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Cachorros loucos querem revolucionar o ecossistema brasileiro de IoT

Caninos Loucos produz computadores de placa única na USP destinadas à inovação no segmento da internet das coisas e nacionalização de plataformas para a borda da rede de objetos conectados.

Há na Universidade de São Paulo um projeto de produção de plataformas para internet das coisas. Batizado de Caninos Loucos, a iniciativa consiste no desenho e na fabricação de pequenos computadores, placas para dispositivos IoT e até de processadores, sempre usando tecnologias abertas e software derivados do Linux.

Apresentada no 4º Congresso Brasileiro e Latino-Americano de IoT, a Caninos Louco desenvolveu um computador de placa única (Single Board Computer), chamado Labrador; a Pulga, um dispositivo miniaturizado do tamanho da moeda de 10 centavos, ideal para integrar um relógio inteligente, por exemplo; e o Bankhar, que tem alto poder de processamento.

Segundo Marcello Zuffo, professor da Escola Politécnica da USP e do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI), o nome Caninos Loucos é homenagem a John “Maddog” Hall, integrante ativo da comunidade de software aberto e participante também do projeto na USP.

O projeto começou em 2016, no âmbito do Plano Nacional da Internet das Coisas, quando se identificou a necessidade de dispositivos para a borda da rede. Neste momento, a Labrador é feita para atender a dois segmentos: Educação e Makers (pessoas que montam seus equipamentos por conta própria), sendo que, no próximo ano, será fornecida para aplicações profissionais, após fases de validação de provas de conceito que estão em andamento. O SBC tem custo de US$ 150.

“Este é o primeiro dispositivo que lançamos. Nosso plano é disponibilizar para o mercado computadores de placa única bem menores, do tamanho de uma moeda de 25 centavos, com custo competitivo, que permitirá disseminar a IoT nas mais diversas aplicações e com processamento na borda”, informa Laisa Costa De Biase, Cientista Chefe do Projeto Caninos Loucos e Ph.D em Computação de Borda e Inteligência Artificial.

Herberto Macoto Yamamuro, ex-presidente da multinacional NEC no Brasil, juntou-se ao time para estruturar o modelo de negócio e a estratégia de mercado para o Programa Caninos Loucos. “Foi desenhado um Plano de Negócio, com toda a cadeia de suprimento e de parceiros bem planejada, com a finalidade de entrar no mercado e obter o seu espaço estratégico no país e no exterior”, conta.

Zuffo considera que a IoT é uma revolução em curso, da qual o Brasil não pode deixar de participar. Por isso, a necessidade de desenvolver localmente dispositivos que habilitem soluções do tipo. “Todos os projetos do Caninos loucos rodam inteligência artificial por definição. O Brasil tem condição de desenvolver semicondutores. Temos centenas, milhares de projetistas de chips. Decidimos projetar o chip do Caninos loucos aqui, e o chamamos de K9, baseado na arquitetura aberta Risc-V”, diz.

Capacidade

Por enquanto, a Caninos Loucos destina sua linha de produção para a inovação. “Todo mundo com uma ideia, pode acionar a USP para a produção. Ainda estamos discutindo o modelo institucional para ter escalabilidade. A Caninos está em uma fase de go to market”, acrescenta.

A distribuidora Robocore vai comercializar a placa Labrador, e há negociações em curso com a Smart Modular Technologies para produzir. Desde dezembro, a USP pode receber de startups pedidos de produção das placas.

O SBC Labrador traz software Debian 10 Buster, com Kernel Linux 4.14. É compatível com diferentes plataformas de IA, do Google (Tensorflow) à Amazon (Sagemaker). Enquanto aguarda encomendas, o LSI já desenvolve aplicações. A plataforma será instaladas em dois projetos de Cidades Inteligentes que obtiveram financiamento do BNDES, um em mobilidade urbana (controle inteligente de semáforos), em São Paulo, outro em segurança.

A Caninos Loucos usa uma linha de produção de placas instalada na Poli-USP. Parte dos equipamentos foram comprados pela universidade oito anos atrás, por US$ 3,5 milhões. Outra parte foi doada. Zuffo diz que a empresa Smart Technologies, por exemplo, fez aportes de cerca de R$ 4 milhões. Com isso, há capacidade de produção de 10 mil placas ao dia.

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