Bolsonaro anuncia demissão do presidente dos Correios

Presidente da República afirmou que o general Juarez Cunha "agiu como sindicalista" em audiência na Câmara.
General Juarez Cunha: será vendida a parte boa, o “filé” da estatal / Foto: Ascom/ Correios

Durante café da manhã com jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta sexta-feira, 14, que vai demitir o presidente dos Correios, general Juarez Cunha, por discordar da postura do chefe da estatal contrária à privatização da empresa.

O estopim da demissão, justificou o presidente, foi a participação do general em audiência pública, no dia 5 deste mês, convocada por parlamentares do PT e outros partidos de oposição com pesadas críticas à proposta de privatização da estatal sustentada por Bolsonaro com o argumento de que a empresa foi destruída durante as gestões petistas.

Em entrevista a jornalistas no Palácio do Planalto, Bolsonaro afirmou que Cunha ” agiu como sindicalista”  por ter comparecido, na semana passada, a uma comissão da Câmara dos Deputados. Também criticou o fato de o presidente da estatal ter sido fotografado ao lado de sindicalistas e parlamentares da oposição.

Na ocasião, os sindicalistas saudaram o presidente dos Correios com as seguintes palavras de ordem: “Não, não, não à privatização. Privatização é coisa de ladrão”. À saída, Juarez disse que a privatização era uma “suposição”.

O “filé”

Na audiência, Cunha previu que, se a estatal vier a ser privatizada, a parte boa, o “filé” da  empresa, é que deverá ser vendida. Os serviços não lucrativos serão arcados pelo Estado e pelo cidadão. “Eu não queria falar de privatização, até porque não é problema meu. Mas eu tenho que dizer: se privatizarem uma parte dos Correios – eu acredito que vai ser do lado bom –, o que tirar daqui vai faltar lá, vai faltar do outro lado. Quem é que vai pagar essa conta? Se privatizarem uma parte aqui, que dê R$ 4 bilhões a menos, alguém vai ter que pagar do outro lado. E esse alguém será o Estado brasileiro ou o cidadão brasileiro que paga impostos.”

Para privatizar os Correios e outras estatais, o governo vai precisar da autorização do Congresso Nacional, de acordo com decisão do Supremo Tribunal Federal, que permitiu a venda apenas de subsidiárias sem o aval de senadores e deputados.

Segundo o presidente, o cargo de Cunha chegou a ser oferecido ao general Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido da Secretaria-Geral da Presidência da República, na quinta-feira. Mas ele recusou a oferta.

Os Correios são vinculados ao MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), cujo titular, o astronauta Marcos Pontes, disse em maio que o presidente Bolsonaro havia dado apenas sinal verde à realização de estudos para avaliar a viabilidade da venda estatal.

A assessoria do ministro Marcos Pontes enviou nota ao Tele.Síntese informando que, a pedido do presidente da República, “comunicou ao presidente dos Correios, general Juarez Aparecido de Paula Cunha, que sua exoneração será feita na próxima semana, bem como a nomeação de seu substituto, a ser definido pelo presidente da República em entendimento com o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações”. A assessoria da estatal informou que “os Correios não se pronunciarão, pois não foram comunicados oficialmente”.

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Abnor Gondim

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