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Banda larga

Qualcomm defende 6 GHz integral para WiFi: “Não é muito espectro”

Destinação de 500 MHz, em vez da totalidade da banda (1.200 MHz), prejudica uso do WiFi 6E e 7 a plena capacidade, em razão da limitação dos canais de frequência, afirma diretor da empresa
Qualcomm defende destinação integral da banda de 6 GHz para o WiFi
Hamilton Mattias, diretor de Produtos da Qualcomm; empresa defende banda integral de 6 GHz para o WiFi (crédito: Divulgação/Qualcomm)

Liderando demonstrações de WiFi 6E e 7 no Brasil, a Qualcomm reforçou a defesa pela destinação integral da faixa de 6 GHz – isto é, os 1.200 MHz de banda – para serviços não licenciados, inclusive em ambientes externos (outdoor). Para a empresa, o destino de apenas 500 MHz para o WiFi, possibilidade que ganhou força durante a Conferência Mundial de Radiocomunicações (WRC-23), prejudica o uso pleno das redes sem fio de última geração, sobretudo em ambientes de grande concentração de pessoas.

Em entrevista ao Tele.Síntese, Hamilton Mattias, diretor de Produtos da Qualcomm, destaca que, caso o Brasil tome a opção por destinar 700 MHz para o uso licenciado (rede móvel), a experiência proporcionada pelo WiFi ficará aquém do absoluto potencial.

“A capacidade total do WiFi fica prejudicada. Se ficar só com 500 MHz, vai ter apenas um canal de 320 MHz. Hoje, nós temos três”, afirma Mattias, referindo-se ao espaço de frequência proporcionado pela integralidade da banda.

De acordo com o executivo, o WiFi 6E e 7, configurados para fazer uso da frequência de 6 GHz, devem proporcionar qualidade de conexão em ambientes de aglomeração, como estádios, shoppings e parques. No entanto, indica que, em áreas amplas como essas, é preciso dispor de cinco a sete canais livres para fazer uso adequado da faixa, incluindo canais que impedem que os pontos de acesso gerem interferências entre si.

“É preciso ter banda. Para usar 320 MHz, com um só canal, não consigo, tenho que usar 160 MHz. Ou até, como com 500 MHz só se tem três canais de 160 MHz, precisa-se usar canais de 80 MHz. Assim, na cobertura em grandes espaços e em áreas de grande densidade em geral, a rede fica limitada a uma menor capacidade, porque não dá para usar canal de 320 MHz”, ressalta Mattias.

“De 320 MHz para 80 MHz, você tem um quarto da capacidade. Então, aquela divisão por milhares de usuários fica uma experiência pior”, assegura, em entrevista concedida a este noticiário no domingo (17), após uma demonstração de WiFi 7 e 6E no Autódromo de Interlagos, durante a etapa final da temporada de 2023 da Stock Car.

Nesse sentido, o executivo afirma que, para se utilizar toda a capacidade da rede sem fio de sétima geração, assim como do 6E, é importante contar com toda a frequência. “Não é muito espectro quando falamos em um serviço não licenciado que precisa conviver com outras interferências”, frisa.

O diretor da Qualcomm ressalta que, diferentemente das redes móveis, o WiFi pode ser usado em ambientes externos com o auxílio do AFC, uma plataforma que visa a impedir interferências na faixa. Caso parte da frequência seja destinada ao 5G, será preciso limpar a faixa, uma vez que há enlaces micro-ondas que utilizam a banda de 6 GHz, os quais precisariam ser migrados para outro ponto do espectro.

“Para colocar o IMT [serviço móvel] nessa faixa, não pode ter os serviços que existem nela hoje. Vai ter que limpar, assim como foi feito para retirar a TVRO [TV aberta transmitida por satélite] da banda de 3,5 GHz. (…) É um trabalho que pouca gente comenta, mas tem que fazer”, reforça.

Benefícios para o WiFi

De acordo com Mattias, os benefícios da faixa de 6 GHz para o WiFi vão desde a fabricação de equipamentos ao fornecimento de conectividade em escolas em áreas afastadas dos grandes centros.

No primeiro caso, como as redes sem fio já contam com a banda de 5 GHz, é mais fácil produzir dispositivos que podem operar nas duas frequências, em razão da proximidade.

Além disso, em instalações com áreas fechadas e abertas, como muitos estádios de futebol e autódromos, é preciso ativar redes WiFi indoor e outdoor para ter conectividade com qualidade em todos os pontos.

“Outro exemplo, uma escola rural em que é difícil chegar fibra. Para levar uma banda larga de qualidade, pode pôr um rádio ponto a ponto trabalhando nessa frequência. Hoje, já há sistemas que operam a 50 km assim”, diz o executivo.

E o 5G?

Na avaliação do diretor da Qualcomm, em vez de destinar parte da disputada frequência de 6 GHz para a quinta geração móvel, é mais interessante alocar a rede celular em outras faixas do espectro, sobretudo mais baixas, como a de 4,8 GHz, ou outras que estão sendo estudadas para harmonização internacional e com a futura tecnologia 6G.

“É isso que achamos melhor: deixar esse espectro [6 GHz] para os serviços não licenciados e atribuir outra parte para o 5G, até com benefícios. Quando mais baixa a frequência para 5G, melhor, porque ganha-se uma área de cobertura maior”, sugere Mattias.

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