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Anuário TeleSíntese

Smartphones: sem grandes turbulências

O segmento de smartphones, que deve registrar um pequeno recuo nas vendas em 2018, enfrentou a crise do ano sem grandes abalos, graças a seu estágio de maturidade.

O Tele.Síntese está publicando periodicamente os textos do Anuário Tele.Síntese de Inovação 2018, publicado pela Momento Editorial no último trimestre do ano. Confirma, abaixo, mais uma das reportagens sobre os rumos das inovações no setor de telecomunicações.

Smartphones: sem grandes turbulências

Apesar da crise, o Brasil conseguirá manter em 2018 sua posição de quarto maior mercado de smartphone do mundo, depois da China, dos Estados Unidos e da Índia. Os 47,6 milhões de aparelhos vendidos em 2017 contribuíram para o crescimento de 9,7%, o segundo melhor desempenho da história, após dois anos de queda. A expectativa para este ano, no entanto, parece ser menos promissora. Impactos causados por oscilação do dólar, greve dos caminhoneiros e incertezas da macroeconomia e das eleições presidenciais favorecem a redução (- 0,2%), o que deve configurar um mercado de 47,6 milhões de equipamentos.

“Se considerarmos o caos em que vivemos, trata-se até de um crescimento positivo”, diz Reinaldo Sakis, gerente de pesquisa e consultoria de consumer do IDC Brasil. Segundo ele, os fabricantes
devem se recuperar aos poucos do baque. Os equipamentos comercializados até maio de 2018 não sofreram reajustes, pois os componentes foram vendidos com o dólar cotado a R$ 3,25. Em
compensação, de maio a junho, as empresas começaram a enfrentar o prejuízo.

A previsão de crescimento limitado acirra ainda mais a disputa entre os fabricantes, especialmente os grandes, que respondem por 67,9% do mercado, conta Mikako Kitagawa, analista de pesquisa do Gartner baseada nos Estados Unidos. A Samsung tem cota de 32,6%; Motorola fica com 25%; e LG, com 10,3%. Há expectativa, no entanto, de que algumas das movimentações anunciadas em junho deste ano, como uma nova parceria ou chegada de um novo player, provoque mudanças no cenário atual.

Entrar em um mercado, como o brasileiro de smartphone, no qual o consumidor preza pela reputação da marca, não é trivial para um fabricante desconhecido localmente. Não basta ter um bom produto. Para se estabelecer aqui é necessário desenvolver parcerias consistentes com canais de vendas, redes varejistas e operadoras.

Afinal, trata-se de um mercado já vivendo a sua maturidade. E essas alianças costumam demandar investimentos elevados. A asiática Xiaomi, considerada a Apple chinesa, é o exemplo de uma experiência frustrada no Brasil. “Faltou-lhe apoio para atuar aqui”, explica Sakis. Classificada como a quinta maior empresa de smartphone do mundo, com 92,7 milhões de aparelhos
vendidos globalmente em 2017, teve uma passagem meteórica pelo Brasil por total desconhecimento da dinâmica do mercado nacional.

O varejo brasileiro é muito forte, considerado um dos melhores em negociação no mundo. Sua participação é gigantesca no mercado de smartphones: compra diretamente dos fabricantes
e vende a crédito, em até dez vezes sem juros aos usuários. Outra peculiaridade diz respeito às questões tributárias. “Entender isso, fazer o negócio de forma correta e conseguir desempenhar
bem são os principais requisitos”, frisa Norberto Maraschin Filho, vice-presidente de mobilidade e negócios internacionais da Positivo Tecnologia.

Huawei faz frente à Samsung

Quatro anos após uma experiência mal sucedida com dispositivos intermediários, a chinesa Huawei – considerada a terceira maior fabricante global de smartphone, com 11,3% de share no setor,
no ano passado – volta a vender aparelhos no país, a partir de setembro, em parceria com a Positivo Tecnologia. Esta última perdeu mercado em 2017, mas estabeleceu alianças com várias marcas
de entrada com custo-benefício de até R$ 700.

“Trata-se de uma parceria ganha-ganha”, explica Sakis. O conhecimento adquirido na área de computadores permitiu à Positivo Tecnologia desenvolver um relacionamento sustentável com as cadeias varejista, de distribuição e de tecnologia. Por outro lado, a qualidade dos produtos da chinesa, considerada líder global em inovação no quesito câmera, poderá ampliar a participação da parceira brasileira nas categorias intermediário e premium. A expectativa de fabricantes é de que a chegada da Huawei ao mercado possa afetar marcas que concentram sua linha de produto no segmento high-end.

No início os celulares Huawei da linha P20 para o segmento premium serão importados e vendidos via e-commerce e em quiosques. Dependendo dos resultados, os equipamentos passarão a ser
fabricados junto com a Positivo, que na parceria responde pela negociação com a cadeia varejista, importação, pós-venda e marketing. O diferencial das famílias P20 e P20 Pro é a câmera tripla Leica, considerada a de mais alta contagem de pixels em um smartphone, com sensores de 40 MP RGB, monocromático de 20 MP e outro de 8 MP com lente teleobjetiva. É capaz de identificar mais de 500 cenários em 19 categorias, estabilizar fotos tiradas manualmente à noite e apresentar composições assistidas em inteligência artificial.

A Positivo Tecnologia, que concentra maior volume de vendas em aparelhos da linha Quantum na faixa de R$ 500, também anunciou em junho sua série Android para celulares de entrada, como resposta aos aplicativos mais rápidos. “Somos a única empresa na América Latina a desenvolver todos os padrões de segurança em parceria com a Google Android. O Android Go vai mudar a mentalidade de que a boa experiência está apenas relacionada a smartphones mais sofisticados”, diz Maraschin Filho. A linha Twist Metal 32 GB S531 Mini S431, dois modelos com Quad Core, conta com telas de 4 e 5,2 polegadas, respectivamente, e o sistema Oreo-versão Go. O novo Android vem embarcado também nos recentes lançamentos da Alcatel e Multilaser.

De acordo com dados do IDC Brasil, os aparelhos intermediários têm apresentado crescimento de dois pontos percentuais nos últimos quatro trimestres e, constantemente, ganham espaço no
lançamento de novos produtos. Já o segmento premium não apresenta linearidade; flutua conforme a sazonalidade.

A categoria de smartphones intermediários, entre R$ 700 e R$ 1.099 respondeu por 49% das vendas em 2017; os aparelhos de entrada, de até R$ 600, por 22%; os modelos high-end ou top de linha, de R$ 1.100 a R$ 1.199, por 20%. Os modelos premium, de R$ 2.000 a R$ 2.999, fecharam com 3% e foram os que apresentaram maior crescimento de mercado, 80% em relação a 2016. Os modelos super premium, acima de R$ 3.000, representaram 5% das vendas.

Consumidor consciente

Os smartphones no Brasil costumam ser trocados a cada dois anos, e é cobrado dos fabricantes entregar equipamentos cada vez mais parrudos, com preços justos e competitivos. O preço médio
do produto vem crescendo em função de melhorias técnicas incrementadas nos aparelhos, que evoluíram nos últimos anos. Isso se deve ao melhor entendimento do usuário sobre as funcionalidades do produto que está comprando e à sua real necessidade.

“Podemos sentir uma evolução no perfil do consumidor brasileiro, porém, com exceção de São Paulo, seu poder de compra ainda é um limitante”, explica Sakis. Se considerarmos essa região, o mercado brasileiro hoje apresenta-se tão maduro em proporção de vendas quanto o americano, o europeu e o asiático. Em São Paulo, o ticket médio é US$ 344, semelhante ao dos Estados Unidos, de US$ 353. “O usuário costuma optar por marcas que tenham presença, rede de assistência técnica e canais de atendimento online. Ele está cada vez mais informado sobre as recentes inovações, especialmente no que diz respeito a câmeras”, explica Renato Citrini, gerente sênior de produtos da divisão mobile da Samsung. Segundo ele, enquanto nos Estados Unidos e na Europa um aparelho de entrada premium com 32 GB de memória satisfaz, no Brasil a maior procura é por equipamentos com câmera de qualidade e um grande diferencial de memória.

A Samsung conta com um portfólio robusto e foco em todos os perfis de consumidor. Atualmente, trabalha com quatro linhas de smartphones: Galaxy Note e Galaxy S, categoria super premium;
Galaxy A, premium; e Galaxy J, intermediária. O Galaxy A8, categoria high-end de 64 GB, na faixa de R$ 2.000 a R$ 2.500, é o preferido pelos brasileiros que podem pagar por um produto dessa
faixa de preço. Entre os usuários que não têm conhecimento técnico de fotografia e gostam de postar nas redes sociais, a procura maior tem sido pelo Galaxy A6+, considerado a porta de entrada para produtos premium, com câmera dupla traseira de 24 MP e lentes F1.0, que permitem a entrada de mais luz em ambientes escuros. Os produtos de entrada da Samsung são os da família J, na faixa de R$ 500 a R$ 1.000; e o top de linha é o AS9+, com 128 GB, vendido por R$ 4.299. O ticket médio da Samsung varia de R$ 1.000 a R$ 1.500.

Em termos de inovação, o mercado de smartphones não apresentou nada disruptivo de maneira global, no último ano. “Com exceção da tecnologia de reconhecimento de face, que se torna cada
vez mais acurada, e carregador de bateria sem fio, pouca coisa foi acoplada ao celular que motive o usuário a fazer um upgrade”, explica Kitagawa. E isso reduziu o crescimento do mercado de substituição, especialmente nos Estados Unidos, onde 91% dos consumidores norte-americanos usam smartphone, de acordo com pesquisa realizada pelo Gartner em 2017.

No Brasil, crescem as exigências por mais poder de processamento para que os aparelhos não travem, mais autonomia de baterias e mais armazenamento para o uso intenso de aplicativos. “O
smartphone chegou a um ponto de inovação que só falta agora ajustar dois passos: a mudança no padrão de tela e a inteligência artificial embarcada, que hoje concentra-se apenas em aparelhos
dos segmentos premium e high-end”, explica Yuri Franco, gerente de marketing da Asus Brasil. Considerada a quarta maior marca Android do Brasil – atrás da Samsung, Motorola e LG –, a
Asus concentra 90% de sua linha de produtos nos segmentos intermediário e premium, na faixa de R$ 1.000 a R$ 2.500. O Brasil é o principal mercado fora da matriz, situada em Taiwan. A partir de setembro, a empresa lançará no país sua linha Zenfone 5 e Zenfone 5Z, apresentada durante o Mobile World Congress, em fevereiro deste ano, em Barcelona.

Os recursos de inteligência artificial e câmera dupla embarcada no aparelho tornam o equipamento muito semelhante ao iPhone X da Apple. A Asus é uma das primeiras fabricantes a incorporar
a faixa icônica do iPhone X ao seu próprio design, permitindo que os cantos da tela atinjam o topo do dispositivo. “Estamos sofrendo o ônus e o bônus de sermos a primeira grande marca a apresentar tela semelhante ao iPhone X”, conta Franco. Interpreta-se como bônus a repercussão mundial por ter seguido o caminho da tela grande, que já é a tendência, e o ônus por ter sido taxada de a empresa que copiou o concorrente. Hoje, players como LG e Motorola já estão incorporando essa modalidade.

A família Zenfone 5 traz uma tela de 6,2 polegadas com proporção 19:9, bem mais estreita do que as dos rivais. O corpo do aparelho é fino com uma armação de metal e vidro na parte traseira.
Conta com sensor de impressão digital, duas câmeras traseiras, 4 GB de RAM, 64 GB de armazenamento interno e bateria com duração de um dia. O Zenfone 5Z apresenta o mesmo design do Zenfone 5Z, mas é mais poderoso, com processador Snapdragon 845 da Qualcomm, até 8 GB de RAM e 256 GB de armazenamento. Ainda sem precificação fechada para o Brasil, os aparelhos estão sendo vendidos no exterior por cerca de US$ 500.

A câmera dupla frontal e traseira, essencial para o bom funcionamento da realidade aumentada, continua sendo a forte tendência deste ano. O fato de tirar fotos e desfocar o fundo tem sido o
principal benefício trabalhado pelos fabricantes nas campanhas de marketing. Asus, Samsung e Motorola foram consideradas as empresas que oferecem melhores produtos nessa categoria,
explica Sakis.

Inteligência artificial

A inteligência artificial embarcada na câmera dos smartphones, permitindo detectar várias modalidades de cenas, também começa a ser uma forte tendência. É como se a câmera inteligente
pensasse pelo usuário. Os aparelhos usam recursos de machine learning: aprendem a partir do uso e vão adequando as imagens conforme as preferências do dono. Muitos equipamentos entendem
que o usuário não gosta de cores fortes na flor, por exemplo, e vão ajustando a tonalidade. Em ambientes silenciosos, reduzem o volume; e se o usuário está em um show, aumentam a potência.

O mesmo recurso de inteligência artificial está sendo aplicado às baterias, o grande calcanhar de Aquiles do usuário de celular. Digamos que a bateria de um smartphone funciona em ciclos.
Cada vez que se atinge 100% de carga é como se queimasse um ciclo. O comportamento padrão de se carregar o celular à noite e retirar no dia seguinte gasta a vida útil da bateria. O Zenfone 5,
por exemplo, conta com inteligência artificial de forma a entender o comportamento do usuário. Logo, procura carregar até 80% da bateria à noite e, uma hora antes de o usuário acordar, carrega 100%. Esse procedimento estende a vida útil da bateria por mais três anos.

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