Ocupação do espaço e lixo espacial preocupam setor satelital

Executivos de empresas e da Agência Espacial Brasileira apontam ausência de gestão do lixo espacial e avanço de empresas ante o vácuo regulamentar
Mauro Wajnberg, Erica Rosetto, Bruno Henriques, Fábio Alencar, Oscar Delgado e Rodrigo Leonardi em painel sobre o setor de satélites na Futurecom 2022, que debate o excesso de lixo espacial

A proliferação dos satélites de baixa órbita vai multiplicar não apenas a oferta de serviços de conectividade em áreas remotas do mundo, como também vai colocar em risco as redes especiais devido à quantidade de lixo espacial. O alerta veio de representantes do setor satelital brasileiro, que participaram de painel nesta terça-feira, 18, durante a Futurecom 2022.

Para Erika Rosetto, Gerente de Dinâmica Orbital da Embratel Star One e diretora da entidade Space Data Association, a situação se torna cada ano mais crítica.

“Tem muitas empresas lançando satélites atualmente. A FCC [regulador dos Estados Unidos] baixo regras para que não se tenha tantos objetos vagando no espaço depois de desativados, mas a tendência é de aumento. A tendência é esta, ter medidas mais restritivas sobre o uso do espaço, pois é um recurso limitado”, falou.

A seu ver, os países precisa trabalhar em conjunto e harmonia para chegar a uma equação de sustentabilidade. Ela descarta que a própria indústria seja capaz de solucionar o problema sozinha.

“Não acho que a autorregulação é suficiente por causa da quantidade de empresas surgindo. As agência vão ter que fazer esse papel de regular”, cravou.

Rodrigo Leonardi, Coordenador de Satélites e Aplicações Agência Espacial Brasileira, tem posição semelhante.

“Sou cético com a autorregulação pq tem questões geopolíticas, questões relacionadas à defesa, e vai ser difícil achar solução que atenda a todos sem negociação internacional. É preciso diálogo nas nações unidas”, falou.

Ele vê reguladores locais tomando a frente, mas diz que isso não basta. “A proposta da FCC de retirada dos satélites desativados em cinco anos, no máximo, vai mitigar a proliferação do lixo espacial, mas não vai resolver. Mas e a China, como entra nisso? E a Rússia? A Índia? As empresas de cada país têm suas diretrizes”, observa.

Leonardi afirma que há órbitas baixas já ficando saturadas. “Logo os países vão perceber que sem uma negociação internacional, sairão prejudicados. O Brasil não ocupa essas posições, mas consome os serviços e pode se apresentar para intermediar as conversas entre as nações”, acrescentou.

Ele critica a falta de gestão do lixo espacial, e diz que, apesar de ser uma ameaça, nenhuma empresa vai deixar planos de lançamento de lado. “A quantidade de debris [destroços] de cerca de 10 cm já ultrapassa os milhões. Tivemos país destruindo satélite com armamento para demonstrar por bélico. Então o que existe hoje é um faroeste espacial”, observou.

Mauro Wajnberg, presidente da Abrasat, afirmou que o mercado também pode agir em alguns casos, e citou o exemplo de empresas que já nascem com o objetivo de capturar e retirar lixo espacial da órbita terrestre.

Para o VP de desenvolvimento corporativo da SES na América Latina, Fábio Alencar, contar com a regulação governamental é um problema. “A velocidade de tomada de decisão do governo é muito menor que a do mercado. Um conjunto de governos, então, na ONU, tomando decisão, é mais difícil ainda. Temo que seremos atropelados pelo mercado, pelos EUA, pela China, e tendo uma regra imposta pelo fato, e não a regra mais justa e igualitária”, falou.

Vale lembrar que o Brasil levou à UIT recentemente proposta para o organismo estudar a sustentabilidade do setor espacial diante do lançamento vertiginoso de novos satélites não-geoestacionários. Os resultados dos estudos devem ser apresentados no final de 2023, na Conferência Mundial do Rádio.

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Rafael Bucco

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