5G deve acabar com gargalos da banda larga móvel, prevê analista da OpenSignal

Para Ian Fogg, analista da OpenSignal, 5G ainda não está madura, mas já entrega velocidades e estabilidade superiores que o 4G nos países onde foi implantada. Segundo ele, usar a banda de 3,5 GHz pode ser a solução para trazer a quinta geração ao país sem ter de implantar novas antenas.

O 5G está chegando. A primeira licitação de frequências no Brasil com foco em 5G deve acontecer no primeiro trimestre de 2020. Para o mercado, significa que a oferta da tecnologia virá a partir de 2021, no melhor dos cenários.

Mas, para o consumidor brasileiro, o que importa é que o sinal e a velocidade estejam à altura da expectativa gerada em torno da tecnologia. No caso, que o acesso seja muito mais rápido, estável, e menos sujeito a gargalos nas horas de pico.

Para Ian Fogg, analista sênior da consultoria OpenSignal, o grande benefício da rede 5G no começo será a redução das oscilações de velocidade do acesso. Hoje, no LTE, a conexão móvel no Brasil varia, em média, de 16 a 28 Mbps. Significa que a velocidade pode mudar até 75% ao longo de um dia. Com a 5G, essa variação se reduzirá. “A 5G terá a fundação necessária em capacidade de rede para resolver as flutuações malucas que vemos hoje”, afirma.

A seu ver, é importante as operadoras investirem na banda de 3,5 GHz, pois esta permitirá ligar a 5G no país usando as torres e sites que hoje já possuem – evitando os problemas de licenciamento urbano encontrado nas cidades. Confira, abaixo, a entrevista que fizemos com o analista.

Tele.Síntese: Há hoje um dilema no Brasil. As pessoas reclamam da falta de sinal, enquanto as operadoras reclamam da incapacidade de construir torres e instalar antenas em função de leis municipais que as impedem de fazê-lo. A 5G pode evitar o colapso da telefonia móvel no Brasil, como alegou o SindiTelebras no último Encontro Tele.Síntese?

Ian Fogg, analista sênior da OpenSignal – A 5G não se trata apenas de velocidades mais rápidas. A tecnologia vai aumentar a capacidade da cobertura. Novas bandas de espectro em alta frequência vão reduzir o congestionamento que hoje afeta a experiência de uso das redes 4G.

A 5G deve ser capaz de promover este alívio. A 5G é normalmente associada a velocidade, mas acho mais significativo o fato de que trará a fundação necessária em capacidade de rede para resolver as flutuações malucas que vemos hoje nas velocidades em 4G. A 5G vai usar várias bandas, incluindo aquelas atualmente dedicadas a 3G e 4G. Nos casos de frequências mais baixas, as operadoras não vão precisar de novos sites para lançar a quinta geração.

Há quem diga que a 5G vá demandar muitas antenas, além dos sites já existentes para LTE, por toda a cidade. O cenário legal brasileiro, em que municípios restringem as instalações, não é um risco à nova tecnologia?

Fogg – Por política da OpenSignal, não posso tecer uma opinião pessoal.

A OpenSignal já está analisando o resultado nos acessos móveis da implantação da 5G em alguns países? Como a tecnologia está de fato se saindo, se comparada com a 4G?

Fogg – O primeiro país de fato com ampla adoção da 5G é a Coreia do Sul. Ali, as análises da OpenSignal mostram que a velocidade do download subiu 48% entre os usuários com os smartphones 5G comparados com os donos de smarphotnes 4G mais modernos, ficando em 111,8 Mbps em média. Comparado aos demais smartphones, houve aumento de 134% na velocidade. Essa métrica deve melhorar às medida que a 5G se torne mais popular e a tecnologia amadureça.

É importante notar que a velocidade máxima experimentada em um smartphone 5G é muito maior que a média da velocidade de download. Por exemplo, nos Estados Unidos os usuários chegam a ter velocidades de 1,2 Gbps quando conectados a CDNs – e não estou falando de servidores especiais de teste.

Na Coreia do Sul, a velocidade máxima que registramos foi de 988 Mbps, o que é 8,8 vezes mais rápido que aqueles 111,8 Mbps obtidos na média da 5G.

No momento, os usuários com smartphones 5G se conectam tanto através de bandas 4G, quanto através de bandas 5G NR não é autônomo (“non-standalone”). Ou seja, o sistema está usando a banda 5G para download, enquanto o 4G é usado para as outras funções de rede. Quando as operadoras lançarem serviços totalmente 5G, a latência deve cair significativamente, melhorando a experiência do usuários em jogos multiplayer como Fortnite e PUBG, assim como o uso de comunicações feitas pela internet, como FaceTime, Tando, WhatsApp etc.

Nossa expetativa é de que a experiência dos usuários 5G mude ao longo de 2019, conforme a cobertura melhores e os fornecedores corrijam algumas falhas. À medida que o número de usuários cresça, poderemos analisar melhor os mercados e ver se a 5G condiz com o hype. Por enquanto, ainda no começo da implantação, as medidas mostram não como é de fato o desempenho da 5G, mas como ela está evoluindo.

E como as operadoras vão conseguir melhorar o sinal no Brasil, onde há dificuldade em instalar novas antenas?

Fogg – Novamente, como se trata de uma opinião pessoal, não posso comentar.

Como a 5G pode resolver os gargalos e congestionamentos nas redes, entregar acessos mais estáveis e mais rápidos ao longo de todo o dia, mesmo que o número de antenas não seja o ideal?

Fogg – O estado atual das redes 4G e dos congestionamentos pode ser verificado nas velocidades de donwload. O relatório mais recente que fizemos mostra que os melhores horários da rede são normalmente aqueles em que os usuários estão dormindo. Neste momento, as redes conseguem entregar mais velocidade do que durante o dia.

O usuário brasileiro tem em média velocidade de 18,6 Mbps de download no 4G. Mas esta velocidade varia de 16,4 Mbps, quando há mais acessos simultâneos na rede, até 28,6 Mbps, quando há menos gente conectada. Também identificamos diferenças enormes na velocidade experimentada pelos usuários conforme a cidade onde ele está.

O congestionamento hoje visto na 4G está tornando a rede mais lenta, o que torna evidente a necessidade do ganho de capacidade da 5G para reduzir essa pressão.

Mas há lições que temos de tirar de mercados nascentes em 5G, como a Coreia do Sul, já que a tecnologia é muito nova, diferente e imatura. Conforme os fornecedores resolvam problemas significativos e refinem suas soluções, o pico e a média de velocidade na 5G vão melhorar. Algumas frequências não estão disponíveis em alguns países – por exemplo, 3,5 GHz nos EUA e ondas milimétricas na Europa – mas estarão em alguns anos e o aprendizado da implementações de hoje vai melhorar as próximas instalações.

Promover uma experiência móvel consistente é um dos desafios que as operadoras enfrentam. Os usuários de smartphone deveriam poder ter essa experiência quando consomem conteúdo móvel, não importa onde estejam ou em qual hora acessem. Os dados que temos do Brasil sugerem que as operadoras ainda têm um longo caminho a percorrer para reduzir as inconsistências medidas e garantir que o usuários desfrute de uma boa experiência móvel em qualquer lugar e hora.

Nós não nos distraímos com o que dizem que a 5G pode ser. Simplesmente medimos a experiência do mundo real, dos usuários para ver se um serviço é melhor ou pior que outro.

Neste cenário, qual frequência desponta como importante para que o regulador distribua no futuro?

Fogg – Nos 3,5 GHz, que atualmente não são usados nem para 3G, nem para 4G, os fornecedores dizem que as operadoras serão capazes de lançar 5G usando uma topologia similar à existente hoje para a 4G, mesmo que seja uma frequência mais alta. Conforme as redes 5G sejam lançadas, iremos medir e ver o quanto de verdade há nessas alegações. Apenas no caso de uso de frequências muito novas e altas, como as ondas milimétricas, é que as operadoras vão precisar de um grande número de novos sites para a 5G.

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Rafael Bucco

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