mundo, e das nossas recomendações de investimento descritas acima, seguem dois velhos conhecidos de nós, brasileiros, mas nem tanto do mundo desenvolvido: a inflação alta e os juros em elevação.

O agravante do mês que dá início à segunda metade do ano se tornou a crescente expectativa de uma desaceleração da economia global, com destaque para os Estados Unidos. Como contamos nesse texto, a maior economia do mundo começa a mostrar sinais de perda de fôlego e se direciona a uma possível recessão, impulsionada pela maior inflação em 40 anos e pela alta de juros implementada pelo Banco Central.

Afinal, juros mais altos têm o objetivo de frear a inflação, mas o efeito colateral é um freio na própria economia.

Na mesma direção, o restante do mundo desenvolvido também sobe os juros na luta contra a inflação que teima se recusa a cair (ainda refletindo desequilíbrios fruto da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia), impactando a confiança de consumidores, produtores e investidores.

Enquanto isso, a China começa a relaxar medidas de restrição contra a covid-19, após dois meses lockdowns. Mas o caminho da recuperação não será fácil, mesmo com estímulos do governo, e o gigante asiático deve crescer menos do que o previsto nesse ano – levando consigo parte da demanda global. Afinal, uma China que cresce menos consome menos, impactando a demanda por insumos básicos, como minério de ferro e alimentos. Assim, começamos a ver uma queda inicial do preço de algumas commodities no mercado global.

Por aqui vamos bem, mas risco fiscal volta com força

Apesar de também sofrermos com inflação e juros em alta, o cenário doméstico segue relativamente positivo no curto prazo. Na primeira metade desse ano, nossa economia foi impulsionada por uma combinação de: termos iniciado a alta de juros antes de boa parte do mundo (com a taxa Selic rumado os 13,75% ao ano em agosto); preços de commodities ainda altos; normalização de serviços após o fim das restrições contra a covid-19; estímulos do governo (liberação do FGTS e antecipação de benefícios para aposentados); e melhora no mercado de trabalho.

Mas, como nem tudo são rosas, junho foi marcado pelo retorno de mais um velho conhecido dos brasileiros: o risco fiscal. Sabendo que a situação positiva não deve durar muito tempo, com o crédito mais caro logo sendo sentido no dia a dia das famílias, assim como o fim dos estímulos “extras” e da reabertura do país, a classe política decidiu pelo aumento de gastos.

Assim, o “vai e vem” em Brasília sobre exceções às regras fiscais para acomodar maiores gastos, como o aumento do Auxílio-Brasil e de benefícios a caminhoneiros, reacenderam a luz amarela sobre as nossas contas públicas no longo prazo. Afinal, gastos adicionais precisam ser pagos – com mais dívida, impostos ou mais dinheiro (inflação!).

Essa piora de percepção de risco contribuiu para o real voltar a figurar entre as piores moedas emergentes, as expectativas sobre o patamar dos juros no futuro subirem (impactando títulos de renda fixa), e a bolsa sofrer.

 

*Paula Zogbi é analista da Rico Investimentos

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Redação DMI

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