BC não vê possibilidade de cumprir meta de inflação em 2022

Banco Central desenha dois cenários, um com probabilidade de 88% e outro de 97% de que o IPCA, a inflação oficial, fique acima do teto.
BC não vê possibilidade de cumprir meta de inflação em 2022 - Crédito: Divulgação
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central – Crédito: Divulgação

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, descartou nesta quinta-feira, 24, a possibilidade de cumprir a meta de inflação em 2022. A declaração foi durante entrevista coletiva para comentar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado hoje pelo BC.

O Banco Central (BC) manteve sua previsão de crescimento do PIB para este ano em 1% e apontou dois cenários para a inflação em 2022. Em ambas, o índice de preços fica acima da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para este ano.

Para a inflação, o cenário que considera um barril de petróleo mais caro projeta inflação em 7,1% este ano e probabilidade de 97% de estouro da meta. Já o cenário com petróleo mais barato tem inflação em 6,3% no final de 2022 com probabilidade de 88% de ficar acima do teto da meta. Há três meses, o BC admitia em 41% o estouro da meta de inflação.

A meta definida pelo CMN para 2022 é de 3,5% ao ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

“Tomamos decisões partindo do horizonte relevante. Em prol da transparência fazemos o relatório com base em probabilidades para cima ou pra baixo. Existem intervalos de confiança, mas trabalhamos com o cenário central”, disse Campos Neto. Entre os dois cenários apresentados, o presidente do BC preferiu não dizer, no momento, qual seria o mais provável.

Para 2023, o BC prevê uma inflação de 3,40%, dentro da meta prevista que é de 3,25%, com margem de 1,5 ponto (taxa de 1,75% a 4,75%). Já para 2024, o objetivo é de 3%, com tolerância de 1,5% a 4,5%. A meta para 2025 ainda não foi definida.

Crescimento

O Banco Central manteve sua estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 em 1,0%. No último relatório Focus, no entanto, os economistas consultados semanalmente pelo BC projetaram alta de 0,50% no PIB de 2022.

Pelo lado da oferta, porém, o BC alterou a estimativa para a expansão da agropecuária de alta de 5,0% para apenas 2,0%. Já a projeção para a evolução da indústria passou de retração de 1,3% para queda de 0,3%. No caso dos serviços, o BC mudou a previsão de avanço de 1,3% para 1,4%.

Entre os fatores que podem afetar negativamente o crescimento, o Banco Central aponta que a escassez de matéria-prima deve afetar a recomposição de estoques e o desempenho da indústria, enquanto o risco fiscal e a alta nos juros também devem trazer o PIB para baixo. Além disso, o conflito entre Ucrânia e Rússia e os impactos na produção também afetam o país.

“A elevação dos preços de commodities e dos preços de produtos importados – especialmente desde a escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia −, embora atenuada pela recente apreciação do real, pode ser considerada um novo choque de oferta do ponto de vista da economia doméstica, com impacto altista sobre a inflação e negativo sobre a atividade econômica no curto prazo”, diz o BC.

Para o lado positivo, o BC ressalta, a exemplo do que já tinha dito na ata da última reunião do Copom, que o PIB de 2021 veio acima do esperado e a tendência é que o primeiro trimestre deste ano também mostre números positivos, favorecendo as expectativas para o ano.

Cenário global

No relatório, o BC avalia que a economia global estava se recuperando no início do ano mesmo com a transmissão mais intensa da Ômicron, mas com o início das tensões entre Ucrânia e Rússia e o subsequente conflito e sanções econômicas, houve uma alta na aversão ao risco globalmente.

“Esse cenário traz pressão adicional aos preços das commodities em que a Rússia e a Ucrânia são relevantes na oferta global, como trigo, milho, petróleo, gás natural, commodities metálicas, e fertilizantes, dentre outros”, apontou o relatório.

Nos Estados Unidos, o BC vê uma recuperação econômica consistente, com mercado de trabalho aquecido e crescimento, mesmo que irregular, no consumo e investimentos.

Já para a China, principal parceiro comercial do Brasil, houve uma desaceleração econômica no fim do ano passado, mas há expectativa de melhora ao longo deste ano com crescimento de 5,5%.

O documento aponta preocupação com a pressão sobre as cadeias globais de fornecimento, que ainda não se reorganizaram da pandemia, e com os impactos da guerra entre Ucrânia e Rússia sobre os preços de energia ao redor do mundo.

Exportações

A alta no preço de commodities pode contribuir para o primeiro superávit nas contas externas desde 2007, segundo as projeções do BC.

O relatório mostra uma revisão relevante nas expectativas para a balança comercial do ano, com alta das exportações de US$ 276 bilhões no fim do ano passado para US$ 328 bilhões e de importação de US$ 225 bilhões para US$ 245 bilhões.

“De forma geral, a atualização das projeções reforça cenário favorável das contas externas. Projeta-se o primeiro superavit da conta corrente desde 2007, resultado do saldo comercial significativamente positivo – o maior valor em dólares da série histórica – e do patamar contido dos déficits em serviços e rendas. Os investimentos diretos no país, por sua vez, devem continuar em volumes relevantes”, aponta o documento.

Taxa básica de juros

Roberto Campos Neto iniciou sua fala na entrevista à imprensa lendo um trecho da ata da 245ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu aumentar novamente em um ponto percentual a taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 11,75% ao ano. Segundo o RTI, essa decisão reflete a incerteza ao redor do cenário econômico e um balanço de riscos “com variância ainda maior do que a usual para a inflação”. A taxa poderá ser reajustada “para assegurar a convergência da inflação para suas metas”, reitera o documento.

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Redação DMI

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