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Regulação

Para a GSMA, Anatel precisa adiar decisão sobre uso total da faixa de 6 GHz

Entidade tenta reverter previsão de uso da faixa toda pelo WiFi 6E, reservando 500 MHz para o WiFi e os 700 MHz restantes para o serviço móvel depois de 2023

A GSMA, entidade que representa as operadoras móveis mundo afora, quer adiar uma decisão final da Anatel sobre o uso da faixa de 6 GHz. A agência colocou em consulta pública até o dia 24 os requisitos para uso total da faixa, que foi destinada para uso não licenciado.

Representantes da entidade acreditam que seja possível reverter a intenção de autorizar o uso de Wifi 6E em toda a extensão da faixa de 6 GHz (que vai de 5.925 a 7.125 MHz), como consta da consulta pública. Isso porque o tema não é consensual entre os reguladores de telecomunicações no mundo.

Para a GSMA, a Anatel deveria autorizar o WiFi 6E apenas nos 500 MHz da parte inferior. A parte superior da faixa, correspondente aos 700 MHz existentes a partir dos 6.425 MHz, poderá permanecer inalterada até que haja clareza quanto a harmonização mundial.

Disputa mundial

Luciana Camargos, diretora sênior da GSMA para espectro futuro, conta que a União Europeia propõe tal divisão entre o WiFi e o serviço móvel pessoal (SMP, ou IMT na sigla em inglês). A proposta, no entanto, abrange apenas a região de Europa, África e Oriente Médio. Será votada na próxima Conferência Mundial de Rádio (WRC), em 2023.

Segundo ela, o que for decidido para a Europa tem potencial de influenciar o restante do mundo, que hoje também se divide sobre o tema. Vale lembrar que das operadoras móveis brasileiras, duas são subsidiárias de empresas europeias (TIM e Vivo).

Mas a divisão é clara no globo. Na China, por exemplo, ficou decidido que a faixa de 6 GHz será integralmente destinada ao serviço móvel. Nos Estados Unidos, deu-se o contrário, com destinação para o WiFi. Os Europeus aparecem com o meio termo, que a GSMA propõe ser adotado no Brasil.

“Há um movimento internacional de reservar a parte de baixo do espectro para o WiFi e a de cima para o IMT. A gente acha que se destinar tudo para o serviço não licenciado, será muito difícil reverter depois”, afirma Camargos ao Tele.Síntese. Para ela, com 500 MHz adicionais, o WiFi terá mais de 1 GHz contínuo para explorar, uma vez que a faixa de 5 GHz já é garantida para a tecnologia.

Harmonia e escala

Lucas Gallito, diretor de políticas públicas da GSMA para a América Latina, afirma que os países vizinhos ao Brasil estudam a saída mista, a exemplo da Europa. Segundo ele, Argentina e Peru estão também realizando consultas públicas sobre o tema, nas quais demonstram a intenção de reservar a parte baixa do espectro para o WiFi e a parte alta para o IMT.

Ele reconhece que o Brasil sempre liderou e antecipou as escolhas em relação ao uso de espectro na região, inclusive reservando frequências que os vizinhos não disponibilizam. Mas defende que a falta de harmonização resulta em aumento dos custos.

“A harmonização é relevante para ter economia de escala. Agora é cedo para tomar uma decisão que pode gerar problemas no futuro”, afirma.

A pressão da GSMA é avalizada pelas operadoras locais. O uso dos 6 GHz está no roadmap das empresas. Um levantamento interno feito pela entidade aponta que 90% das operadoras do mundo esperam poder usar o 6 GHz para ampliar a qualidade das redes 5G. Índice que inclui a maioria das teles brasileiras. A única que se posicionou contrária à destinação para o IMT foi a Oi, que vendeu a parte de telefonia móvel para Claro, TIM e Vivo.

Interferência

Luciana Camargos explica que a frequência fecha uma necessidade importante. As teles precisam de frequências baixas, médias e altas para entregar as especificações máximas da 5G estabelecidas pela 3GPP, a organização que vem padronizando a tecnologia.

No Brasil, assim como em outros países, o que existe de ondas médias são a Banda C e os 6 GHz, que fazem o uplink dos serviços satelitais que operam em Banda C. Essas são vistas como as faixas mais disponíveis. “Se não forem os 6 GHz em frequências médias, que outras faixas poderão ser usadas? A Anatel terá de decidir”, afirma.

Independente da quantidade de espectro que irá para o WiFi, ela defende que a Anatel apresente estudo de convivência do WiFi em 6 GHz com radioenlaces que estruturam atualmente o backhaul brasileiro. Há pelo menos 22 mil radioenlaces em área urbana que, afirma, podem sofrer interferência do WiFi em 6 GHz a depender da potência dos equipamentos autorizados pela Anatel.

Offload

O offloading da rede móvel para a rede fixa, diz, continuará a existir nos mercados em desenvolvimento. Mas a tendência é que percam relevância. E o 5G se apresenta como a tecnologia mais eficiente de uso do espectro, com a promessa de entregar a conexão desejada pelo atual usuário de WiFi, defende.

Da mesma forma que as operadoras querem o espectro, provedores de banda larga e fabricante de equipamentos WiFi defendem a destinação completa. Criaram um grupo para defender junto à Anatel a ocupação dos 6 GHz com o WiFi.

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