Birôs de crédito estão otimistas com moeda digital do Banco Central

Para ANBC, desafio será de cibersegurança, mas perspectiva é que moeda digital regulada aqueça a economia

Os birôs de crédito que operam no Brasil estão otimistas com a perspectiva de surgimento de uma moeda 100% digital no Brasil. A partida para a criação dessa moeda foi dada pelo Banco Central em 21 de agosto, quando foi criado um grupo de trabalho para estudar o assunto e traçar as diretrizes que vão orientar o funcionamento do sistema de pagamentos brasileiro baseado na moeda eletrônica.

Se o projeto caminhar na velocidade prometida pelo Banco Central e Ministério da Economia, em pouco mais de um ano o país poderá ter já sua moeda digital em uso, ainda que de maneira pouco abrangente.

Para os birôs, ainda que a digitalização plena demore, resultará em crescimento econômico. Primeiro, porque vai economizar o dinheiro do Estado. “É algo que vai trazer economia de R$ 90 bi por ano que o BC tem com custos de gerenciamento dos meios de pagamento e outras transações”, disse Elias Sfeir, presidente da Associação Nacional dos Bureaus de Crédito. Ele participou nesta tarde de live realizada aqui pelo Tele.Síntese.

Segundo ele é importante, no entanto, que o Banco Central adote práticas equivalentes às vistas em outros países que também estão digitalizando suas moedas. “Se nascer realmente com as características globais, vai ser algo muito mais seguro, vai trazer capilaridade, vai ter controle muito maior sobre meios de pagamento, com isso visibilidade sobre as transações vai ser muito maior”, falou.

Para o executivo, a grande qualidade da moeda digital é ser regulada por um banco central, diferente do Bitcoin. “E também vai aumentar a velocidade de giro da moeda. Ela girando em velocidade mais alta tende a acelerar a economia, gerando bem estar e empregos”, resumiu.

Mercado aberto

O executivo também comentou a adoção do PIX no país. Lembro que o Brasil é um mercado ainda nascente em transações digitais, e a moeda digital e o PIX, entre outras medidas, contribuem para acelerar a inclusão financeira de pessoas que ainda não são bancarizadas.

“Comparando os números de pagamentos eletrônicos no mundo em 2019, por habitante por ano, vemos que em Cingapura foram 831. nos EUA, 495. E no Brasil, somente 166. Então o potencial de crescimento de pagamentos eletrônicos sem moeda é grande. No Brasil em 2019, 60% das transações bancárias já foram eletrônicas. Com a pandemia esse movimento se acelerou. Mudanças que se esperava em 5 anos, foram feitas em 5 meses”, resumiu.

Cadastro positivo

Sfeir contou ainda que o cadastro positivo já vem surtindo efeitos sobre o crédito. Análises preliminares indicam que o volume de crédito no Brasil cresceu. Ele citou o caso de uma financeira de varejo que, após acessar os dados do cadastro positivo, ampliou em 15% a distribuição de crédito.

A pandemia, embora tenha colocado muita gente em situação de dificuldade financeira, registrou aumento de negativados menor que o esperado na comparação com 2019. Segundo ele, porque os birôs e agentes de mercado concordaram em dar mais tempo para negociações de dívidas. Tradicionalmente, as empresas enviam a informação negativa em 10 dias. Com a pandemia, o tempo passou a 45 dias.

“Vimos que realmente funcionou e as negociações, com mais tempo, foram efetivas”, falou. Segundo ele, o Brasil tem hoje 66 milhões de pessoas com negativadas (“com nome sujo”) nos birôs, e outras 6 milhões de empresas também nesta situação de inadimplência. No mesmo período de 2019, eram cerca de 63 milhões. Em reais, significam dívidas que somam R$ 250 bilhões entre pessoas físicas e R$ 110 bilhões entre jurídicas.

Segundo o executivo, atualmente os birôs dispõem 100 milhões de registros no cadastro positivo. Com a adesão das operadoras ao sistema a partir de outubro, devem saltar para 150 milhões de registros. E em seis meses novos dados serão recebidos, uma vez que a ANBC acaba de firmar acordo com as distribuidoras de energia e negocia ainda com empresas de saneamento, grande varejo e gás.

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Rafael Bucco

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