Inteligência artificial é a nova fronteira na disputa dos blocos econômicos mundiais

Os Estados Unidos não querem que a UIT crie padrões ou tente regulamentar a tecnologia de inteligência artificial

A reunião de Plenipotenciários da União Internacional de Telecomunicações (UIT), realizada no mês passado em Dubai, aprovou 4 novas resoluções/recomendações; alterou 22 resoluções existentes, das 90 propostas discutidas. Mas o sintomático nessa reunião – que estabelece as metas, orçamento e temas a serem tratados por essa organização da ONU para os próximos quatro anos – foi o que não foi aprovado, apesar de ter consumido centenas de horas de reuniões.

E dois temas despontam como os novos cavalos de batalha dos blocos econômicos globais: a inteligência artificial e o big data. Esses dois assuntos não conseguiram ter qualquer proposta, por mais genérica que fosse, aprovada na reunião.

E a razão eram os Estados Unidos, que se recusam a reconhecer a UIT como fórum para tratar desses temas, mesmo que eles ficassem vinculados somente ao mundo das telecomunicações.

No outro extremo, a comunidade árabe apresentava  proposta para  conferir à UIT poderes para criar regras e padrões de todo o ecossistema da inteligência artificial. A Europa também apresentou sua proposta, um meio-termo entre os dois extremos, na qual a UIT iria identificar outros fóruns internacionais que fizessem a interface com a entidade. Mas no final, nada foi aprovado.

Comenta-se que os Estados Unidos já estão com a intenção de classificar a inteligência artificial entre as tecnologias sensíveis, ou seja, que só poderão ser comercializadas para outros países mediante um sem-número de condições.

Outros temas que também estão incipientes,  como IoT e biga data,  encontraram grandes resistências e não foram adiante.

Bancarização

Alguns assuntos relevantes para os países mais pobres conseguiram sobressair, como a resolução aprovada para estimular a bancarização através do uso do celular, políticas uniformes contra o roubo de aparelhos (cuja participação brasileira foi destacada); e massificação da banda larga.

Foi decidido ainda que a entidade irá resgatar os estudos sobre a cesta de preços e tarifas dos serviços de telecomunicações de cada país, que foram suspensos no ano passado, e que provocaram muita polêmica no Brasil.

O Brasil defendeu e conseguiu que a entidade incluísse em seu orçamento recursos para ampliar o departamento de estatística. “Onde já se viu um organismo que regulamenta um setor não ter bons estudos de mercado?”, assinalou Mário Canazza, coordenador da Anatel que liderou as reuniões brasileiras com a participação de ampla representatividade do mercado e sociedade.

 

 

 

 

 

Avatar photo

Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
[email protected]

Artigos: 2141