Gasparetto: “As metas ESG da Vivo são a sua atitude ética com a sociedade”

A Vivo passou a envolver sua cadeia de fornecedores no esforço de redução do gás estufa, dando continuidade a suas metas de ESG. E acaba de implementar esses valores no órgão máximo da empresa. Renato Gasparetto, VP de Sustentabilidade da operadora assegura: "A nossa estratégia é sólida e de longo prazo".
Renato Gasparetto, VP de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Vivo - Crédito: Divulgação
Renato Gasparetto, VP de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Vivo – Crédito: Divulgação

A Vivo constrói uma trajetória sólida no estabelecimento de metas ESG (ambiental, social e de governança corporativa). E já tem resultados para mostrar,  como o atingimento de 100% carbono neutro e de  100% de energia renovável. Conta também com  27,9%  de líderes mulheres entre seus 33 mil empregados e 18% de líderes negros. Mas sabe que deve ir além. Por isso,  incorporou o comitê de sustentabilidade ao Conselho de Administração da empresa, órgão máximo de deliberação; ampliou as metas ambientais nas metas de remuneração dos executivos; e, ao traçar os  planos para adquirir cada vez menos créditos de carbono ou de energia, pretende ainda apoiar projetos de regeneração ambiental e não apenas de proteção do meio-ambiente.

Para demonstrar que não é uma atitude de modismo, mas uma sólida trajetória de governança corporativa, assinala Renato Gasparetto, VP de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Vivo, a operadora persegue agora a meta de participar da carteira Índice Dow Jones de Sustentabilidade. ” A nossa estratégia é sólida e de longo prazo”, afirma.

Leia aqui os principais trechos da entrevista:

O movimento ESG (Enviromental, Social, Governance) é uma realidade em diferentes mercados do mundo. No Brasil, ele  é recente, com  uma forte participação do sistema financeiro.  Como a Telefônica Vivo se posiciona dentre deste cenário?

Renato Gasparetto – É bom lembrar que metas ESG não são compulsórias no Brasil. Mas entendemos que é uma atitude ética, de diálogo com a sociedade. A Vivo trouxe a questão ESG para dentro de sua estratégia empresarial. Portanto, não é modismo ou espasmo de momento. É também o movimento da sociedade associado ao do mercado financeiro. A consultoria McKinsey divulgou uma pesquisa que aponta que 85% dos brasileiros se sentem melhor comprando produtos sustentáveis. Ao mesmo tempo, por exemplo, a BlackRock, maior gestora do planeta, com mais de 8 trilhões de dólares de ativos (três vezes mais do que o PIB brasileiro),  disse este ano que considera risco climático como risco de investimento e que só vai investir em empresas que tenham estratégia de economia neutra em carbono. No Brasil, a Anbima  informou que houve um crescimento de 215% do patrimônio líquido de fundos ESG ao longo do ano de 2020. Há o movimento no sentido de reconhecer as  empresas com ações mais sólidas neste sentido.

 E como a Vivo está com  esta pauta?

Desde 2007 divulgamos o nosso relatório de sustentabilidade, acompanhando o GRI,  o padrão internacional mais rigoroso no sentido da auditagem sobre questões de ambiente, econômica e sociais. Esse modelo se sofisticou para a tríade ESG. Há vários anos criamos na empresa o comitê para tratar dessa tríade e, desde o ano passado, contamos com um comitê de sustentabilidade que faz parte do órgão máximo da empresa, o seu Conselho de Administração. Este processo mostra que existe solidez na estratégia ESG dentro da Vivo.

Este movimento está baseado em que premissas?

É uma mandala que perpassa pela a experiência do cliente, ética e transparência, gestão ambiental, responsabilidade social, diversidade de talentos, sustentabilidade da cadeia de valor . Essa estratégia é revisitada anualmente e possui metas bastante rigorosas. Com isso, já começamos a colher frutos antes de outras empresas do mercado onde a gente atua.

 Quais são os principais resultados?

Por exemplo, desde 2019 a Vivo  já é uma empresa 100% carbono neutro.

Como a empresa se prepara para manter esse resultado com o ingresso do 5G, que aumentará muito o consumo de energia? 

A nossa meta de carbono neutro é anual. No ano passado, a meta foi de  78 mil toneladas de CO2 emitidas. Este ano, não podemos crescer mais do que 81,2 mil toneladas. Ou seja, não vamos emitir mais do que  isso. Essa emissão se dá pelas redes (antenas, sites, etc), prédios administrativos, ar condicionado, frota e a própria energia. A cada ano teremos um teto. Agora, iniciamos o movimento de envolver a cadeia de valor dos fornecedores para participarem também da redução de gás de efeito estufa.

E seus fornecedores estão preparados para isso?

Nós temos mais de mil e duzentos fornecedores. Desses, fizemos um corte de 115 fornecedores, que são os mais importantes na emissão de gases de efeito estufa. É com esses que queremos trabalhar. Estamos criando metodologia e indicadores para que esses fornecedores possam seguir. Sabemos que não é fácil.

A Vivo ainda compra crédito de carbono, não?

Sim, mas nosso objetivo com todas essas ações é cada vez comprar menos. Nós compramos crédito de um projeto muito importante, chamado Redde+Vale do Jari. Ele fica no Pará, e prevê a proteção de mata amazônica nativa, ensinando a população local a proteger o ambiente contra a degradação da floresta. É um dos melhores projetos do Brasil em termos de crédito de carbono, e fizemos uma busca milimétrica. Vamos agora partir para a busca de projetos não mais de proteção, mas de regeneração. E faz  uma diferença enorme  recompor o que foi destruído. O aquecimento global gera desequilíbrios, e estão  cada vez mais próximos.

E como está a ação da Vivo na direção da energia limpa?

Somos a primeira empresa de telecomunicações brasileira e também do Grupo Telefónica, fora da Europa, a ser 100% energia renovávelNosso consumo de energia passou a ser totalmente renovável em novembro de 2018, quando migramos de um cenário com consumo de 26% de energia proveniente de fontes renováveis – obtidas tanto no mercado livre como em geração distribuída –  para 100%, por meio da aquisição de certificados de energia. A expectativa é termos 75 usinas, de fontes solar, hídrica e de biogás, operando em todas as regiões do Brasil.

Atualmente, temos 17 usinas de GD em operação. A fonte solar será um dos principais recursos renováveis utilizados em todo o projeto de geração distribuída da Vivo, cerca de 60%. Para se ter uma ideia, ao final do processo de instalação, a área total das usinas solares a serviço da Vivo espalhadas por todo país será o equivalente a 350 campos oficiais de futebol.  O projeto, como um todo, responderá por mais de 80% do nosso consumo em baixa tensão, atendendo mais de 28 mil unidades da empresa, como milhares de centrais telefônicas, nossas 1,6 mil lojas e dezenas de prédios administrativos.

É mais difícil para a empresa tocar ações ESG quando há um governo que claramente não apoia essas iniciativas?

Nós estamos muito bem acompanhados. Somos associados ao Conselho Empresarial Brasileiro de Sustentabilidade, porta-voz do setor empresarial. O ESG é um movimento de Estado, e não de governo. Antigamente a defesa do meio ambiente tinha uma ancoragem no ativismo, na emoção. Com o tempo, verificou-se que tem uma solidez economicamente muito forte. O “G” da governança, o menos falado, é talvez o mais importante, mostra que é  uma estratégia sólida e de longo prazo. E não é modismo.

Para evitar o modismo, como se diferenciar?

Participamos dos mais importantes índices de medição. A Vivo está entre as empresas Top 20 do setor (14º lugar), sendo a empresa do setor com a melhor classificação da América Latina no Índice Dow Jones de Sustentabilidade. Esse índice é aquele que em qualquer país do mundo, para uma empresa de capital aberto, é uma importante credencial. Mesmo que as empresas não apliquem para ele, o índice analisa as empresas de qualquer jeito, com as informações públicas disponíveis. É sim ou sim.  No ano passado, tivemos um avanço de 16,6% de um ano para o outro no Down Jones. Foi a única empresa brasileira a receber o selo Industry Mover. A nossa meta agora, é fazer parte da carteira.

Como as metas ESG são internalizadas na empresa?

Desde 2019, 20% das metas dos executivos estão dentro das metas ESG e a parte ambiental cresceu 20% dentro dos 20% este ano. Não só existe estratégia de longo prazo, como engaja todos os executivos da empresa indistintamente. Exemplo: no ano passado, com nosso programa de reciclagem eletrônica, recolhemos quase duas toneladas de resíduos eletrônicos de todos os colaboradores da Vivo. Estimulamos também clientes e não clientes a levarem o lixo para as lojas das Vivo, onde temos urnas próprias para recebê-los

 E para onde vai esse lixo?

Encaminhamos para empresas especializadas, e o valor recebido, nós direcionamos para a Fundação Telefônica Vivo reforçar os cursos digitais para a formação de professores e alunos das escolas públicas do Brasil.

Qual é a atuação da Vivo em relação ao “S” da ESG?

Todas as ações  ESG na empresa são capitaneadas pelo próprio CEO, Christian Gebara. Atualmente, 42,6% do no nosso quadro é composto por mulheres. Temos 27,9% de líderes em âmbito geral, sendo 24,5% diretoras e 33,7% em nível gerencial.

E elas ganham os mesmos salários que os homens?

Sim!

 Em relação à diversidade?

Temos cerca de 27% de profissionais negros em todos os cargos e 18% em liderança. O objetivo é aumentar esses indicadores. Fizemos no primeiro trimestre deste ano um chamamento de trainees, com meta de atingir 30% de negros. Atingimos 43%. LGBTQI + temos 29 profissionais trans que atuam também em loja. Em nossa sede já temos placas nos banheiros com: “utilize o banheiro em que você se reconheça melhor como gênero”. A inclusão é genuína. Temos profissionais com vários tipos de deficiência, desde as mais leves até as mais severas. Auditiva – 12%; Física – 58%; Intelectual – 0,4%; Reabilitado – 9%; Visual – 20%. E lançamos recentemente o programa 50+ onde pessoas dessa faixa etária atuam nas lojas para atender os clientes dessa idade, criando zonas de conforto para pessoas que possam se reconhecer. É uma jornada mensal.

Na pandemia, a gente observou  que um grande contingente de alunos de escolas públicas não teve acesso às aulas virtuais por falta de conectividade. Sei que faltam políticas públicas para resolver esse fosso digital, mas como a empresa poderia atuar para diminuir essa desigualdade?

Embora a doação de internet não seja uma atividade da Fundação nem da empresa, foi feita uma coalizão das operadoras de telecomunicações durante a pandemia para o estado de São Paulo, e cobrado um valor menor pelo tráfego para a rede pública educacional  que é maior do que a rede de escolas de toda a Argentina  Mas há dois movimentos importantes que vão ajudar neste sentido e também um desafio.  Um deles é o novo Fust ( Fundo de Universalização).  O outro é o projeto  da deputada Tabata Amaral.

O desafio é que,  por mais que se queira, há uma dificuldade muito grande em se levar internet para as escolas e periferias devido a lei das antenas atual. A cidade de São Paulo discute em segundo turno uma nova lei, que esperamos que na volta do recesso parlamentar seja aprovada. O Rio de Janeiro já aprovou a nova lei com anexos para que os demais municípios o acompanhem.

Como projeta a Vivo para daqui a 10 anos nesse movimento ESG? 

Queremos continuar fazendo diferença no contexto nacional. Que a nossa vontade consiga arrastar os outros. A Vivo é a maior empresa de telecom do Brasil; tem  33  mil colaboradores. Queremos inspirar nossa cadeia de valor e outros setores.

 

 

 

 

 

 

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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