Liquidação do Ceitec é discutida em audiência sem apoio do governo

Representantes do MCTI disseram que decisão para fechamento da fábrica foi tomada em cenário diferente do atual, de escassez de semicondutores
Crédito: Agência Câmara
Crédito: Agência Câmara

Em audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, nesta quinta-feira, 14, representantes do governo falaram do processo, mas não defenderam a liquidação do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec). A análise sobre o  fechamento da indústria está parada desde setembro do ano passado, por decisão cautelar do Tribunal de Contas da União (TCU).

O diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação Digital, do MCTI, Henrique Miguel, afirmou que coube ao ministério selecionar uma organização social que ficará responsável por parte dos processos da fábrica de chips. Ele disse que esse processo foi iniciado, identificada a Softex como a OS, mas o processo foi suspenso à espera da decisão da Corte de Contas.

Miguel, entretanto, ressaltou que o cenário atual é muito diferente do de quando foi tomada a decisão de liquidar o Ceitec. “A pandemia do Covid e a guerra na Ucrânia, problemas de transporte de insumos da China e demais países da Ásia, em 2020 e principalmente em 2021, causaram impactos na indústria automobilística, resultando na queda da produção global por falta de chips”, disse.

Segundo Miguel, em função dessa dificuldade, o mundo começou a incentivar a atração de fábricas de semicondutores. “Como resultado, já existem 29 novas fábricas programadas para 2022 e 2023, sendo 8 em Taiwan, 8 na China, 2 nos EUA, 2 na Alemanha, 2 na Coreia do Sul, com investimentos de 28 bilhões de dólares e faturamento de 1 trilhão de dólares em 2030”, disse. Só os subsídios dos EUA para semicondutores aprovados chegam a US$ 51 bilhões, informou.

Para o Brasil, Miguel defende a ampliação da cadeia de valor de semicondutores, fortalecendo as design houses, diversificando o back-end e atraindo investimentos em front-end. “É preciso construir um ecossistema favorável para implantação e operação dessa indústria”, disse.

O diretor de Governança e Avaliação de Estatais do Ministério da Economia, Francisco de Sena Júnior, também não falou sobre a decisão de desestatização do Ceitec, mas do processo que estava em curso, como a nomeação do liquidante e as providências que haviam sido tomadas até a suspensão da liquidação decidida pelo governo.

América Latina

O presidente da Associação dos Colaboradores do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Aceitec) e engenheiro da empresa, Sílvio Luís Santo Júnior, acredita que a liquidação da companhia foi decidida sem que o governo tivesse a compreensão do que ela representa. “São 1,2 mil metros quadrados de sala limpa classe 100 e 1,8 mil metros quadrados de sala limpa classe 1000, ou seja, a única infraestrutura do tipo na América Latina, e está funcionando e é produtiva”, disse.

Sílvio Luís disse que desde 2016 o Ceitec sofre por falta de recursos, o que fez a equipe de fábrica buscar a diversificação de atuação na área de processos de forma a incluir desenvolvimento de processos em setores chaves, como sensores, microfluídica, micromáquinas, optoeletrônica e fotônica, além de promover estudos no back-end avançado (grande chip com pequenos chips entorno). Um desses produtos é o sensor da Covid, sondas intracranianas e o PCR (teste da Covid).

O ex-secretário estadual de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul e professor da PUC, Adão Villaverde, também defendeu a manutenção da empresa de chip. “Liquidar o Ceitec é tirar o Brasil do grupo de países que constrói semicondutores, onde o mundo vê como grande saída de desenvolvimento”, disse.

O deputado Merlong Solano (PT-PI), autor do requerimento para a realização da audiência pública, disse que a liquidação do Ceitec deveria interessar mais o parlamento, a academia, os empresários do que só os funcionários da empresa. “Essa Casa deveria buscar o Tribunal de Contas da União para estimular uma decisão favorável à empresa”, afirmou.

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Lúcia Berbert

Lúcia Berbert, com mais de 30 anos de experiência no jornalismo, é repórter do TeleSíntese. Ama cachorros.

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