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Banda larga

Huawei quer abocanhar o mercado de fibra óptica brasileiro

Fabricante traz para o país seu sistema de pré-conectorização e tenta convencer operadoras a adotarem modelo de “fibra total”

No que depender da fabricante de equipamentos de telecomunicações chinesa Huawei, o Brasil deverá quadruplicar a quantidade de acessos em fibra óptica nos próximos cinco anos. Mas, para isso acontecer, as operadoras precisam deixar de lado as redes de cobre e mergulhar no conceito de “fibra total”.

A companhia trouxe hoje, 14, a São Paulo, executivos globais para defender seu modelo de FTTH. No evento F4 Summit, exibiu sua tecnologia de pré-conectorização em cascata concorrente da Furukawa (empresa de origem japonesa e que domina o mercado local de fibra).

“A fibra é hoje o ativo mais importante das operadoras. Sem fibra não existe nuvem, não existe vídeo digital, não existirá a 5G”, afirmou Zou Zhilei, presidente da Huawei para a América Latina.

Segundo ele, 17% dos acessos de banda larga do Brasil são em fibra óptica. “O Brasil está na mesma posição que a China cinco anos atrás. Hoje, 86% da banda larga fixa na China é FTTH”, ressaltou. O salto, disse, aconteceu porque o governo chinês definiu o investimento em fibra como prioritário para o setor de telecomunicações.

Governo deve facilitar

Victor Zhang, presidente global de relações governamentais da Huawei ressaltou que o governo deve priorizar medidas para incentivar o investimento em fibra. “O marco regulatório precisa ser favorável para o desenvolvimento do setor. É preciso estimular parcerias público privadas, reduzir impostos, estabelecer subsídios. O governo também precisa estar aberto a adquirir novas tecnologias”, opinou.

Para corroborar as intenções, a Huawei trouxe também o ex-CEO da China Telecom Sichuan, uma província da China com cerca de 90 milhões de habitantes, metade vivendo em áreas rurais. Zhao Maiqing falou sobre como a região trocou todo o cobre por acessos em FTTH, atingindo quase 90% de penetração.

Para ele, primeiramente foi preciso apoio governamental, que financiou a troca da rede legada pela nova. Mas, além disso, abandonar o velho foi crucial. “É preciso retirar completamente a rede de cobre das operações. A convivência entre as duas redes encarece a manutenção, eleva o OPEX e custos com mão de obra”, alertou.

Ele também defendeu que as operadoras não devem fazer nas projeções acanhadas. “Para cobrir a população é preciso planejar uma rede com uma porta para cada residência. É normal que a adesão seja mais baixa no começo, mas depois se preenche”, falou.

Custo com mão-de-obra

Além disso, a distância entre o FAT e o OTN (da porta à casa do cliente) não deve ser maior que 60 metros. Isso porque, segundo cálculos da operadora chinesa, distâncias maiores exigem mão de obra mais especializada, eleva o tempo de instalação e de manutenção. “A maior parte do gasto com fibra está na mão de obra”, lembrou.

Ele comparou a produtividade do técnico na China Telecom Sichuan à do técnico de FTTH brasileiro. Segundo seus dados, na Sichuan, basta um técnico para conectar de cinco a seis residências por dia. Aqui no Brasil, são enviados dois técnicos para, com sorte, conectar duas residências por dia.

Outra sugestão de Maiquing é que as operadoras construam, ou os governos exijam que construam, uma rede redundante óptica dedicada a serviços especializados, como videomonitoramento, 5G, VPN corporativa. “Dessa forma, um único investimento atende a muitos anos de necessidades de negócio”, avaliou.

Por fim, o executivo defendeu consenso social em torno da fibra. “Todos os setores têm de apoiar: governo, empresas, imprensa, sociedade, indústrias. Construtoras, por exemplo, precisam fazer casas pensando não apenas em ter luz, água, esgoto, gás. Mas também infraestrutura de fibra. A fibra óptica total tem de ser uma estratégia nacional”, concluiu.

Governo tenta, Congresso não deixa

Os representantes do governo brasileiro no evento ressaltaram, no entanto, que não faltaram tentativas para facilitar o investimento em banda larga no Brasil. André Borges, secretário de telecomunicações do MCTIC, lembrou que está parado no Senado o PLC 79, novo marco regulatório para o setor.

“Trabalhamos para formular políticas que incentivem o investimento. Além da revisão da LGT, também fizemos um novo PNBL, elaboramos um regime especial para data centers”, falou. Os projetos, não entanto, não se tornaram realidade. O PLC 79, por exemplo, aguarda ser pautado pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira, a fim de ser votado. O texto já passou pela Câmara, e basta o aval dos senadores para ir à sanção presidencial.

Artur Coimbra, diretor de banda larga do MCTIC, ressaltou que há trabalhos do ministério em outras vertentes. A pasta elaborou, por exemplo, estudos mostrando que seria interessante fundir seis impostos, tributos ou contribuições setoriais.

“Hoje há 9 tributos incidindo sobre o setor. Estamos analisando a fusão de seis deles: Fust, Fistel, Funttel, Condecine, TFI, TFF. Também propomos revisão do uso do Fusto, que acumulou R$ 21 bilhões desde que foi criado, e nunca foi usado. Poderia haver uma gestão extraorçamentária deste fundo, para que seu uso não dependa de aprovação da lei orçamentária”, disse.

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