A sustentabilidade do crédito

Ainda que haja instituições fortes, ambiente regulatório favorável e um setor de birôs de crédito saudável, é imprescindível que se garanta uma atmosfera positiva e de desenvolvimento também para o tomador de crédito por meio da educação financeira.
A sustentabilidade do crédito foto: Divulgação
Elias Sfeir, presidente da ANBC Crédito foto: Divulgação

* Elias Sfeir 

Onipresente e amplo, o termo sustentabilidade tem sido aplicado também ao mercado de crédito, uma vez que a combinação de um ambiente regulatório saudável com instituições fortes é capaz de viabilizar políticas de crédito conscientes e responsáveis. Tais políticas devem favorecer empréstimos e financiamentos com um olhar na saúde e sustentabilidade do negócio do credor e outro nas condições financeiras e na prevenção do superendividamento do tomador.

Um ambiente regulatório favorável e transparente, que desestimula práticas lesivas, fortalece a livre iniciativa e o mercado como um todo, incentiva as empresas a investir em tecnologia, a tornar mais eficiente a análise de risco e a ampliar seus negócios, contribuindo para a geração de empregos e fortalecimento da economia.

Desta forma, o crédito sustentável é aquele fundamentado em informação, inclusive de inadimplência, pois a dificuldade de acesso a esses registros contamina o processo de concessão e todo o ecossistema do crédito. Do ponto de vista do tomador, quanto mais informações a seu respeito estiverem disponíveis, menores serão as chances de inadimplência e superendividamento. Assim, a sustentabilidade do crédito estará preservada se o tomador conseguir honrar seus compromissos.

Nesse contexto, o crédito sustentável fomenta investimentos, aumenta a oferta de bens e serviços, impulsiona a economia, fortalece a livre iniciativa, ajuda as empresas a se perpetuar e contribui para o bem-estar da sociedade. A base para uma boa análise de risco é a qualidade dos bancos de dados, portanto quanto mais amplo e atualizado for o quadro de informações sobre os tomadores de crédito e seus históricos, melhor e mais eficaz será o funcionamento da economia. Mas, de nada adianta coletar um amplo leque de dados sem que haja facilidade na disponibilização e acesso dos interessados autorizados.

É aí que entra a eficiência e a especialização dos birôs de crédito. Em todo o mundo, a qualidade do trabalho dos birôs guarda relação direta com o volume e qualidade das informações a que têm acesso e, no Brasil, o cenário se repete. Nesse sentido, é fundamental a sinergia que o setor de birôs de crédito mantém com o Ministério da Economia, Banco Central, agências reguladoras, entidades setoriais e demais agentes
envolvidos.

O uso intensivo e propositivo da tecnologia na obtenção e tratamento das informações tem-se mostrado fundamental para que os birôs possam construir e gerenciar bancos de dados robustos e eficientes, um trabalho que se completa com o armazenamento e a segurança das informações recebidas de suas fontes.

Os birôs proporcionam a quem concede crédito o conhecimento do cliente em potencial e ferramentas para a avaliação dos riscos envolvidos. Pessoas e empresas podem contar com os serviços dos birôs para mitigar riscos, como consultas de CNPJ ou CPF, que facilitam o estabelecimento de categorias de clientes, permitindo que se determine condições específicas para cada uma delas. Os birôs ainda monitoram documentos e transações, geram alertas e relatórios, oferecem sistemas antifraude, soluções em biometria e reconhecimento de comportamento digital, bem como feirões de renegociação. Tudo para que a política de crédito e recuperação de dívidas seja a mais eficiente possível.
Em suma, o amplo portfólio de produtos e serviços disponibilizados pelos birôs ajuda a formar uma “big picture” do tomador.

Democratizar conceitos básicos

No entanto, ainda que haja instituições fortes, ambiente regulatório favorável e um setor de birôs de crédito saudável, é imprescindível que se garanta uma atmosfera positiva e de desenvolvimento também para o tomador de crédito por meio da educação financeira. Mesmo com todo conteúdo disponível sobre finanças e investimentos, ainda há que se democratizar o entendimento de conceitos básicos, tal como o cálculo da taxa real de juros de um financiamento.

O Brasil é diverso, extenso e plural e o desafio das iniciativas em educação financeira é converter conhecimento em prática diante desse cenário multifacetado. Transformar educação financeira em atitude financeira é fundamental para permitir que recursos recebidos como empréstimo ou financiamento tragam bem-estar real à vida de pessoas ou empresas.

Para fechar o ciclo da sustentabilidade do crédito é mandatório também tratar do conceito ESG. No mundo de hoje, empresas que possuem boa governança, olhar atento ao meio ambiente, que remuneram de forma justa sua força de trabalho e que respeitam a diversidade na amplitude que o termo exige, têm mais chances de sobrevivência e perpetuação em mercados cada vez mais dinâmicos e competitivos.

Em síntese, sob uma ótica complementar, o setor de birôs de crédito fomenta o “S” da agenda ESG à medida que democratiza o crédito a um contingente até então excluído do mercado. Ao dar visibilidade a pessoas, empresas e empreendedores até então alijados desse mercado por causa de restrições, negativação e falta de histórico, o setor de birôs de crédito exerce o “S”, do Social, em estado puro.

* Elias Sfeir é  presidente da Associação Nacional dos Bureaus de Crédito (ANBC)

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Redação DMI

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