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Anuário TeleSíntese

IoT deixou de ser só uma promessa

Ainda há resistência ao desconhecido, mas projetos importantes de Internet das Coisas estão em desenvolvimento no país. Foi dada a largada e as operadoras integram o movimento.

O Tele.Síntese está publicando periodicamente os textos do Anuário Tele.Síntese de Inovação 2018, publicado pela Momento Editorial no último trimestre do ano. Confirma, abaixo, mais uma das reportagens sobre os rumos das inovações no setor de telecomunicações.

IoT deixou de ser só uma promessa

Pro Wanise Ferreira e Lia Ribeiro Dias

Celebrada por muitos, discutida por outros, objeto de política governamental, a Internet das Coisas (IoT) começa a ganhar uma nova feição a partir de aplicações relevantes. Para explorar seu
potencial, as operadoras de telecomunicações arregaçaram as mangas e saíram em busca de mercados de interesse para se juntar a pilotos e testes que envolvem a plataforma. É o momento
de “pegar o bonde”, para não ser atropelado posteriormente por ele. Afinal, trata-se de um conjunto de tecnologias – dispositivos, redes de comunicação e sistemas de controle – que já começa
a mudar a forma como as pessoas vivem dentro e fora de suas casas, como trabalham, como se relacionam umas com as outras e com os objetos, com a cidade. Um conjunto de tecnologias que está revolucionando a forma de produzir nas fábricas e no campo.

Os números envolvendo IoT continuam otimistas e grandiosos – às vezes desencontrados –, mesmo diante de um mercado altamente fragmentado. Para o IDC, este ano a tecnologia vai  movimentar R$ 26 bilhões no Brasil. Para o BNDES, o benefício esperado para o país com a plataforma pode chegar a até R$ 200 bilhões em 2025 em quatro verticais: campo, cidades, indústria e saúde. No ano passado, a Frost & Sullivan previa que seriam alcançadas em 2021 receitas de US$ 3,39 bilhões.

A disposição de investimentos por parte da iniciativa privada parece crescer. Pela primeira vez, o IoT Barometer, realizado há cinco anos pela Vodafone, teve um capítulo especial sobre o
mercado brasileiro. E 82% dos entrevistados afirmaram que o uso de soluções IoT cresceu nos últimos 12 meses em suas empresas. Em termos de conectividade, o levantamento da Vodafone mostrou que 40% dos entrevistados estão considerando o uso de tecnologias móveis de última geração, como o 5G. Esse percentual está, inclusive, acima da média mundial de 36%. Já 27% apostam no uso de tecnologias de rede de baixa potência (LP-WAN), como Narrow band-IoT (NB-loT), índice também acima da média global de 23%.

Financiamento público

Para fomentar o desenvolvimento do ecossistema de IoT, o BNDES, depois de financiar o estudo que deu origem ao Plano Nacional de IoT, lançou um programa para financiamento
de 20 projetos de consórcios para as verticais de agronegócios, saúde e cidades inteligentes. Cada projeto vai receber financiamento de R$ 1 milhão a fundo perdido, tendo que aportar igual
quantidade de recursos. A seleção dos projetos seria realizada em setembro deste ano e 15 institutos se apresentaram para liderar os projetos, que tinham que envolver a indústria de tecnologia,
startups e usuários.

De acordo com Ricardo Rivera, chefe do Departamento para Financiamento das Indústrias de TIC do banco, entre os objetivos do desenvolvimento desses projetos estão fomentar a
oferta e a demanda de IoT, ajudar a qualificar os gestores das empresas usuárias (eles têm pouca intimidade com a IoT e têm uma série de temores em relação ao emprego da tecnologia)
e criar modelos de negócios que possam ser replicados.

Além dessa chamada específica para IoT, Rivera lembra que o BNDES conta com linhas de financiamento, de seu portfólio tradicional, que podem apoiar projetos de IoT como Cartão
BNDES (produtor e comprador), BNDES Finame (produtor e comprador), BNDES Finem Inovação e Investimento e BNDES Giro. No momento, diz ele, o banco está aperfeiçoando seus
mecanismos para dar maior apoio à IoT, como o desenvolvimento de uma linha para compra de solução de IoT de prateleira (hoje, há financiamento para compra de hardware, de software,
de solução sob encomenda, mas não para solução de prateleira).

Outras medidas que podem beneficiar empresas investidoras em IoT são a redução para operações diretas do Finem de R$ 20 milhões para R$ 10 milhões; um novo produto para empresas
da Economia do Conhecimento, com faturamento entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões; e um Fundo Garantidor de Investimento para operações diretas, no momento só disponível para operações
indiretas para PMEs de até R$ 3 milhões.

Com uma receita bruta da ordem de R$ 535 bilhões e respondendo por 23,5% do PIB brasileiro em 2017, o setor de agronegócios tem se movimentado bastante na área de IoT. E não é para menos.
Para o BNDES, a expectativa é de que a produção agrícola possa ser aumentada em 49 milhões de toneladas até 2030 com o uso de ferramentas da Internet das Coisas. Para quem vem buscado incessantemente esse cenário sem precisar expandir o equivalente em áreas plantadas, a plataforma se torna cada vez mais sedutora.

Mas como os projetos de IoT não podem avançar sem redes de comunicação, o campo brasileiro, carente de cobertura de telecomunicações, passou a ser objeto de interesse por parte das operadoras. As tradicionais celulares estão fazendo pilotos em frequências mais baixas, que permitem grandes coberturas por estação radiobase. Empresas como a fabricante Trópico usam redes privativas na tecnologia 4 G na faixa de 250 MHz. E WND, com a tecnologia Sigfox, e American Towers, com a tecnologia LoRA, montaram redes em frequência não licenciada para aplicações de IoT. A WND cobriu o estado do Mato Grosso para atender ao agronegócio.

A tecnologia e a ciência não chegaram agora ao mundo agrícola. “É importante dizer que quando você tem o sensor de umidade de solo, por exemplo, quem vai dizer se falta ou não água naquela
plantação são os parâmetros agronômicos. E o Brasil desenvolveu engenharia agrícola e se tornou mundialmente o primeiro em conhecimento de agricultura na faixa tropical”, comenta Sérgio
Barbosa, gerente executivo da EsalqTec, o braço de tecnologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), um dos polos de pesquisa desse mercado que contribuiu para esse acervo.
Ao desenvolvimento da engenharia agrícola vieram se somar os avanços nas tecnologias de sensoriamento, captura e tratamento de dados, comunicações, etc. “Nas nossas primeiras experiências
não tínhamos sensores específicos para agricultura, como hoje. Então, usamos sensores de outras áreas de conhecimento”, comenta Barbosa, lembrando que os sensores são peça-chave na
agricultura, pelo fato de ela ser muito dinâmica e ter várias interações, como solo, planta, irrigação, ambiente e outros componentes.

A criação da EsalqTec, inicialmente para ser apenas um hub de inovação, mudou as características da cidade onde ela está abrigada, Piracicaba, no interior de São Paulo, tornando-a uma comunidade científica voltada para o agronegócios. Em 2016, deacordo com o 1º Censo Agtech Startups Brasil, das 76 agrotechs encontradas, 19 estavam na cidade. Em seus últimos levantamentos, o Censo registrou mais de 150 empresas e acredita-se que 50 delas estejam em Piracicaba. Ao todo, foram 104 projetos apoiados pela EsalqTech, não apenas de startups, como empresas do porte de Tereos, Raízen, Ourofino, entre outras.

Grandes empresas também ajudaram a fomentar o “vale do silício” do interior paulista. A Raízen criou a Pulse, seu hub de inovação, mapeou mais de 400 startups e conta atualmente com 11 pilotos em andamento. Com o patrocínio de companhias como Ourofino, Bayer e John Deere, surgiu ainda a Agtech Garage. Dois investidores, SPVentures e NXTP.labs, instalaram escritórios na cidade. Foi no meio dessa efervescência que duas grandes empresas chegaram a Piracicaba com a proposta de resolver um dos maiores problemas no campo, a conectividade. Vivo e Ericsson se juntaram à EsalqTech e Raízen para realizarem um piloto de IoT na faixa de 450 MHz para cobertura na Usina Costa Pinto, pertencente à Raízen.

No projeto, estão previstas a instalação de duas torres, uma em Piracicaba e outra na própria usina. A da cidade já foi ativada e trouxe resultados acima do esperado, segundo Paulo Bernardocki,
diretor de Produtos e Tecnologia da Ericsson. “O sinal praticamente chegou a Rio Claro, o que dá uma distância de cerca de 15 quilômetros”, observou. A inovação aberta é uma das bases dos projetos desenvolvidos nesse ambiente. Esse é um dos motivos pelos quais haverá uma chamada conjunta para novas startups da Wayra, incubadora do grupo Telefônica, e da Pulse. Também faz parte do objetivo o desenvolvimento de novos aplicativos que atendam às necessidades dos agricultores. “Há uma demanda crescente de soluções no campo, principalmente IoT”, ressalta o presidente da Vivo, Eduardo Navarro. Ele não descarta totalmente o uso da faixa de 700 MHz para essa cobertura. Na sua avaliação as duas frequências podem ser complementares, dependendo do projeto. A plataforma utilizada é a 4G/LTE.

Na opinião de Barbosa, essa disposição de investimentos das operadoras na cobertura no campo, como é o caso do piloto do qual a Esalqtech participa, pode ser revolucionária. “Precisamos democratizar o uso da internet para o produtor rural. O ganho de escala pode ser enorme e proporcionar ao agricultor a possibilidade de comprar um pacote de dados como hoje ele compra para o seu celular”, diz.

Primeiro piloto

Com resultados positivos, chegou ao fim um dos primeiros pilotos do uso de IoT no campo. No projeto, o grupo São Martinho – um dos maiores do setor sucroalcooleiro – investiu perto de
R$ 48 milhões e contou com apoio da Finep. O BNDES participou como agente financiador do CPqD, que desenvolveu a solução LTE baseada na faixa de 250 MHz para levar banda larga para a
Usina São Martinho, em Pradópolis, no interior de São Paulo, uma das quatro do grupo. “Os testes foram encerrados no final do ano passado e a tecnologia funcionou tanto nas torres
quanto nas máquinas e tivemos banda larga capaz de transmitir dados, voz e vídeo do campo para o Centro de Operações Agrícolas”, observa Walter Maccheroni Júnior, assessor de tecnologia
do grupo. Na nova etapa, a Trópico vai fornecer os equipamentos com a tecnologia do CPqD (a fabricante produziu estação radiobase e terminais do piloto) e a expectativa é que na próxima
safra, que começa a ser colhida em abril de 2019, já esteja tudo conectado na usina, que tem 135 mil hectares de cana de açúcar. Em seguida, será a vez do projeto de IoT ser levado para as
outras três usinas.

Os benefícios da implantação da plataforma ficaram bem visíveis para o grupo, que espera ter uma economia de R$ 60 milhões nos próximos anos como resultado dessa implantação.
“Todo dia descobrimos um novo aproveitamento da tecnologia”, ressalta. Maccheroni cita, como exemplo, o controle sobre os 700 veículos da usina, todos agora com o terminal
inteligente veicular. Com o uso de inteligência artificial, o executivo acredita que poderão ser adotadas medidas preditivas no campo. “Com o monitoramento, por exemplo, nós percebemos que uma parte do veículo sinaliza 24 horas antes que o motor vai quebrar. Com isso, já podemos enviar essa máquina para a manutenção”, relata. Segundo Maccheroni, o grupo já se prepara para um futuro onde terá de conviver com veículos autônomos no campo, sejam tratores ou colhedoras, e possivelmente já utilizando a tecnologia 5G. O grupo quer avançar em termos de soluções e já
prepara o seu próprio hub de inovação.

Mas não apenas as faixas de 250 MHz e 450 MHz estão levando a quarta geração de telefonia móvel para o campo. A TIM fechou acordo com a Jalles Machado para garantir a conectividade na
fazenda localizada em Goianésia, no interior de Goiás. Para isso fará a cobertura 4G com a faixa de 750 MHz. Esse é o primeiro projeto para a cobertura no campo, mas a empresa conta com mais
sete que estão em andamento. “Por enquanto, a grande demanda é por comunicação das máquinas no campo com a sede”, comenta Alexandre Dal Forno, Corporate Product Management da
TIM Brasil. Com a conectividade garantida, ele acredita que será o momento de introduzir soluções específicas com IoT e Big Data para a usina.

Indústria 4.0: conexão é a coluna vertebral

Impulsionada principalmente pelo setor automotivo, a indústria é considerada um dos motores para IoT, ou para a IIoT (Industrial Internet of Things), que garante a conexão de dispositivos relacionados à cadeia produtiva e hospedados em nuvem. A IoT se tornou um dos pilares da chamada Indústria 4.0, ao lado de outras tecnologias como cloud, integração de sistemas, robôs autônomos e segurança de dados.

Como o conceito de Indústria 4.0 foi desenvolvido pelo governo alemão para garantir a competitividade de sua indústria frente aos concorrentes asiáticos, é natural que as subsidiárias de multinacionais alemãs estejam entre as empresas mais adiantadas no Brasil na implantação do novo sistema de produção. Bosch, Bayer e Volkswagen são exemplo. O que não quer dizer que não haja grandes empresas nacionais seguindo essa trajetória, como Gerdau e Grupo Suzano.

No entanto, havia expectativa de que a implantação da Indústria 4.0 no país seguisse um ritmo um pouco mais dinâmico. Mas não foi o que aconteceu. “A crise econômica pode ter uma parcela de
responsabilidade, mas há também o choque de realidade. Os industriais se empolgam em avançar, mas quando olham para sua estrutura, o chão de fábrica não está conectado e há baixo nível de
automação. Aí percebem que ainda há muito caminho a percorrer e desanimam”, observa Fábio Fernandes, engenheiro de Aplicações e especialista em Indústria 4.0 do grupo Bosch. A Bosch é um exemplo claro disso. Sua planta industrial no Brasil está conectada às dez outras unidades dessa mesma linha de produção em vários países. Isso permite, por exemplo, que se houver queda de produção em uma dessas unidades, as demais se preparem para compensar o que deixou de ser produzido nesse período.

No entanto, no Brasil a empresa ainda não consegue ter toda a sua cadeia produtiva conectada. “Nós temos de ter um ecossistema ágil, flexível e produtivo. Para isso, estamos puxando os fornecedores para aderirem aos processos automatizados, porque temos um prazo para virarmos nossa planta para a 4.0”, diz Fernandes. Nesse ecossistema, ele inclui fornecedores de equipamentos, transporte, armazenagem, distribuição, até chegar ao cliente final. Na avaliação do executivo, a conectividade é um dos pontos mais importantes nessa trajetória, o que reforça o papel das operadoras de telecomunicações. “Quando falamos de IoT e Indústria 4.0, estamos falando de um grande volume de dados que precisa ser trafegado de um lado para o outro. Essa é a coluna vertebral e as operadoras precisam ser nossas parceiras”, ressalta.

Para isso, são exigidas conexões de fibra óptica e plataformas 4G e 5G de telefonia móvel, na opinião de Fernandes. Ao mesmo tempo que se trata de uma fabricante migrando para a Indústria 4.0, a Bosch também é fornecedora desse mercado. “Estamos nos transformando em uma grande empresa de IoT”, comenta o executivo. Além de ser a maior fabricante mundial de microssensores, a multinacional alemã desenvolveu hardware, softwares e sistemas operacionais, todos testados em suas fábricas, que estão sendo oferecidos ao mercado.

Logística: monitoramento em tempo real

O setor de logística é um dos que têm mais oportunidades de melhorar produtividade e eficiência a partir do uso de IoT. Alguns números já mostram o otimismo em torno desse mercado. Um levantamento feito pela Cisco e pela gigante dessa área, a DHL, aponta que a Internet das Coisas poderá impulsionar esse segmento mundialmente em cerca de US$ 1,9 trilhão nos próximos dez anos.

Os benefícios para esse mercado têm algumas vertentes, como a capacidade de impor mais eficiência na gestão da cadeia de suprimentos, controlar melhor os centros de distribuição até o acompanhamento de suas frotas. No final, o consenso entre especialistas dessa área é de que poderá não só haver aumento da produtividade como uma considerável redução de custos.
O monitoramento e o rastreamento das cargas têm ganhado muitas soluções que tornam esse caminho mais eficiente, seja pelo controle de rotas, com sugestões de caminhos, seja pelo agendamento para busca de material nas empresas, ou mesmo para verificar o cansaço dos motoristas e alertá-los da necessidade de descanso. Os próprios veículos são monitorados para se saber exatamente quando terão de entrar na manutenção ou obter licenças específicas. A White Martins é um dos exemplos de empresa que está investindo em todo o processo, a partir de suas fábricas
até os clientes.

A Logística 4.0, como também passou a ser chamada, ganhou apoio das etiquetas RFID e outros leitores de códigos de barras para simplificar a gestão do estoque e movimentação
de produtos e equipamentos. A Gerdau, por exemplo, tem sistema baseado em RFID que lhe facilita desde a gestão do estoque até o carregamento dos caminhões, cujos motoristas
conseguem saber os horários disponíveis para buscar novas mercadorias evitando filas. Mais uma vez, a conectividade está no centro das atenções. E é ainda mais essencial para um
setor que precisa acompanhar suas frotas pelas estradas brasileiras. Esse é um dos segmentos com maior número de projetos, pois o monitoramento de frotas é feito há muitos anos quando
nem existia o conceito de Internet das Coisas e a conexão era conhecida como M2M. Desde 2012/2013, Oi e Vivo oferecem monitoramento de veículo em seus portfólios. Sem falar das empresas
dedicadas a esse segmento de mercado.

A solução da Embratel é mais sofisticada. Já envolve o conceito de carro conectado, está presente em mais de 500 mil veículos no país. Ela permite o monitoramento 24 horas do veículo
para proteção do motorista, com rastreamento por satélite, travamento e destravamento remoto de portas, além do acesso a informações essenciais para o bom funcionamento do automóvel,
como calibragem dos pneus e volume de óleo, entre outras funcionalidades.

Utilities: para evitar roubos e desperdícios

A melhoria do desempenho das redes de energia, gás e distribuição de água, com o controle de roubos de energias e vazamentos, é sempre apontada como um dos principais benefícios da adoçãodo seu monitoramento inteligente por meio de sensores e sistemas de controle. Mas apesar dos evidentes ganhos de produtividade trazidos pela adoção das tecnologias relacionadas à IoT,
o segmento de utilities ainda resiste em investir maciçamente nessa direção.

Existem vários pilotos em diferentes áreas. Um dos projetos mais emblemáticos está sendo desenvolvido, desde 2017, pela Eletropaulo, distribuidora de energia paulista, em Barueri, na região metropolitana de São Paulo. Foram instalados nas casas dos usuários medidores inteligentes em substituição aos relógios de luz convencionais. Estes medidores são capazes de se comunicar internamente com os dispositivos eletrônicos da casa e, externamente, com a rede elétrica. Assim, em caso de falha, o tempo de reação da companhia de eletricidade para resolver o problema é muito mais rápido e não depende do deslocamento de um técnico. A empresa previa ter 60 mil clientes participando do projeto em meados de 2018.

As companhias de energia, água, gás e mesmo iluminação pública são um mercado alvo para a Embratel dentro de sua estratégia de desenvolver aplicações para a rede 4G LTE nos padrões
dedicados à troca de dados entre dispositivos inteligentes e data center. De acordo com Eduardo Polidoro, diretor de Negócios da operadora, ela tem desenvolvido conversações
com várias empresas desse segmento para a realização de testes e pilotos.

Se o mercado das redes públicas de serviços essenciais ainda não mergulhou no mundo da IoT, seja por falta de recursos para investimento seja por resistência ao novo modelo de controle
e monitoramento das informações da rede, as corporações privadas, grandes consumidoras de energia, estão mais abertas ao novo ambiente. Pesquisa realizada em 2017 pela Logicalis, empresa
global de soluções e serviços de TIC, revelou que das empresas que planejavam investir em sistemas de IoT 40% eram do segmento de utilities.

Para este mercado, a Telefônica Vivo lançou, em 2017, um produto, o Vivo Eficiência Energética, desenvolvido junto com a Schneider Electric e Viridi Technologies. A solução de IoT automatiza
e controla o consumo de energia. Já a Signify, antiga Philips Lighting, anunciou no início do segundo semestre deste ano a comercialização no Brasil da Interact, uma plataforma IoT baseada
na nuvem que permite aos seus usuários aproveitar todo o potencial da iluminação conectada. Ela tem uma versão para as cidades, Interact City, e soluções para o mercado corporativo.
Nas cidades que estão adotando o monitoramento inteligente, o que mais avança são os sistemas de videomonitoramento (câmeras de vigilância) associados ao controle do trânsito.

Mas há soluções mais avançadas e integradas como a de São José dos Campos (SP), onde o controle da iluminação é uma das aplicações (ver p. 94). Para fomentar o uso de IoT pelas cidades, o BNDES em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), lançou a Cartilha das Cidades, guia prático para gestores públicos municipais em três capítulos: conceito de IoT e seu potencial para as cidades, casos reais de aplicações e descrição do caminho que um gestor deverá seguir para implementar um projeto de IoT.

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