Eduardo Ricotta: A construção da competitividade

O setor de telecomunicações deve ser elevado ao seu correto patamar de prioridade na digitalização da sociedade. O Brasil deve construir uma política industrial para tecnologia baseada na internacionalização, na inovação e na eficiência do setor de telecomunicações.

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*Por Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson Brasil

As redes de telecomunicações são as mais importantes plataformas tecnológicas do mundo atual. É por meio delas que se constrói a digitalização da sociedade e a Internet, cada vez mais das Coisas, e que se leva desenvolvimento a todos os cantos do planeta. A digitalização tem o poder de transformar profundamente um país, criando empregos, facilitando o acesso a saúde e educação e aumentando a eficiência dos mais diferentes setores da economia, o que traz impactos diretos no crescimento do PIB.

Nos últimos 50 anos, a economia mundial cresceu a uma taxa média de 3% ao ano, em um período de desenvolvimento sem precedentes, impulsionado em grande parte por um aumento acelerado da população, que passou de 3 bilhões de pessoas na década de 70 para mais de 7,5 bilhões nos dias de hoje. As projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) para as próximas décadas apontam que esse crescimento populacional não vai se repetir e chegaremos a 10 bilhões de pessoas apenas em 2050, o que significa que para manter esse nível de crescimento econômico será necessário um aumento da produtividade, o que só poderá vir da inovação tecnológica.

Nesse sentido, a introdução do 5G terá um papel indutor de eficiência em todos os setores da economia. Na indústria, assim como acontece hoje com outras infraestruturas básicas como estradas e energia, a disponibilidade de redes 5G será um fator de atração das fábricas nos anos 2020, como plataforma da Indústria 4.0. É essa revolução que trará um salto de produtividade nas cadeias de valor do futuro.

Ao mesmo tempo em que olhamos para o futuro, nos deparamos com uma questão bastante presente: um painel aberto pela União Europeia e pelo Japão na Organização Mundial do Comércio (OMC) questiona políticas industriais do Brasil em alguns setores, incluindo o de tecnologia. A Lei de Informática, que promoveu ganhos notáveis para a indústria no país nas últimas décadas, com incentivos à produção vinculados a investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), é apontada como promotora de um desequilíbrio entre produtos importados e nacionais.

O setor de tecnologia se tornou a mais global de todas as cadeias. Muitos países se especializaram na produção de componentes e etapas de fabricação, enquanto outros na finalização de produtos. A redução de custos de logística permitiu a formação de cadeias de suprimento com partes se movendo rapidamente por todo o mundo.  Assim, a inserção nessas cadeias globais de valor é o primeiro passo que o Brasil deve dar para ser mais produtivo, facilitando a importação de componentes que não estão disponíveis no mercado local e a exportação de produtos finais de alto valor agregado, o que traz ganhos da escala necessários para elevar a competitividade.

O segundo passo dessa transformação deve ser um foco absoluto em inovação, sobretudo em software, segmento este que tem altíssima capacidade de geração de empregos e localização de investimentos em P&D. Por isso, é fundamental que a política industrial brasileira assegure fortes incentivos ao desenvolvimento de software no país, através de desoneração e simplificação tributária, capacitação, financiamento e estímulo à cooperação internacional.

Esse tripé de competitividade se completa com o estímulo à demanda. O setor de telecomunicações deve ser elevado ao seu correto patamar de prioridade na digitalização da sociedade através da redução da carga de impostos e de fundos setoriais, em especial o FISTEL, pois à medida em que iniciamos a revolução da Internet das Coisas (IoT), fica claro que não será viável a sua massificação na agricultura ou em cidades inteligentes com o modelo de arrecadação atual.

Além disso, o uso de dados cresce exponencialmente nas redes móveis, a uma taxa de mais de 60% ao ano por smartphone, sendo vídeo mais da metade de todo esse volume, como mostramos no Ericsson Mobility Report. Essa demanda deve esgotar os recursos de espectro disponíveis hoje em poucos anos, antecipando a necessidade da introdução massiva do 5G.

Por isso, é fundamental também a redução dos valores de outorgas de espectro, uma vez que o viés arrecadatório destes leilões consome recursos importantes que deveriam ser destinados a investimentos em infraestrutura, tema ainda mais urgente quando olhamos para a banda de 3,5GHz, que deve ser disponibilizada já em 2019 e será o ponto de partida do 5G no Brasil.

A Ericsson acredita no Brasil e na indústria brasileira: empregamos mais de três mil pessoas no país, sendo que cerca de 600 dessas pessoas nas áreas de P&D e Inovação, onde investimos mais de R$ 1 bilhão desde os anos 2000. Chegamos aqui há quase um século e há 63 anos inauguramos a nossa fábrica em São José dos Campos, onde hoje produzimos equipamentos prontos para 5G que irão permitir a transformação de toda a indústria. A Indústria 4.0 começa a ser construída agora e devemos caminhar na direção correta.

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