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Em Anyang, na Coreia do Sul, câmeras seguem as mulheres na volta a casa

Sistema levou a queda na criminalidade, mas levanta questionamentos quanto à privacidade dos cidadãos.

A cidade de Anyang, na Coreia do Sul, tem cerca de 600 mil habitantes e faz parte da região metropolitana da capital do país, Seul. Nova, tem apenas 46 anos como município independente. Ali existe a única estrada musical do país: construída com ranhuras na pista, faz com que os carros vibrem de forma a emitir tons musicais que reproduzem a música infantil “Mary Had a Little Lamb”.

Mas não é a habilidade de seus engenheiros em compor melodias com asfalto que vem atraindo olhares para a cidade. Anyang iniciou em 2003 um grande projeto de cidade inteligente. Em primeiro lugar, modernizou sua rede de transporte, colocou GPS nos ônibus, passou a informar passageiros sobre o tempo de transporte dos veículos. O sistema viário pode ser totalmente conferido via aplicativo. A cidade também criou um sistema de alerta para desastres e, pelo menos desde 2016, combate o crime com câmeras super inteligentes vigiam os cidadãos em locais públicos 24h.

Jung Ho Yun, chefe da equipe do centro de Smart City de Anyang, esteve no Brasil na última semana, em evento organizado pela Kotra, a Agência de Promoção ao Comércio e Investimento da Coreia do Sul, demonstrar o que a cidade tem feito. No último ano, com a instalação de um sistema de inteligência de imagens, reduziu em 18,5% o índice de crimes, especialmente os de assédio sexual nas ruadas da cidade.

Conforme contou a uma plateia de executivos reunidos em São Paulo, no dia 21, Anyang investiu US$ 33 milhões na implantação de uma rede com mais de 3,5 mil câmeras de vigilância. Essas câmeras não apenas filmam, como são capazes de se mover para focalizar incidentes, de forma automatizada.

O sistema reconhece situações fora de padrão e avisa autoridades a comparecer ao local, sem qualquer intervenção humana. Possui reconhecimento facial e de placas trabalhando em tempo integral, e pode orientar as câmeras a perseguirem pessoas que pareçam estar em fuga. Todas as filmagens são exibidas em paineis gigantescos, no centro de controle, por 6,5 mil telas (foto acima).

S.O.S.

A equipe de Yun criou um aplicativo para mulheres e pessoas vulneráveis que precisam andar sozinhas em horários do dia, ou da noite, em que as ruas estão vazias e costumam haver mais crimes de assédio. A pessoa, dona de um smartphone, instala o aplicativo. Caso se sinta insegura, deve abri-lo. Dessa forma, câmeras ao longo do trajeto se deslocam para identificar e acompanhar essa pessoa até o destino final.

Caso a situação de perigo seja iminente, a pessoa deve levantar o celular com um dos braços e acenar. Imediatamente o sistema identifica o gesto como pedido de socorro e aciona a equipe policial mais próxima para intervir. Caso não haja policiais na área, o sistema encontra cidadãos pré-cadastrados no aplicativo, que tenham se voluntariado como agentes de apoio, e os avisa para se deslocarem ao local, oferecendo o primeiro socorro.

Depois de criar o recurso, a cidade ampliou o uso. Como Anyang é uma cidade dormitório, fechou acordo com 11 municípios em volta para adotarem o mesmo sistema de socorro.

Privacidade

O que parece uma ficção orwelliana levantou questionamentos da plateia brasileira. Não há invasão à privacidade? Como prevenir abusos das autoridades? Yun afirmou que o sistema depende de adesão, que os dados pessoais são protegidos, e que a localização das pessoas só é obtida com a ativação do app [embora a rede faça reconhecimento facial a todo instante].

Disse que mesmo entre os voluntários a cidade não consegue saber suas localizações até emitir o comando para encontrá-las. “No começo, eles eram rastreados das 23h às 4h da madrugada ininterruptamente para serem acionados. Mas não era o ideal em termos de privacidade. Então hoje conseguimos ativar o aplicativo mediante alerta do sistema”, afirmou. Seria essa garantia suficiente por aqui?

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