Institutos de educação planejam plataforma de inovação para o agro, mas esbarram na burocracia

O relacionamento institucional entre setor privado x setor público dificulta execução da ideia, segundo painelistas da AGROtic. Concorrência entre ecossistemas será benéfica porque trará inovação, afirmam
Carlos Eduardo de Otoboni, professor do curso de Mecanização em Agricultura de Precisão da Fatec/FSNT - crédito: TV.Sìntese
Carlos Eduardo de Otoboni, professor do curso de Mecanização em Agricultura de Precisão da Fatec/FSNT – crédito: TV.Sìntese

Uma plataforma de inovação é uma das principais ideias para o aceleramento do processo de desenvolvimento do agro, e já está sendo planejada por institutos de educação. O entrave é a burocracia que isso envolve. É o que afirma Carlos Eduardo de Otoboni, professor do curso de Mecanização em Agricultura de Precisão, da Fatec/FSNT. Ele foi um dos participantes do painel “Os Desafios Para a Qualificação em Tecnologia Digital do Profissional do Agro”, nesta quarta, 11, no AGROtic.

Segundo Otoboni, a Fatec já iniciou o processo de parcerias com outros institutos para criar uma plataforma tecnológica de inovação. “Mas é difícil quando se percebe que isso esbarra na questão burocrática setor privado x setor público. A burocracia atrapalha e as empresas acabam desistindo”, disse. Apesar disso, as empresas “querem e aguardam” essas ações para desenvolvimento, falou o professor.

“Os ecossistemas vão concorrer entre eles, mas isso é benéfico. Trará inovação, aceleramento do processo”, completou.

“A interação é algo muito importante entre os players da cadeia, a nível nacional. Temos que apoiar todas as iniciativas de desenvolvimento. E trazer gente de fora que queira inovar, mesmo de outras áreas. São pessoas se conversando para um objetivo maior”, pontuou Marcos Nascimbem Ferraz, presidente da AsBraAP (Associação Brasileira de Agricultura de Precisão), também presente ao AGROtic. “Quando você leva inovação, leva valor, então o profissional é e se sente valorizado”, acrescentou Ferraz.

Falta de conhecimento

O despreparo em muitos setores do agro também foi um dos temas do debate.

“O medo é ter equipamento e nem saber para que usar. Tipo ‘comprei um drone, mas o que eu faço com ele?’, ou ‘comprei uma máquina, mas não sei operá-la”, disse Marcos Ferraz. De acordo com ele, o setor quer a tecnologia, mas usá-la é uma dificuldade. “A educação é que vai fazer isso acontecer”, afirmou.

Segundo o presidente da AsBraAP, 40% das faculdades têm disciplinas relativas à agricultura. “Inserem dentro de outras disciplinas de alguma forma. Mas não adianta saber tecnologia e não saber sobre o agro. É a grande dificuldade do profissional.”

Para Ferraz, “falta um gargalo para esses profissionais chegarem lá na ponta”. Mas muitos estão chegando e o mercado busca o que sabe a usabilidade das coisas, disse.

“No nosso caso, procuramos ouvir o mercado, mas não é um processo simples. Há coisas que existem que já podem ser descartadas e demandas precisam ser atualizadas”, contou Otoboni.

E voltou a citar a burocracia. “É necessário sair do básico. Mas se numa faculdade de inovação já é difícil fazer uma mudança, imagina numa faculdade mais tradicional”, comentou o professor da Fatec/ FSNT.

“É necessário que aconteçam debates e que sejam resolvidas políticas públicas. Temos uma proposta de agricultura segura, sólida, obviamente baseada em estudos e informações. Mas a pessoa tem que ser capaz de ouvir e criar”, falou Otoboni.

Ele exemplificou. “Percebemos que não informavam corretamente quando necessário, então criamos o curso de big data. Mas 90% dos alunos foram para outros mercados. Está havendo um gap. Os setores de saúde e financeiro pegam os profissionais que entendem de TI.”

“Como disse Carlos, devemos seguir diretrizes curriculares. Não queremos que o aluno concorra com esses mercados [saúde e finanças]. Precisamos do especialista”, complementou Catarina Barbosa Careta, professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ).

On line

Daniel Sonoda, diretor do Instituto Pecege, de Piracicaba (SP), ligado à Universidade de São Paulo (USP), lembrou que todo o processo de educação pode ser pela internet. Sonoda contou que foram feitas várias inovações, nesse sentido. “Foi desenvolvido um sistema de legendagem automática ao vivo. Muitos alunos com deficiência auditiva começaram a assistir. Também fizemos adaptações para atender alunos com daltonismo. Se tiver internet, o curso chega”, falou.  Mas o problema é mesmo a questão setor privado x setor público. A insegurança jurídica é grande”, concluiu.

O painel foi moderado por Sérgio Barbosa, gerente-executivo da ESALQtec, co-realizadora, juntamente com o Tele.Síntese do AGROtic 2022.

 

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José Norberto Flesch

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