Caram: Monetizar o 5G e avançar no satélite “direct to device” são os novos desafios

Para Vinicius Caram, a monetização do 5G precisa de integradores que apresentam solução fim-a-fim. E quanto à nova tecnologia do satélite, o esforço é global, aponta.
Vinicius Caram quer a monetização do 5G, Crédito-Tele.Síntese
(crédito: Eduardo Vasconcelos/TeleSíntese)

O superintendente de Outorga e Recursos à Prestação da Anatel, Vinicius Caram, aponta os dois novos desafios a serem enfrentados pelos diferentes agentes que atuam no Brasil de forma a ampliar os ganhos com a digitalização da sociedade: monetizar o 5G e apoiar as iniciativas da indústria de satélite para conectar os sinais satelitais diretamente a smartphones convencionais, iniciativa batizada por “direct to device” (D2D). Leia aqui os principais trechos da entrevista com ele:

O 5G está avançando, atingindo velocidades bem impressionantes no Brasil. O que precisa ser feito para que essa tecnologia amplie a sua área de atuação no país?

Vinicius Caram – Acho que o mais importante de tudo, é monetizar o 5G. Esse é o desafio maior do país.   É garantir que todos comecem a fazer redes conectadas, de fato. Não só levar a tecnologia para o consumidor final, é levar a solução para  indústria, agro, aeroporto, onde todos estarão conectados. Talvez o 5G seja o modelo mais simples pois tem capacidade e grande escala, modelo, soluções para IoT. Esse é o nosso maior desafio. O consumidor está bem assistido, tirando os gaps de cobertura, que estamos avançando. Nós temos a obrigação de cobrir todas as localidades até 2028. Até espero que as  operadoras antecipem não só os compromissos de 4G nas localidades, mas também  os compromissos do 5G.

Mas as operadoras também querem monetizar as frequências que compraram… Na sua opinião, o que está faltando, então?

Vinicius Caram – O que está faltando? O Desafio. É alguém que entregue uma solução fim a fim, integrada. Não é só levar a torre e dar o sinal 5G ou 4 ou 6G.. O fazendeiro não sabe. Ele quer que coloque a torre 5G ou 6G, que conecte o trator, que a empresa dê o sistema que vai pegar os dados do trator e dizer se está gastando muito combustível… Ele quer ser notificado, para saber o problema que pode ter com manutenção, se o GPS está ok, se a carga de frango ou suíno está ok. Mas hoje, tem um sistema para energia, um sistema para o pivô, um sistema para o trator. O cara desiste. Está faltando alguém que entregue soluções fim a fim, para todos setores da economia.

E em relação a novas tecnologias, o que te entusiasma ?

Vinicius Caram – O Direct-to-device. [a conexão via satélite diretamente no smartphone do usuário].  Grande parte do país depende dessa solução nova de direct-to-device, mas ela ainda vai demorar. Mas estamos apoiando fortemente. Estamos subindo dois sandbox regulatórios, com duas operadoras de telefonia móvel terrestre e duas operadoras de satélite para começar a testar a tecnologia. Soube pelo menos que lá fora já conseguiram passar o WhatsApp, o que é uma boa notícia, pois significa que conseguiram passar dados. Ou seja, é o começo. O setor satelital está empolgado e estamos dentro. O Brasil tem cobertura móvel nas cidades, e se e se tiver solução móvel satelital, grande parte do nosso problema vai diminuir.

A Anatel caminha para ampliar a competição no segmento de telefonia móvel e, para esse mercado, espectro é vital. Algumas empresas reclamam de uma possível concentração desse ativo…

Vinicius Caram – A gente tem espectro o suficiente para o 4G, 5G, e todos os demais serviços e tecnologias. 

Entendo que o problema são com as faixas abaixo de 3Ghz, onde há  uma demanda muito maior.

Vinicius Caram – Discordo. Quem está pedindo? Me fala um pedido de espectro desse? Existem vários blocos de 800MHz , 900MHz disponíveis. Há mais de três mil municípios com pedaços da banda mais baixa disponíveis. Cadê os pedidos dos últimos dez anos, e para os próximos anos? Até 2028? Também não tem. Fizemos  leilão de 2,5 GHz, por município, e devolveram quase tudo. Uma tristeza, todo dia chega uma renúncia. Vão devolver todos os blocos, milhares de municípios.

Mas os operadores regionais alegam que não há equipamento para prestar o serviço nessa banda…

Vinicius Caram – Tem equipamento, sim. Caro, mas tem. Para estimular o uso da grande quantidade de espectro disponível é que criamos, junto com a ABDI, o Prêmio para as Redes Privativas, com o uso secundário do espectro. Já temos 120 projetos, que está usando o espectro em secundário para redes privativas. 

As maiores operadoras, por sua vez, já informam que vão precisar de mais banda…. A Anatel já estuda alternativas?

Vinicius Caram – Estamos estudando a faixa 10,5 GHz. A ideia é liberar 500 MHz, e até deveremos levar essa proposta para a Conferência da UIT este ano.

Em relação à adoção do IPV6, como está o Brasil?

Vinicius Caram – Temos hoje 1.436 produtos homologados e todas as operadoras móveis  já viraram para IPV6. Na rede fixa, faltam Oi e Sercomtel, mas já contamos com a maior parte do tráfego de dados rodando em IPV6.

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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