Remessas de smartphones da China vão cair até 50% por conta do Coronavírus

Consultoria Canalys revê números para o primeiro trimestre de 2020. Apple será a mais afetada. Após a desistência de mais empresas, GSMA proíbe a entrada de pessoas vindas da província de Hubei no MWC 2020.

A disseminação do novo coronavírus 2019-nCoV ao redor da China terá um impacto trimestral gigantesco sobre a capacidade daquele país de produzir smartphones e PCs e despachá-los para o resto do mundo, conforme relatório da consultoria Canalys publicado na semana passada.

A empresa de pesquisas reviu todos os seus números e previsões para o primeiro trimestre de 2020 a fim de incluir os efeitos possíveis da epidemia. E conclui que, caso a doença seja controlada até o final deste mês de fevereiro, haverá uma queda de 40% a 50% nas remessas ao exterior de celulares inteligentes e computadores fabricados em território chinês no primeiro trimestre.

A última previsão para o período havia sido publicada no começo do ano, e dizia que o mercado global de smartphones teria retração de 7% entre janeiro e março, enquanto o de PCs encolheria 8%. A consultoria calcula que a crise em função da doença seja mais profunda no segmento de celulares. No caso dos PCs, haverá uma queda de produção de 20%.

Os números levam em conta o cenário de que a produção seja normalizada em março – o que de fato ainda não é possível prever. Na China, pelo menos 50 milhões de pessoas vivem em cidades que foram postas em quarentena. Os efeitos dos bloqueios já são perceptíveis inclusive na indústria brasileira, onde pelo menos 11 fabricantes estão próximos de suspender a produção por falta de componentes.

Nesta segunda-feira, 10, 450 das 900 maiores fábricas de todo tipo localizadas na província de Cantão (Guangzhou), voltaram a produzir, conforme notícia divulgada pela agência oficial do governo chinês, a Xinhua. Elas estavam paradas após orientação do governo de prolongar a folga do feriado de Ano Novo Chinês, que este ano deveria durar de 24 a 30 de janeiro, mas foi estendido até 10 de fevereiro. No Cantão são produzidos mais da metade dos smartphones, segundo estimativa da Canalys.

Se a situação se prolongar, a Apple deve ser a companhia global mais afetada, uma vez que praticamente 100% dos iPhones vendidos mundo afora vêm da China. Até a chinesa Huawei produz menos celulares na China que a Apple – embora faça ali 99% dos seus aparelhos. Outras fabricantes diretamente afetadas serão as locais Oppo, Vivo (não confundir com a operadora homônima brasileira) e Xiaomi. Dentre as grandes, a Samsung parece vacinada, com 19% de sua produção feita pelos chineses.

Cancelamentos MWC 2020

Os problemas de fabricação já repercutem sobre o principal evento do setor de telecomunicações do ano, o Mobile World Congress Barcelona. A Canalys afirma que muitas empresas não conseguirão levar seus novos produtos 5G para o “grandes eventos” em função da crise resultante da epidemia. Seja porque as fabricante não conseguirão entregar os aparelhos, seja porque o noticiário mundial estará focado na epidemia, reduzindo a visibilidade dos lançamentos.

De fato, logo após a divulgação do relatório, Ericsson e LG avisaram que não iriam ao MWC. ZTE também cancelou coletiva de imprensa. Neste fim de semana, houve novas baixas: nVidia e Sony disseram que não comparecerão. A Sony, ainda assim, realizará uma coletiva de imprensa online, através de seu canal no Youtube. O noticiário internacional cita ainda frases de executivos da Samsung e da Amazon de que também essas companhias estão revendo sua participação.

A GSMA, organizadora do evento, emitiu mais um comunicado no domingo, 9, a fim de evitar novas baixas. A associação afirma que o show segue como programado. Ressalta que entre 5% e 6% do público do MWC é oriundo da China, o país mais afetado pelo vírus. Lembra que, embora tenha havido cancelamentos de grandes expositores, haverá ainda 2,8 mil empresas participando.

Também divulgou detalhes de mais medidas para prevenir que o surto chegue, de alguma maneira, a Barcelona. No caso, pessoas vindas da província de Hubei, na China, serão barradas. Qualquer participante vindo da China terá de provar que saiu do país asiático há mais de 14 dias. E todos passarão por medição de temperatura e declarar que não tiveram contato com pacientes do vírus.

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Rafael Bucco

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