PORTAL DE TELECOM, INTERNET E TIC

Entrevistas

Os planos da Ligga Telecom para o 5G

O CEO da Ligga Telecom, Adeodato Netto, contou os planos para lançamento do 5G em Manaus. De olho no mercado corporativo, empresa vai ativar redes privativas de quinta geração em São Paulo e Paraná em 2024.
Adeodato Netto, CEO da Ligga Telecom
Adeodato Netto, CEO da Ligga Telecom, fala sobre os planos para o 5G

Entrante no mercado móvel na região Norte e no Sudeste, a Ligga Telecom vai ativar até novembro 20 estações 5G para atender, com tecnologia FWA (banda larga fixa via rede móvel), as indústrias de Manaus (AM). Nesta entrevista exclusiva ao Tele.Síntese, o CEO do grupo, Adeodato Volpi Netto explica o racional por trás do lançamento prioritário na Zona Franca, e ressalta que no começo de 2024 vai inaugurar projetos de redes privativas em São Paulo e Paraná também.

No varejo, conta, vem negociando parcerias com outros novos competidores no mercado celular. Vale lembrar que a empresa comprou espectro no leilão da Anatel de 2021 em consórcio com a Unifique, que vai atender Santa Catarina e Rio Grande do Sul com a tecnologia. Leia, abaixo, a entrevista:

Tele.Síntese – Você estava no painel da Futurecom sobre a portaria do Poste Legal. O que achou da política?

Adeodato Netto – Eu fiquei satisfeito em ver as duas agências convergindo numa agenda única. Porque a função das agências é agir em defesa do consumidor. Essa formação de consciência das agências, de que a agenda conjunta é fundamental e de que este assunto é um ponto nevrálgico da discussão de estabilidade para o desenvolvimento desse setor, é importante. Quando eu vejo as agências convergindo, quando eu vejo uma portaria interministerial tornando isso uma política pública prioritária, antes de criticar, antes de dizer ‘não é o que eu quero’, prefiro esperar e entender para onde vai a mentalidade.

Para mim, está virada para o lado certo porque as agências convergindo é algo sem precedente dentro desse setor. Pode me chamar de otimista.

Independente da letra absoluta desse primeiro documento, ainda tem muita coisa para ser esclarecida do que veio ao público. Minha visão é de convergir para um ponto economicamente ideal que melhore a vida do consumidor e que distribui essas obrigações e os pesos entre os players. E aí tem o informe de fiscalização, tem várias derivadas disso que ainda precisamos olhar, mas eu acho que é um tema muito crítico que pela primeira vez está sendo endereçado de maneira efetiva.

Bom, na Futurecom vocês tiveram um stand e apresentaram novidades. Eu queria saber do projeto 5G da Ligga Telecom. Vocês anunciaram a implantação de 20 ERBs em Manaus até novembro. Qual é o público-alvo?

Adeodato Netto – A gente tem um lado de desenvolvimento corporativo muito grande, que está no DNA da Ligga. O nosso enterprise é super forte. A gente tem esse aspiracional de crescimento nacional, em múltiplas regiões, e a gente tem a região Norte [para atender com o espectro do 5G comprado em 2021]. A primeira coisa antes de fazer o projeto foi nos aproximar, conversar com a região para entender se havia demanda específica para aquilo.

Como qualquer negócio de investimento de infraestrutura, são ciclos um pouco mais longos. Quando você leva uma inovação, você passa por um processo de adesão a cada ciclo implementado desse projeto. A gente está muito seguro porque a gente vem trabalhando com a região. A ABDI, lá atrás, quando começaram essas discussões, engajou muitos players locais. A gente trocou muito, ouviu muito. Está sendo um primeiro passo para nossa presença no Norte, que é uma região gigante e que tem muito potencial para ser explorado.

Esse movimento é corporativo. E o 5G da Ligga Telecom no varejo, já tem planos?

Adeodato Netto – A equação do varejo, não é necessariamente clara qual é a melhor maneira. A gente tem o espectro 3,5 GHz, e tem ainda uma limitação de devices, de aparelhos. A maioria dos aparelhos do país não conversa com esse espectro. O setor precisa aprender a cooperar. Se a gente vai ter múltiplos espectros entregando uma solução, vale compartilhar no varejo para atender o cliente final. É uma solução mais inteligente do que esperar que tudo isso se adeque de trás pra frente. A equação passa pelo compartilhamento desse risco de investimento e de soluções que vão levar a novas áreas uma tecnologia que hoje não está disponível.

Eu não tenho pronto, e eu não sei se alguém tem, a equação resultante de cada nicho. Acho que o varejo vai passar obrigatoriamente, – no mundo dos novos players, não dos incumbentes -, por cooperação, pelo  entendimento de quem pode entregar o quê em cada região. E aí o usuário final acaba beneficiado.

Isso quer dizer que a Ligga Telecom está pensando em fazer parceria de RAN Sharing para atender com 5G no varejo?

Adeodato Netto – É uma das hipóteses. A gente tem um time de desenvolvimento pensando só no 5G em todas as frentes. A gente tem a agenda de obrigações super clara, está dentro do nosso timeline de investimento. Agora, como um modelo de negócio definitivo, o próprio mercado está se ajustando e discutindo. Qual vai ser o modelo definitivo? Não sei.

Suas obrigações não exigem a construção da infraestrutura até 2026?

Adeodato Netto – Não, eu preciso entregar o serviço. Eu preciso entregar lá o serviço. A responsabilidade de garantir que seja entregue é minha, mas nada me obriga a construir tudo sozinho e ser o único operador.

Você estão conversando com outros operadores? Com quem?

Adeodato Netto – Tem bastante gente se mexendo. Tem bastante gente ouvindo. Estamos falando com bastante gente.

E em Londrina, vocês têm plano específico para a cidade?

Adeodato Netto – Em Londrina a gente tem a Sercomtel, e ali é uma discussão muito mais pé no chão, estamos olhando pro core, olhando para aquilo que a gente pode fazer ali. É área em que a gente tem uma presença muito forte, é super importante historicamente, e olhar para o investimento proprietário ali faz todo o sentido.

Então, resumindo, a Ligga Telecom vai lançar rede própria 5G de varejo na área de atuação da Sercomtel, e nas outras áreas do Brasil vai chegar via B2B?

Adeodato Netto – Aí você está correndo mais rápido do que eu. Tem muita coisa disso que ainda não está definida. Os projetos, os investimentos, eles são invariavelmente grandes e dependem de um processo de avaliação. Eu venho de mais de 20 anos de mercado financeiro, de alocação de capital de risco. Tenho um time de telecom muito bom, mas o meu papel presidindo a companhia é trazer a garantia de alocação diligente de capital dentre as alternativas que estão postas à mesa. Então a gente não tem definido ainda qual é o modelo absoluto. A gente não vai demorar para decidir. Hoje o time trabalha intensamente para a gente decidir, em cada região, qual vai ser a estratégia.

Eu acho que a maneira como o mercado está disposto e conversando a bons termos e com bom olhar de desenvolvimento conjunto, a cooperar em diferentes regiões, muito provavelmente nos leve a tomar decisões diferentes em regiões diferentes. Mas eu ainda não tenho a versão final do que que eu vou fazer em cada região.

Vocês avaliam o risco de a Sercomtel perder clientes móveis se demorar a ativar o 5G na região?

Adeodato Netto – A Sercomtel tem uma relação de marca muito profunda com a região. O Paraná tem muito disso. A gente captura muito na Ligga o legado da Copel Telecom. A fibra da Copel sempre foi objeto de orgulho do estado. Hoje temos um time data driven que faz pesquisa qualitativa e pesquisa quantitativa para entender a propensão de consumo para eu aplicar isso no meu processo decisório de investimento. É um setor que se transforma muito rápido, eu acho que tomar decisão em cima de informação consistente com dados vai nos ajudar a ter empresas mais rentáveis e projetos mais bem sucedidos.

Porque Manaus recebe o 5G primeiro? Qual o roadmap do projeto 5G de vocês?

Adeodato Netto – Essa é uma boa pergunta. Quando eu olho o Paraná, das 1.000 maiores indústrias do Paraná, 570 já são meus clientes. Com eles a gente já vem conversando. O nosso acionista tem uma visão muito construtiva para a Amazônia, para aquilo que pode ser desenvolvido na região Amazônica. Tem um lado de, efetivamente, desenvolvimento regional. Tem um lado também oportunístico, em ser o primeiro a chegar, em apoiar, ser inovador e andar na frente. Quando a gente foi fazer o teste dessa sensibilidade de demanda, ela foi super bem aceita.

A gente tem esse DNA, que passa pelo próprio acionista, de ser inovador, de ir para aqueles movimentos que não são necessariamente óbvios, e nesse caso a gente concorda muito com a oportunidade que se tem lá.

Agora, temos pelo menos seis projetos andando em paralelo entre o estado do Paraná e o estado de São Paulo de maneira consistente, pensando nas nossas outras áreas de 5G. Em 2024, já no primeiro semestre, a gente vai ter com certeza coisa implantada, sempre nesse modelo de geração de valor via o corporativo. 

Pode dar mais detalhes desses seis projetos? É indústria também?

Adeodato Netto – São clientes que a gente estuda levar soluções dentro dessas regiões. Esse que a gente está divulgando aqui [Manaus] tem um valor estratégico interessante e já tem cronograma de implementação. Mas a gente tem alguns projetos já tomando corpo para investimentos em soluções de redes privativas feitos em outras regiões que não a região Norte.

O perfil destes investimentos também é chegar em condomínios industriais? Esse é o modelo prioritário da Ligga?

Adeodato Netto – Não, mas ele se mostrou eficiente porque o benefício é tangível para quem está lá. O setor caminha para receber melhor e para abraçar melhor players que entendam a necessidade de geração de valor. Eu discordo de quem afirma que o setor é uma commodity, que a conectividade qualquer um entrega. No lado corporativo, a gente ser capaz de compreender o universo dos mercados [não é simples]. Você olha Manaus. Ali você tem uma equação, uma complexidade de logística natural daquela região. Então, ser capaz de chegar com tecnologia de baixa latência, conseguir fazer a integração com outros pontos, com outras áreas, pode fazer muito sentido. No Paraná, estamos olhando muito para o agronegócio, em levar soluções para dentro do agronegócio.

Ou seja, eu vou trabalhar, eu vou investir onde eu efetivamente movo a agulha dos meus clientes. É assim que eu me consolido como um player importante, estratégico dentro do mundo 5G. A nossa estratégia é comprovar a geração de valor a partir da solução que a gente leva.

Quais são os fornecedores lá em Manaus?

Adeodato Netto – O projeto é feito com a Nokia, que entrega o core e parte dos equipamentos de transmissão. Os rádios são da Jugano e os CPEs são da Intelbras. O FWA é instalado em 20 postes de iluminação pública, dentro do Distrito 1 da Zona Franca de Manaus, onde tem a possibilidade de alcançar 400 indústrias. Agora, existe um potencial muito além. Este é o primeiro passo para o desenvolvimento de modelos adicionais de redes privativas e tudo derivado disso, inclusive com uso de espectro não licenciado.

TEMAS RELACIONADOS

ARTIGOS SUGERIDOS