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Levar conectividade ao campo pode tirar famílias da pobreza

Especialistas indicam que limitação da cobertura de banda larga nas zonas rurais prejudica a subsistência de pequenos produtores, que ainda têm dificuldades para adquirir e manejar smartphones
Pequenos produtores carecem de conectividade e acesso a ferramentas digitais
Especialistas defendem a ampliação da conectividade no campo e a promoção da inclusão digital de pequenos produtores

A realidade dos pequenos produtores rurais do País poderia mudar sensivelmente caso tivessem acesso a smartphones e cobertura de banda larga. Ao passar a maior parte do tempo sem conexão, praticamente não se comunicam com o mercado e extensionistas rurais (especialistas em desenvolvimento agrário que atuam como ponto de apoio de fazendeiros), o que agrava as condições de subsistência.

Em painel do AGROtic 2024, evento promovido pelo Tele.Síntese em parceria com a ESALQtec, Adriana Gregolin, coordenadora regional América Latina e Caribe na FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), ressaltou que os pequenos produtores brasileiros ainda convivem com diversos obstáculos para participar do mundo conectado, como a ausência de conectividade nas regiões em que produzem, o difícil acesso a smartphones, a limitação de recursos para adquirir equipamentos e o baixo nível de alfabetização digital.

“O desafio é grande. Em média, apenas 25% das localidades rurais têm acesso à internet. Embora 89% das zonas rurais tenham cobertura de telefonia móvel, grande parte é em 3G, mas precisa ser em 4G para suportar os aplicativos usados em telefones inteligentes”, pontuou.

Adriana ainda disse que, apesar do baixo nível de penetração da banda larga no campo, o Brasil é o país mais bem posicionado em um ranking de conectividade rural significativa em toda a América Latina e o Caribe. Uma forma de acelerar a transformação digital dos pequenos produtores, em sua avaliação, pode ser feita por meio da aproximação com universidades e institutos de pesquisa. Ela também indica que governos invistam em parcerias público-privadas para ampliar o acesso à internet.

“Também acredito que, entre os desafios que estão na mesa, o tema da capacitação e da alfabetização digital poderia ser o primeiro passo para se avançar”, sugeriu.

Educação e infraestrutura

José Rodrigues da Costa Neto, coordenador do Show Rural Digital e de Infraestrutura de TI da Coopavel, uma cooperativa agroindustrial com sede em Cascavel (PR), destacou que a organização tem aproveitado programas de capacitação para disseminar conhecimento sobre os benefícios das tecnologias digitais.

Ele citou que a cooperativa apresenta ferramentas tecnológicas aos associados em projetos de linha sucessória e de qualificação para mulheres.

“A Coopavel está levando muita transformação digital para os mais jovens em eventos em que apresentamos inovações. Queremos plantar a sementinha e despertar a curiosidade para que eles possam ter acesso de alguma maneira a essa ferramentas, mas o nosso foco principal com tudo isso é conseguir que o produtor aumente a produtividade, diminua o desperdício e eleve a lucratividade”, resumiu.

Falando sobre a realidade do estado do Paraná, Neto ainda pontuou que os produtores têm algum nível de conhecimento sobre as tecnologias, mas a falta de infraestrutura de conectividade impede a adoção das soluções digitais.

Inclusão digital e renda

Claus Reiner, diretor e chefe do Centro de Conhecimento e de Cooperação Sul-Sul e Triangular do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), salientou que é preciso entender que pequenos e grandes produtores têm necessidades distintas no que diz respeito aos serviços de telecomunicações.

Segundo ele, os pequenos não dependem tanto de conectividade satelital ou de sensores por toda a extensão da propriedade, mas de um canal eficiente de comunicação com governos e parceiros do setor.

Com aportes de 178 estados-membros, o FIDA financia projetos agrícolas em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. Os financiamentos são feitos com garantia da União. Reiner frisou que a entidade busca levar recursos para pequenos produtores, como forma de ajudar as famílias a saírem da pobreza.

“É uma coisa absurda: os próprios produtores estão passando fome. A agricultura familiar contribui muito para a alimentação, mas a maioria das famílias se encontra em situação de pobreza e insegurança alimentar. É preciso alimentar a família e ter excedente para a venda”, assinalou.

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