As redes 5G vão demandar mais fibra, prevê executivo da Furukawa

Pierre Marty, vice-presidente de Vendas e Marketing da OFS, unidade de fibra óptica da antiga Lucent adquirida pela Furukawa, não tem dúvidas de que a próxima geração de telefonia celular, a 5G, vai demandar mais fibra, em função tanto do hábito de consumo de conteúdo do internauta como da topologia da rede. Ele também acredita que o aumento da demanda por vídeo, inclusive no âmbito das corporações, e as aplicações especializadas de Internet das Coisas (IoT) vão continuar a exigir a existência de data centers físicos, fora da nuvem, o que também vai continuar consumindo infraestrutura óptica.
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Pierre Marty, vice-presidente de Vendas da Furukawa EUA

Na comunicação óptica, o céu ainda não é o limite. Os atuais equipamentos em comercialização permitem taxa de transmissão de dados por lambda (comprimento de onda) na fibra de até 400 Gbps. E esse limite está quase se esgotando. Para ir além, é preciso colocar mais fibra. E é nessa nova geração de fibra que a Furukawa Electric vem investindo, segundo Pierre Marty, vice-presidente de Vendas e Marketing da OFS, unidade de fibra óptica da antiga Lucent, com sede em Atlanta, nos Estados Unidos, adquirida pela Furukawa.

Nesta entrevista ao Tele.Síntese, Marty explica que a demanda por fibra vai continuar a crescer, embora o celular tenha cada vez mais papel preponderante na vida das pessoas e na sua comunicação. Isso porque as redes sociais são uma realidade na vida das pessoas, o consumo de vídeo cresce exponencialmente e vai continuar a se expandir com as novas tecnologias, como 4k e realidade virtual. “A vida real não é em 2 D”, lembra Marty. Entre os fatores que vão alavancar o consumo de fibra, ele cita, além do conteúdo a trafegar pelas redes, a topologia de rede da nova geração da telefonia móvel, a 5G, e a necessidade de processamento de aplicações especializadas (e mais pesadas) em data centers locais, e não na nuvem.

Marty veio ao Brasil a convite da Furukawa Latam para participar do Furukawa Summit, realizado de 13 a 15 deste mês, em Foz do Iguaçu (PR), que reuniu 400 pessoas, entre clientes e parceiros, de 21 países.

Tele.Síntese – Por que você diz que as redes 5G vão consumir mais fibra?
Pierre Marty – Por dois fatores. De um lado, o modo como as pessoas estão usando a internet e seu impacto na arquitetura das redes. Pesquisa recente mostra que o internauta passa em média duas horas por dia nas redes sociais, que tem cerca de oito contas nas redes sociais contra três em 2012, que 80% acessam o Facebook, que 23% dos jovens entre 16 e 34 anos buscam produtos recomendados por redes sociais. O consumo de vídeo é crescente. Um estudo da AT&T mostra que um vídeo de 4 minutos, que consumia 1 MB, em realidade virtual ele vai demandar 1 GB.  As redes de telecom e de WiFi vão ter que crescer até entregar 50GB/mês por usuário. Hoje, na Coreia e no Japão, o consumo já é de 4,5GB.

O segundo fator é que as redes 5G demandam mais sites em função da arquitetura de rede, o que exige mais fibra para interligá-los. E a unidade de acesso de rádio é centralizada (C-RAN) e colocada mais à distância, exigindo a construção de um backhaul. Resumindo, mais antenas, mais tráfego, mais fibra.

Tele.Síntese – Mas não existe uma contradição entre a tendência de tudo ser móvel e tudo ir para a nuvem e o aumento do consumo de fibra?
Marty – Não, em função do aumento do tráfego, que demanda fibra nas conexões e para escoar os dados. Na 5G, vamos ter um mix de fibra e WiFi. O mesmo vai acontecer nas aplicações em IoT. Em princípio, são aplicações que consomem poucos dados, que podem estar armazenadas na nuvem. Mas algumas aplicações especializadas, de segurança por exemplo, envolvendo reconhecimento facial, vão envolver muitos dados. Esse tipo de aplicação não deve viajar muitos quilômetros pois, para ela, o tempo de latência é muito importante. Deve ir para um data center local, que consome infraestrutura de rede óptica. O mesmo vale para muitas aplicações de corporações. Os data centers vão continuar existindo mesmo com o crescimento das aplicações em nuvem.

Tele.Síntese – Quando a baixa latência é vital?
Marty – Em aplicações que requerem que muitos dados sejam processados paralelamente, ao mesmo tempo, para se tomar uma decisão rápida. Onde meio segundo faz diferença. Num carro autônomo, por exemplo. Geralmente, em aplicações especializadas e sofisticadas.

Tele.Síntese – Em sua palestra, você mencionou que a tecnologia de transmissão óptica de longa distância, do final do século passado, está chegando perto do limite. Isso significa o que?
Marty – Os sistemas comerciais hoje, e o que já se anunciou, permitem chegar a 400 Gbps por lambda (comprimento de onda) na fibra. Esse é o limite da transmissão de dados possível. Para fazer mais, só colocando mais fibra.

Tele.Síntese – E como colocar mais fibra sem dobrar os custos?
Marty – Investindo em uma nova geração de fibras. É nisso que a área de inovação da Furukawa vem trabalhando. Desenvolvemos fibras como a rollable ribbon, que permite colocar 3.500 fibras em um único cabo de dimensões reduzidas; a NZD, uma fibra oceânica que vem sendo aplicada no ambiente terrestre em cabo de 144 fibras com diâmetro 35% menor e baixa perda de latência; ou ainda a OM5, uma fibra multimodo para ambiente interno, que permite fazer quatro transmissões em uma única fibra (comum na fibra monomodo, mas não na multimodo) e é de fácil instalação.

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Lia Ribeiro Dias

Seu nome, trabalho e opiniões são referências no mercado editorial especializado e, principalmente, nos segmentos de informática e telecomunicações, nos quais desenvolve, há 28 anos, a sua atuação como jornalista.

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