Associação alerta para risco estratégico na criação de redes neutras

ETNO, associação europeia que tem entre integrantes os grupos Telefónica e TIM, alerta para a perda de relevância das operadoras para as empresas digitais e possível aquisição por estrangeiros

A criação de redes neutras traz risco para o futuro das operadoras que abrem mão de seus ativos total ou parcialmente para entrar neste modelo, segundo alerta a associação setorial europeia ETNO.

Em relatório recém divulgado, a organização diz que as operadoras buscam esta alternativa a fim de controlar o alto endividamento. Ao vender parte ou a totalidade de suas redes, deixam de ter no balanço financeiro os gastos com investimento (Capex), o que melhora os números e pode resultar em aumento de valor de mercado.

No entanto, observa, essa solução pode se transformar em um problema de longo prazo, uma vez que as operadoras abrem mão de infraestruturas estratégicas. Estas passam a ser acessíveis a concorrentes digitais, que nos últimos anos ganharam muito mais valor de mercado por conta de inovações e por ofertar serviços equiparáveis aos de telecomunicações, mas que não são regulados da mesma forma.

“Estas iniciativas para melhorar o balanço, principalmente no caso da negociação com ativos FTTH, reduzem o fardo que é o capex e o endividamento. No entanto, introduzem o risco de operadores nacionais perderem o controle de ponta a ponta das cadeias de valor para concorrentes da nuvem e às próprias infracos”, diz.

Números da consultoria Analysys Mason apontam que o endividamento das operadoras europeias cresceu 40% entre 2014 a 2021, passando de 1,8x em relação ao EBITDA para 2,53x. E o retorno sobre capital investido despencou de 9,1% para 5,1% entre 2017 e 2021.

Mesmo assim, a ETNO considera que as teles estão entregando seu melhor a outras empresas. “As operadoras podem estar transferindo valor para os rivais da nuvem. Já as infracos, que tradicionalmente comercializavam rede passiva, já começam a se parecer muito com operadoras de atacado”, diz.

Diz ainda a associação que operadoras estruturalmente segregadas têm menos recursos e habilidade para inovar, especialmente em relação a rivais globais verticalizados.

O cenário, observa a ETNO, referindo-se às operadoras associadas – entre as quais firam Telefónica e Grupo TIM, donas de teles de mesmo nome no Brasil – é preocupante.

“As operadoras estarão em posição ainda mais enfraquecida se os serviços de metaverso crescerem rapidamente, uma vez que vão demandar mais investimento nas redes”, diz.

Se isso acontecer, as cidades serão povoadas com pontos de rede para trocas massivas de dados que transitam no metaverso, e estes pontos não pertencerão às operadoras, antevê.

A ETNO conclui afirmando que empresas de telecomunicações financeiramente mais fracas estão mais suscetíveis a aquisições por agentes externos. E que deverão lançar mão de recursos humanos estrangeiros, enfraquecendo o conhecimento interno em telecomunicações.

Preocupação esta que aparentemente vale para a Europa, mas para o resto do mundo. Afinal, no Brasil, as redes nacionais já são todas controladas por empresas estrangeiras, duas das quais, europeias.

O documento, na íntegra, está aqui.

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Rafael Bucco

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