Denúncia coloca em xeque uso das redes sociais em campanhas políticas

Impulsionamento vedado com recursos não declarados de empresários podem manchar crescimento da candidatura de Jair Bolsonaro na eleição

Uma disputa eleitoral baseada quase toda em redes sociais deveria custar menos, ser mais democrática e ser a mais transparente possível, certo? Errado, caso se confirmem as denúncias apresentadas nesta quinta-feira (18) em reportagem publicada em um dos maiores jornais do país, a Folha de S. Paulo. Segundo a matéria, empresários estariam contratando serviços de impulsionadores digitais no WhatsApp, no valor de R$ 12 milhões cada, para turbinar a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República com mensagens anti-PT.

A contratação de impulsionadores com mailing de terceiros e o pagamento desses serviços por empresários, o que caracteriza o uso de caixa 2 na campanha, estão em desacordo com a legislação eleitoral. O candidato do PT, Fernando Haddad, que disputará o segundo turno com Bolsonaro, já estuda entrar com um pedido de prisão dos culpados, na Justiça Eleitoral, alegando a prática de crime continuado. Haddad acusou Bolsonaro de criar uma “verdadeira organização criminosa com empresários que, mediante caixa dois, dinheiro sujo, estão patrocinando mensagens mentirosas no WhatsApp”.

O PDT, do candidato Ciro Gomes, terceiro colocado no primeiro turno, também prepara ação contra a prática denunciada. O objetivo desse partido é anular o primeiro turno da eleição. O presidente nacional do PDT, Carlos Luppi, disse que já acionou sua equipe jurídica para elaborar a peça que será apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Mas não só políticos se surpreenderam com a denúncia. Formadores de opinião, inclusive que se manifestaram a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, já estão coletando assinaturas para pedir esclarecimentos sobre os fatos. “Ajude-nos a fazer com que o WhatsApp e o Facebook tomem providências também no Brasil contra a ameaça à nossa democracia”, diz a petição.

Segundo a reportagem da Folha, os empresários compraram um serviço chamado “disparo de massa”, que usa a base do cliente ou de terceiros, adquiridas em agências de estratégia digital. O valor apurado é de R$ 12 milhões por cada contrato e prevê uma carga maior de mensagem uma semana antes do segundo turno, marcado para o dia 28 deste mês. A matéria traz nome de um empresário e das agências contratadas, que negam a prática. Bolsonaro, por sua vez, afirma que não tem controle sobre seus apoiadores, ou seja, nem nega, nem confirma. Uma coisa é certa, esses custos apontados pela Folha não foram apresentados à Justiça Eleitoral pelo candidato do PSL.

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Lúcia Berbert

Lúcia Berbert, com mais de 30 anos de experiência no jornalismo, é repórter do TeleSíntese. Ama cachorros.

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