Mais próximos da saturação, ISPs terão de agregar novos serviços

Operadoras regionais já procuram envolver seus clientes com serviços ponta a ponta e a tendência é de que aumentem as ofertas de combos e novas aplicações
Novos serviços podem ser a saída para os ISPs
O 5G pode ser um competidor efetivo à friba em cidades com menos de 100 mil habitantes, dizem os executivos. Crédito-Tele.Síntese

Ainda é cedo para dizer se os ISPs estão alcançando a saturação do mercado pois, algumas situações, como a antecipação de demanda por internet durante a pandemia, ainda são uma incógnita, mas o esgotamento de novos assinantes pode estar mais próximo do que se imagina. Esse é o momento de todos fazerem a lição de casa e se prepararem para novos desafios, como o de ampliar o conteúdo de novos serviços agregados e também estarem prontos legalmente e administrativamente para a oferta de fibra que permita a expansão do 5G.

Essa é uma das principais conclusões do debate realizado hoje, 22,  entre Eduardo Neger, presidente da Abranet (Associação Brasileira de Internet) e Gabriel Cardoso, sócio da IT Investimentos. Eles participaram da Live Tele.Síntese 5G e Banda Larga Fixa, Impactos. Para eles, se o mercado de banda larga fixa começa a dar sinais de esgotamento, não será o uso da tecnologia 5G para a oferta desse serviço que ampliará o escopo. Mas ela poderá ser útil para os ISPs de outras formas.

Na avaliação de Neger, quando se fala que as operadoras competitivas ocuparam 40% do mercado de acesso à Internet é bom lembrar que não está se tratando de um bloco homogêneo, pelo contrário. “Estamos falando de um ecossistema heterogêneo, com alguns pontos de preocupação como a perda de poder aquisitivo da população e regiões nas quais normalmente os auxílios públicos à população têm reflexos na compra de assinaturas banda larga”, disse. Boa parte das operadoras tende a reprimir o otimismo quanto à expansão do mercado, afirmou, mas considerou que ainda é cedo para dizer se é uma tendência de mercado ou movimento passageiro. “Algumas regiões podem ter perspectivas de crescimento enquanto outras não, precisaremos de alguns meses para analisar essa movimentação”, completou.

Inadimplência

Na avaliação de Cardoso, não há um motivo único que possa influenciar a retração, ou não, do mercado de ISPs. “Todo mercado tem seu topo e durante a pandemia tivemos um crescimento muito maior do que outros anos, então em 2020 e 2021 provavelmente tivemos a antecipação da demanda que viria em 2022, 2023.”, ressaltou. Ele também lembrou que a inadimplência  cresceu e hoje está na faixa de 7% a 10%, considerando todas as regiões.

Cardoso também concorda que esse é um mercado que precisa ser analisado por contextos regionais que possuem comportamentos diferentes. “São Paulo, por exemplo, pode estar próximo do teto mas outros estados, como Maranhão,  podem estar na mesma situação que São Paulo estava há alguns anos”, completou.  Ele considera que, para esse cenário, o uso do 5G como banda larga fixa ou outra tecnologia não fará muita diferença, a não ser que os preços sejam extremamente competitivos.

Da mesma forma, a chegada do 5G terá impactos diferenciados de região para região. Para ele, será uma tecnologia complementar nas grandes cidades e também pode concorrer com a banda larga fixa por fibra óptica, na capacidade de 500 Mega e 600 Mega em cidades com 100 mil habitantes ou menores.  Cardoso ainda lembrou que muitas operadoras já estão preocupadas em concentrar serviços na casa do cliente, cobrir todas suas necessidades, para evitar perdas para uma futura concorrência.

“As operadoras regionais terão de fazer a lição de casa nas interfaces aéreas e com o usuário, fechando as pontas”, afirmou Neder. Ele lembrou que houve uma grande expansão no uso de WiFi e com a chegada do WiFi 6, o operador conseguirá prestar o mesmo serviço daquele que usa a tecnologia 5G. Ao mesmo tempo, a expansão do 5G vai enfrentar problemas burocráticos, muitas vezes ambientais, para conseguir licenças em todo o país, a exemplo do que já aconteceu com a plataformas móveis anteriores. “Não dá para ter um licenciamento complicado. Temos problemas que não serão resolvidos pela tecnologia, seja ela qual for”, ressaltou.

Quando o cenário fica mais competitivo, os ISPs podem agregar novos serviços e garantir sua diferenciação perante a concorrência pode ser a medida certa. “Cada um, à sua forma, já está buscando essa diferenciação”, disse Neder. Para Cardoso, agregar mais serviços será importante e ele  lembra que há dinheiro disponível para esse mercado, mesmo com os juros mais altos.

Nenhum dos dois executivos acredita que haverá sobreposição de fibra com chegada da interface do 5G em cidades já fibradas. Esse compartilhamento poderá se tornar um negócio para algumas ISPs , numa atuação próxima a redes neutras. “Apenas três redes neutras em todo o país pode ser pouco, talvez surjam algumas regionais”, avaliou Cardoso.

Entre os novos serviços, os ISPs  têm acordado para o  MVNO (operadora móvel virtual) mas essa opção  não chega a entusiasmar Neger, que disse que as empresas que optaram por essa iniciativa não estão muito satisfeitas com a rentabilidade do serviço em si, mas precisam ter a oferta para manter seus clientes.

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Wanise Ferreira

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