Ceitec: futuro esbarra em perda de pessoal e necessidade de alto investimento, pontua gestor

Representantes da estatal e pesquisadores debateram desafios na reestruturação da fábrica de semicondutores em audiência na Câmara dos Deputados.
Gadelha Vieira, gestor do Ceitec, fala sobre futuro da estatal na Câmara dos Deputados | Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

O processo de reestruturação do Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada) enfrenta a perda de pessoal nos últimos dois anos e a necessidade de um investimento significativo para que a produção se adeque às novas linhas mais promissoras. O diagnóstico foi compartilhado pelo atual gestor,  Augusto Cesar Gadelha Vieira, em audiência pública promovida nesta terça-feira, 18, na Comissão de Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados . 

O governo Lula iniciou o processo de retirada do Ceitec do Plano Nacional de Desestatização e já criou um grupo de trabalho interministerial para discutir a reformulação da estatal, única fábrica de semicondutores do país. No entanto, estes são apenas os primeiros passos, já que a expectativa é de um plano de longo prazo. 

“Empresas de semicondutores normalmente têm um ciclo de vida que leva de 10, 15, 20 anos para maturar. E no Brasil, sem recursos, sem um contexto de políticas públicas e utilização desses semicondutores produzidos no país, certamente isso é algo que tem que ser entendido nesse contexto”, disse Gadelha.

Quanto ao pessoal, o gestor afirma que há atualmente apenas cerca de 70 servidores, que trabalham basicamente para tentar manter o investimento feito pelo Estado no Ceitec, com a manutenção do maquinário e propriedade intelectual. Para fins de comparação, esse mesmo quantitativo de pessoas foi cortado em apenas um dos departamentos do Ceitec, de design.

“Nós tínhamos cerca de 70 projetistas de semicondutores que foram praticamente demitidos todos eles. Hoje nós só temos dois ou três projetistas, que cuidam somente da questão de propriedade intelectual gerada no passado. Então, nós perdemos essa capacidade de design nesses dois anos em que nós estivemos sob o regime de liquidação. Esses profissionais inclusive estão sendo requisitados por várias empresas no mundo inteiro”, conta Gadelha.

O gestor lembra que as principais linhas de produtos e negócios do Ceitec foram a criação de chips, etiquetas, sensores e micromódulos. “A identificação veicular representou 57.6% da nossa produção e linhas de negócio e a parte de rastreio, identificação, esses tags da identificação de objetos, compreendeu 41,1%”.

Retorno às origens

Também presente na audiência pública, o consultor técnico e especialista em semicondutores Fábio Pintchovski, que participou da formulação do Ceitec, defende que a estatal considere o planejamento inicial nessa reestruturação. “O propósito original é prova de conceito. O Ceitec não era uma fábrica normal que se constrói nos Estados Unidos, Taiwan ou na Europa. A ideia era provar que é possível construir uma fábrica de manufaturados no Brasil, de chips de qualidade internacional. Não muitas, não as mais avançadas, mas pode construir uma fábrica e pode se manufaturar aqui”, lembrou.

Com uma pequena porcentagem que custaria uma fábrica nova se faz um upgrade e se volta à situação original, que nós temos: uma fábrica, numa zona boa de tecnologia, que engloba um  mercado que é muito bom e pode provar que se pode fazer isso no Brasil e atrair o investimento”, afirmou Pintchovski.

O upgrade apontado pelo pesquisador envolve investir no segmento de tecnologia mais avançado relativo ao original: 350 a 180 nanômetros – ante 600 a 350 nanômetros. “Dentro desse segmento existe um mercado significativo”, diz o pesquisador.

“[Sobre o upgrade] significa que como a tecnologia é um pouco mais avançada, vai ter que trazer filtros novos e modernizar a planta de água pura, para que ela tenha menos contaminantes. Mesma coisa com o ar, os filtros que nós temos hoje não são suficientes para filtrar as partículas que são especificadas para ser filtradas dentro das tecnologias de 350 a 180 nanômetros. O equipamento que existe lá  boa parte ainda está funcionando bem, outra parte dele provavelmente não  por causa da idade. Então, e para ir a 180, no momento, nós vamos ter que investir em novo equipamento de produção”, destaca Pintchovski.

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Carolina Cruz

Repórter com trajetória em redações da Rede Globo e Grupo Cofina. Atualmente na cobertura dos Três Poderes, em Brasília, e da inovação, onde ela estiver.

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