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Cai inadimplência nas fintechs de crédito, mesmo com pandemia.

O cenário de captação restrita, inadimplência alta e falta de acesso as política públicas para criar liquidez não inibiu a expansão das fintechs de crédito no país.

Apesar da falta de acesso a todos os benefícios concedidos pelas políticas públicas governamentais que garantem liquidez ao sistema, como tiveram os grandes bancos, as fintechs de crédito não sofreram com a inadimplência – que encontra-se hoje 15% abaixo do patamar de 25%, registrado em fevereiro do ano passado.

 

Rafael Pereira, presidente da ABCD e CEO da Open Co

“As fintechs, ao tratarem perfis de clientes com o mesmo volume de renda sob óticas diferentes, puderam tomar decisão com mais assertividade”, afirma Rafael Pereira, presidente da ABCD, associação que reúne as fintechs de crédito, e CEO da Open Co. Essa forma de se relacionar com os clientes, aliada aos juros baixos e uso intensivo de tecnologia, contribuiu para o boom das fintechs de crédito no país, diz ele.

“O crédito no Brasil representa cerca de 60% do PIB comparado a outros países que já beira a 85%, portanto há muito espaço para crescer e a expansão dessas empresas está atrelada à educação financeira”, confirma Renan Schaefer,  diretor executivo da ABFintech e sócio da a55.

Na sua opinião, o mercado de crédito precisa fazer o mesmo que a XP fez no segmento de investimento: ensinar as pessoas a importância do crédito aliado à tecnologia. O uso de dados, análise de crédito e gestão de risco tornam-se essenciais para trazer mais competição ao cliente.

Regulamentação

O crescimento das fintechs de crédito tomou impulso a partir da regulamentação do Banco Central de 2018, quando foram criadas a SCD – Sociedade de Crédito Direto e SEP- Sociedade de Empréstimo entre Pessoas. Ambos formatos permitem a  concessão de empréstimos bancários por meio de plataformas digitais

José Luiz Rodrigues, sócio da JLRodrigues & Associados

Hoje as fintechs conseguem oferecer taxas mais atrativas que os bancos. A taxa de juros da Rebel, por exemplo, caiu quase 8%, em 2020, segundo Pereira.

“Há bancos, no entanto, criando sua própria fintech para oferecer crédito de menor valor, como fez o  Banco Safra, lembra José Luiz Rodrigues, sócio da JLRodrigues & Associados. Segundo ele, para chegar ao mercado de plataforma digital é preciso ter uma carteira de clientes.

É o caso da a55, fundada há cinco anos, que já conta com uma carteira de crédito de mais de R$ 160 milhões. A plataforma de conhecimento, que transforma dados crus em dados de inteligência, tem 10 mil usuários. Atende 160 clientes que têm acesso a serviços gratuitos, como conciliação bancária e insights sobre as operações. Seu foco são empréstimos com base no faturamento futuro e previsível, um nicho pouco explorado no país.

A a55 fez um aporte de US$ 2 milhões na empresa de investimento E3 Negócios por meio de seu fundo ZFM. Em maio de 2020, captou US$ 5 milhões com o Santander Innoventures, braço de venture capital do Santander, rebatizado recentemente de Mouro Capital.

Consolidação

O mercado de fintechs de crédito no país passa por um processo de consolidação marcado por inúmeras fusões e aquisições no início deste ano: a XP comprou a Antecipa, o Adianta se fundiu com a Liber Capital e a Rebel com a Geru, criando o grupo Open Co.

Bruno Diniz, professor e co-fundador da Spiralem

“A Geru trabalha com o público de alta renda e a Rebel com o de baixa qualidade de crédito. Com a fusão, essas duas empresas vão se tornar referência em termos de eficiência no mercado fintechs de crédito no país, além de passar a responder pela metade do marketing share”, afirma Bruno Diniz, especialista em fintechs e consultor da Spiralem.

Para Pereira , essa dinâmica de M&A no segmento de crédito fortalece o posicionamento das fintechs. “Esse movimento concede mais poder para as fintechs dialogarem com órgãos influenciadores, como o Banco Central”, diz.

Um outro movimento que trará impacto para o setor de crédito é o de  Embedded Finance, que permite a participação de empresas fora do setor financeiro nesse mercado. “O iFood atuou como banco digital emprestando R$ 100 milhões para restaurantes em  três meses, enquanto o Santander criou sua própria fintech, a Empréstimo Sim, que concorre com o público do próprio banco Santander”, conta Diniz.

Nos Estados Unidos, as fintechs de crédito atualmente emprestam mais que os bancos e cooperativas. O market share saiu de 5%, em 2015, para 34%, em 2019, segundo o estudo da TransUnion. No Brasil, as fintechs respondiam apenas por 3%, no início do ano passado, conforme o estudo realizado pela ABCD,  enquanto os grandes bancos concentram mais de 80% do crédito, seguido dos bancos médios e cooperativas.

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