Do minimercado ao alimento orgânico, IA reforça o varejo

A rede catarinense Brisa usa IA para evitar ruptura de gândola. A Raízs, por sua vez, utiliza os recursos da inteligência artificial para conectar o produtor de produtos orgânicos ao consumidor final.
Gabriel Menezes, cofundador e Chief R&D Officer da Involves | Foto: Divulgação
Gabriel Menezes, cofundador e Chief R&D Officer da Involves | Foto: Divulgação

O varejo brasileiro está adotando recursos de inteligência artificial (IA)  nas mais variadas etapas da operação comercial. E não são apenas as grandes empresas. A rede de minimercados catarinense Brisa utiliza a solução Involves Doors, ferramenta de abastecimento inteligente que identifica, entre outros recursos, possíveis rupturas de gôndola ou problemas na disposição dos produtos no ponto de venda. No ano passado, a solução recebeu um o novo módulo de Controle de Validades, buscando solucionar de vez os problemas de validade dos produtos no varejo, e em breve será adotada pela rede Brisa.

Ramon Junckes da Silva, co-fundador da rede Brisa, informa que a empresa adota o conceito de mercado de proximidade. O mesmo cliente passa pela loja várias vezes por dia e é possível retê-lo com um atendimento rápido. A empresa adotou o sistema inicialmente para diminuir a ruptura de gôndola, situação em que o produto existe no estoque, mas não está na área de exposição. O sistema identifica os produtos nessa condição e envia um alerta para o repositor verificar.

“O aplicativo também faz inventário constante, permitindo que nosso cadastro esteja sempre atualizado, sem a necessidade de parar um dia para fazer a contagem do estoque. Isso nos trouxe economia de tempo, otimização do trabalho do comprador e aumento de vendas. Agora estamos adorando o módulo de validade em substituição ao modelo manual em papel para identificar os produtos que têm de ter o preço reduzido. O sistema faz o processo automaticamente identificando os de risco baixo e de risco alto e os que podem ser vendidos no giro normal do mercado, sem precisar baixar o preço”, explica Ramon Junckes da Silva, co-fundador da Brisa.

Gabriel Menezes, cofundador e chefe de pesquisa e desenvolvimento da startup Involves, de Florianópolis, diz que a inteligência artificial (IA) do Involves Doors aplicada no varejo monitora todo o sortimento do ponto de venda e gera alertas automáticos. Além da Brisa, a solução já é utilizada por redes supermercadista como Althoff, Hippo e Myatã.

“O sistema tem três funções: gestão de pontos promocionais que o varejo e a indústria negociam; identificação de produtos com risco de vencimento, cenário em que as perdas variam de 3% a 8%; e a gestão de abastecimento para eliminar o grande vilão do varejo, que é a falta de produto na gôndola, gerando perda de vendas. A IA é acionável, gera uma tarefa para alguém executar”, diz Menezes.

Orgânicos e Saudáveis

A Raizs, foodtech de orgânicos e saudáveis, foi ainda mais além, avançando na retaguarda da operação até a produção das mercadorias que vende, em outro exemplo da IA no varejo. Toda a sua produção é proveniente do cultivo das famílias de pequenos agricultores, com uma curadoria que garante produtos 100% livres de agrotóxicos. Fundada em agosto de 2016, a Raízs nasceu com o propósito de conectar o pequeno agricultor de produtos orgânicos ao consumidor final, criando um elo entre a cidade e o campo. Entre os serviços estão as cestas por assinatura disponíveis no site, tanto para os consumidores quanto para os estabelecimentos.

Fernando Osório sócio da Raizs | Foto: divulgação
Fernando Osório sócio da Raizs | Foto: divulgação

Fernando Osório, sócio da empresa, diz que a ideia é gerar aumento de renda para o pequeno produtor, evitar o desperdício e oferecer produtos frescos para os clientes por meio de tecnologia.  Ele explica que a Raizs utiliza o modelo B2B2C e desenvolveu uma tecnologia que prevê o consumo do ciclo de produção e retira do solo apenas o que for consumido pelos clientes no período, evitando desperdícios.

De acordo com informações do último relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), intitulado “Índice de Desperdício de Alimentos”, cerca de 14% dos alimentos produzidos no mundo são perdidos entre a colheita e o transporte por falta de tecnologias integrativas.

“Desenvolvemos um modelo que conecta direto o pequeno produtor ao consumidor final. Sem utilizar intermediários, o modelo foi criado para valorizar a agricultura familiar e proteger a margem do produtor. A tecnologia facilita a logística e o fluxo de produção, já que 100% do nosso estoque ou está na terra ou em trânsito, quase num modelo just in time. Precisamos contar com uma gestão real time. O planejamento é totalmente baseado em tecnologia e no princípio de inteligência artificial, aplicado na hora de estabelecer a relação entre oferta e demanda”, diz Osório.

Osório explica que, para essa logística funcionar, a empresa nunca pode receber um volume grande de mercadorias altamente perecíveis. Com ferramenta própria, a Raízs, combina conhecimento e inteligência artificial com base nos pedidos recebidos, nas médias diárias e na sazonalidade de cada um dos itens. Os pequenos produtores da foodtech integram essa base de dados, assim, tanto o plantio quanto a colheita são feitos de forma sincronizada com os comportamentos de compras dos clientes.

Atualmente, a startup conecta mais de 900 famílias de pequenos produtores concentrados no Paraná, São Paulo, Bahia e Minas Gerais. Todos são certificados em agricultura orgânica. Os produtos são distribuídos conforme o código de endereçamento postal. A inovação da empresa também possibilita um controle maior no envio das cestas de assinaturas. A Raízs consegue checar restrições, frequências e preferências para fazer substituições de produtos personalizadas de acordo com essas informações.

Ponto de Venda ideal

A IA também está sendo utilizado para identificar o ponto de venda ideal, um dos desafios do setor de varejo. Para superar esse desafios, as empresas de varejo têm  lançado mão de ferramentas de inteligência de dados e geomarketing. Elas permitem um melhor entendimento geográfico e comportamental dos clientes, fornecem dados importantes sobre a escolha do ponto de venda ideal, levando em consideração diversas variáveis, e revelam até mesmo o potencial de consumo das pessoas que moram ou passam por determinada região.

Com essas informações em mãos, as empresas podem tomar decisões mais estratégicas e eficientes, o que resulta em uma expansão mais bem-sucedida do negócio.  “A partir de informações como dados sociodemográficos, de mercado e consumo, o geomarketing correlaciona informações que permitem um entendimento mais complexo e detalhado sobre clientes e o perfil de cada região e, mais importante ainda, faz com que a empresa descubra quais são as áreas mais estratégicas para seu negócio”, diz Pedro Abdo, gerente de Advisors da Geofusion, hub de soluções para inteligência geográfica de mercado.

“Não se trata apenas do investimento da empresa na abertura de um empreendimento, mas também envolve a imagem da marca, impacto nos funcionários e na comunidade local. As ferramentas da Geofusion já contribuíram para o crescimento estratégico de empresas de diferentes segmentos do varejo”, conclui  Abd, em mais um exemplo de como a IA pode fortalecer o varejo brasileiro.

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Da Redação

A Momento Editorial nasceu em 2005. É fruto de mais de 20 anos de experiência jornalística nas áreas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e telecomunicações. Foi criada com a missão de produzir e disseminar informação sobre o papel das TICs na sociedade.

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