Apenas conectividade não resolve problemas do campo, defendem especialistas

Diretor do Ministério da Agricultura diz que setor agrícola é agnóstico em termos de tecnologia e considera que mesmo o 2G já resolve boa parte das demandas por automação e telemetria.

 

Levar a conectividade ao campo não se trata mais de apenas mecanizar a produção e ampliar as exportações de commodities brasileiras. Está em jogo também levar igualdade social da população a áreas remotas, defenderam os representantes dos segmentos de satélites e dos ISP em live do Facebook realizada hoje, 22, que debateu os desafios de conectar áreas rurais e remotas.

Para Luciano Stutz, presidente da Abrintel, não há uma bala de prata, mas diferentes soluções. Para ele, a mobilidade da conectividade do campo é muito importante em torno das vilas de até 1 mil habitantes. É importante que os compromissos de abrangência do 5G abranjam rodovias e vilarejos e distritos que não são sede de municípios e que foram contemplados em outros compromissos de abrangência.

“O edital de 2,5 GHz já previu cobertura de distritos que estavam num raio de 30 km da sede, atingindo parte da área rural, mas existem muitos distritos além desses 30 km”, defendeu Stutz.

Para transmissão ele disse que há iniciativas dos associados da Abrintel de construir redes de fibra neutras mas claramente, nos últimos anos, quem tem feito esse papel são os pequenos ISPs, com ligações de fibra óptica.

E lembrou que o ritmo de implantação de torres móveis poderia ser mais acelerado, mas esbarram nas legislações municipais. “Já ultrapassamos 5 mil protocolos de pedidos de construção de infraestrutura – torres, postes – ainda pendentes. Ainda tem a questão ambiental que hoje é uma bola dividida entre os entes federais e municipais. Se a gente não conseguir vencer a barreira do licenciamento ambiental e urbanístico, não vamos conseguir levar essa infraestrutura ao campo”, avisa.

Agricultura

Cleber Soares, diretor do Departamento de Apoio à Inovação para agropecuária do Ministério da Agricultura, diz que para acelerar a conectividade do campo é preciso fortalecer a regulação. O setor agrícola é agnóstico em termos de tecnologia e considera que mesmo 2G já resolve boa parte das demandas por automação e telemetria.

“Estamos nos preparando para o 5G, mas se tivermos 2G funcionando, já resolve em muito nossos problemas. E temos expectativa, no setor agrícola, de usar os espaços vazios (white spaces) de tecnologia analógica. Podem considerar tecnologia obsoleta, mas os EUA usam em praticamente 45% de seu território agrícola”, afirmou.

Ele cobra, ainda, que as empresas levem soluções além das tecnologias de conectividade. “Conectividade por si só não vai ser a salvação da lavoura. É uma das camadas acima da qual deve ter plataformas e serviços. Olhem para a oportunidade de modelo de negócios para o setor. Hoje temos 5,6 milhões de propriedades rurais e apenas 26% estão conectadas”, sugeriu Soares.

Satélites

Fábio Alencar, Presidente, Abrasat, diz que o setor tem conseguido reduzir os custos dos serviços de satélite. No Brasil todas as operadoras estão presentes com mais de 30 satélites, dos quais 10 já são na categoria HTS, de maior capacidade. Em 2021 serão lançados mais quatro satélites HTS que têm capacidade de centenas de gigabits. Além dos GEO, há satélites MEO, com previsão de mais 11 em 2021; e os LEO, constelações globais de baixa órbita com pelo menos quatro grandes sistemas a caminho, como Amazon, Starlink e Telesat.

“Alguns já estão pensando em oferecer serviços para a área rural. Um dos desafios é o backhaul e integração com outras tecnologias como móvel e WiFi. E em termos de inovação há os small satélites, constelações menores focadas em atender demandas específicas como IoT. Além da virtualização de elementos de rede com mais processamento nas pontas com cloud e edge computing que casa bem com os satélites. O mercado de IoT satélite é de US$ 12 bilhões”, diz Alencar.

Rafael Guimarães, presidente, Hughes do Brasil, informou que o foco da empresa são áreas onde não há conectividade onde pode ser melhor percebido o custo benefício, com serviços a valores de R$ 170 a R$ 220. A empresa conduz em parceria com o Facebook o projeto Comunidade WiFi usando o terminal de satélite como backhaul e abrindo o sinal para uma pequena comunidade por meio do WiFi, fatiando a banda com pacotes de dados mais acessíveis. O projeto já tem 1 mil sites e 35 mil usuários. “Junto com o Facebook estamos levando o projeto para a América Latina”, diz Guimarães.

José Roberto Nogueira, presidente da Brisanet, destacou que hoje há 35 milhões de habitantes em áreas rurais e a maior parte está desconectada e a que está conectada é por meio do WiFi ou 4G nas proximidades das cidades. O pequeno agricultor, responsável pela maior parte dos alimentos que vão para a mesa dos brasileiros, não tem tecnologia e seu filho não deve seguir o negócio.

“Temos de levar conectividade rural para ter automação. O maior salto de todos os segmentos vai ser no pequeno produtor e fazer a maior disseminação de conhecimento dos próximos anos. Para isso tem de ter conectividade. A Brisanet já oferece conectividade no campo desde 1998 e a partir de 2011 também com fibra. Em 2024 não haverá cidade sem fibra, já estamos colocando fibra em distritos”, prevê Nogueira.

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Carmen Nery

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