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Com o 5G puro, brasileiro terá conexões de 700 Mbps no celular, diz Capdeville, da TIM

CTIO da TIM, Leonardo Capdeville diz que não haverá problemas de desconexão de usuários quando passarem de redes 5G standalone para 4G, que determinação da Anatel trará ganhos de escala e avisa que já testa com a Ericsson o uso do 5G DSS com padrão release 16.

A chegada da 5G promete mudar nossas vidas, com velocidades de conexão 17x superiores ao que temos hoje no 4G. Conforme o CTIO da TIM, Leonardo Capdeville, depois que as operadoras brasileiras instalarem equipamentos de rede 5G standalone, os acessos atingirão velocidades de 600 a 700 Mbps. Hoje, a título de comparação, as velocidades do 4G chegam a 40 Mbps.

A TIM é voz dissonante na discussão iniciada este mês pela Anatel. A agência propôs em 1º de fevereiro que as compradoras do espectro de 3,5 GHz, a ser leiloado em junho, instalem equipamentos de 5G standalone país afora.

Enquanto Claro e Vivo querem tirar da minuta do edital a exigência de cobertura com equipamentos no padrão release 16 (a 5G “pura”), a TIM defende que isso é fundamental para que a rede de quinta geração seja de fato uma revolução.

Em entrevista ao Tele.Síntese, Capdeville diz que a medida, ao menos no caso da empresa na qual trabalha, terá pouco impacto sobre custos. Os rádios 5G standalone e non-stanalone têm os mesmos preços. Já o núcleo (“core”), embora não seja o mesmo, deixa de ter o fornecimento atrelado ao fabricante que entregou os sistemas 4G, o que a seu ver vai ampliar a competição e baixar preços. Além disso, o direcionamento via regulador, afirma, vai levar a ganhos de escala.

Ele também afirma que a conexão do usuário 5G SA não vai cair ao entrar em área apenas coberta por 4G. E que a TIM já vem testando com a Ericsson formas de fazer o 5G DSS com o padrão standalone, facilitando a integração do 5G baseado no release 16 à sua já existente rede 4G, que alcança 3.877 cidades no país, sendo 3.516 no espectro de 700 MHz.

Leia abaixo a íntegra da entrevista com o executivo, realizada na sexta-feira, 12.

Tele.Síntese: A TIM defende regra de implantação do 5G standalone no próximo leilão de espectro da Anatel. Para quais frequências e obrigações?
Leonardo Capdeville, CTIO da TIM: O que a minuta hoje da Anatel tem de obrigação mínima? A Anatel não limita ninguém com obrigação máxima. Estabelece uma cobertura mínima. Se a operadora, por plano de negócio, quer antecipar, quer fazer cobertura maior, quer adicionar outras frequências, quer adotar outra estratégia que complemente a cobertura mínima, é decisão de cada operadora.

Estamos dizendo é que a TIM defende o release 16, o standalone. Porque essa é a linha que nós queremos seguir para entregar o 5G que todo mundo espera. Esse é o 5G que vai permitir uma série de serviços, slicing, baixa latência, enhanced mobile broadband etc. É a nossa escolha como empresa. Agora, se a TIM quiser cobrir com standalone mais do que está no edital, é decisão da TIM. Se quiser cobrir mais do que está no edital, e usando outras frequências, é uma decisão da TIM, e de qualquer operadora.

O que a Anatel está definindo é como cumprir a obrigação editalícia. Isso é praticamente dinheiro público. A lógica é: a agência calcula o VPL, que é o valor do espectro, e disso abate as obrigações. Ou seja, diz que a operadora vai pagar pelo espectro parte em obrigação, e parte pelo uso da frequência. Então, de certa maneira, é um dinheiro que a Anatel está optando por não ter o recolhimento em frequência, e ter o recolhimento em obrigação.

Achamos  mais do que correto que a Anatel defina como quer receber essa obrigação, uma vez que é o investimento do Estado.

Se essa discussão fosse dois anos atrás, não haveria discussão porque só tinha um padrão na época. Se fossem dois anos à frente, também não, pois o standalone já seria usado por todos. A discussão acontece agora justamente porque existe a transição uma vez que o padrão foi fechado em julho.

A transição existe para quem já começou. Para quem não começou, como é o caso aqui no Brasil, por que começar no padrão anterior se podemos começar já no padrão definitivo? Isso que estamos ponderando.

Mas vocês já não começaram? A TIM já não tem 5G DSS em algumas capitais?
Capdeville: Estamos com 5G DSS, que sempre fizemos questão de dizer que não é o melhor do que esperar do 5G.  Estamos fazendo o 5G DSS, que é aquele 5G melhor do que nada, mas não é o 5G que vai chegar a ter as entregas que estamos nos comprometendo com a sociedade. Por isso o nosso CEO falou a famosa frase do 5G do marketing, porque não é o 5G full.

No Financial Times saiu uma matéria na última semana em que Eric Schmidt, ex-presidente do Google, fala sobre o mercado americano. E ele usa a mesma expressão do “5G do marketing”. Não é atrás desse 5G que estamos.

Quer dizer que não vamos fazer o 5G DSS? Não! O 5G DSS tem seu lugar, pode ser oportunidade, pode aprimorar a experiência do cliente nas áreas que ainda não tenho o 5G, pode nos ajudar nessa transição. Mas não é 5G. Esse é o ponto. A gente reconhece que tem valor, mas não posso dizer que é o 5G.

[quote cite=’Leonardo Capdeville, CTIO da TIM’]Estamos fazendo o 5G DSS, que é aquele 5G melhor do que nada, mas não é o 5G que vai chegar a ter as entregas que estamos nos comprometendo com a sociedade.[/quote]

A obrigação estabelecida pela Anatel é de levar ERBs 5G standalone para as cidades em uma proporção de uma ERB para cada 15 mil habitantes…
Capdeville: A Anatel tem obrigações distintas para quem comprar blocos distintos. Quem comprar os 700 MHz, tem que cobrir estradas. No bloco de 3,5 GHz, a obrigação é primeira de backhaul, chegar com fibra óptica nos municípios não atendidos. Existe uma segunda obrigação, que é cobrir as cidades brasileiras numa ótica não mais de cobertura geográfica, que é muito interessante e inteligente ter feito dessa maneira porque coloca cobertura onde realmente é necessária, mas cobrir as cidades acima de 30 mil habitantes no bloco nacional, abaixo de 30 mil habitantes nos blocos regionais, sendo uma estação para cada grupo de 15 mil habitantes.

Essa estação que temos de implantar tem que cumprir padrões: operar com 50 MHz de espectro contínuo. O único espectro com essa possibilidade é o de 3,5 GHz. E aplicar sobre esse espectro o release 16. Essas são as obrigações: backhaul e cobertura. A cobertura é por critério populacional. A primeira etapa é, até dezembro de 2022, cobrir todas as capitais e Distrito Federal. Depois tem um cronograma que vai até 2027.

Fazer essa cobertura vai exigir mais de 40 mil estações novas para as operadoras.
Capdeville: Se imaginarmos a venda dos quatro blocos nacionais, dá mais ou menos 10,8 mil estações por operadora. A TIM tem 20 mil torres, e teria que instalar nestas torres 10,8 mil estações 5G. Então tem um aumento. Até dezembro de 2022, temos que chegar a 3,4 mil estações mais ou menos. E depois tem o cronograma que vai escalando nas outras cidades.

Também tem uma obrigação de já deixar espectro livre de 25% das cidades atendidas pelos compradores de lotes regionais. Imagino que operadores nacionais vão querer ocupar esse espectro logo também, não?
Capdeville: Aí tem que separar o que é obrigação do que é plano de negócio. A TIM, quando comprou os 700 MHz, tinha obrigação de cobertura no 4G. A nossa obrigação mínima assumida no edital de 2014 acabou em 2018, mas não paramos de investir no 4G. Assumimos o compromisso público depois de chegar a todas as cidades com 4G até 2023. Não estava no edital, é uma visão de plano de negócio.

O que a Anatel exige é cobrir com 5G Capitais e DF. Se para o meu plano de negócio fizer sentido cobrir São Paulo e Santos, não sou impedido. Cada operadora vai seguir a sua linha. O que a Anatel quer garantir é que não fique espectro ocioso.

Tem gente que argumenta que ainda é complexo e caro fazer o handover da rede 5G para 4G, ou seja, evitar que o usuário 5G perca a conexão ao sair da área de cobertura e entrar em área 4G. Concorda?
Capdeville: Não concordo. Existe sim a transição. Existe tanto a transição em continuidade de conexão, em que estou conectado no 5G e vou entrar em área contínua de cobertura do 4G. O padrão permite, sim, que isso seja feito, e o tempo de transição é da ordem de 120 milissegundos. É tempo mais que suficiente para que essa mudança do 5G para o 4G seja imperceptível. Nós vamos começar a testar isso em campo. Estou com telefone 5G em uma área que só tem 4G? O padrão também prevê, você vai usar seu telefone em 4G. Então não é fato que não exista a previsão dessa continuidade. Ela existe, sim.

Uma aplicação de baixa latência vai ser prejudicada nessa transição de 120 milissegundos?
Capdeville: Ela já seria prejudicada porque a rede para a qual está indo não tem baixa latência. Mesmo que a transição fosse de 1 milissegundo, o usuário estaria entrando em uma cobertura que não tem baixa latência. O problema não é o momento da transição. Se a aplicação depende de baixa latência, ao entrar na rede 4G, ela será prejudicada. A latência do 4G vai de 50 ms a 70 ms, dependendo da rede. De qualquer forma, é um pico. Na mudança, 120 ms. Depois vai ter a latência normal da rede.

Agora vou te dar outro dado. Existe um segundo ponto que é mito, que é a história do DSS. DSS significa dynamic spectrum share. Significa que no espectro que tenho 4G, no intervalo entre ele, eu coloco o 5G. Acontece que esse 5G tanto faz se é standalone ou non-standalone. Posso colocar no DSS o standalone. Se tenho como meta usar o 5G full em 3,5 GHz, e continuar o standalone na frequência de 700 MHz, o padrão prevê. Estamos fazendo testes com a Ericsson, entrando em fase de provas com eles.

O DSS é compartilhar o 4G com o 5G. Esse 5G pode ser standalone ou non-standalone. Então essa transição de 120 ms seria se tenho 5G numa área e vou para outra com 4G. Mas, dependendo da estratégia da operadora, ela pode ter também o 5G operando no padrão standalone, em DSS, para fazer com que essa transição não aconteça.

Neste caso, o mesmo rádio é responsável pelos sinais 4G e 5G?
Capdeville: O que define o rádio é o espectro, não é a tecnologia. Hoje, o mesmo rádio faz 2G, 3G e 4G. E hoje posso ter um rádio que faz DSS que faz 4G e 5G. O que define ter um novo rádio ou não, é a questão de qual espectro se está iluminando. Quando tiver que iluminar os 3,5 GHz, teremos que ter um novo rádio. Isso independe do padrão.

Os rádios hoje não são compatíveis com novo espectro?
Capdeville: Não. O hardware é diferente para lidar com outra frequência. Então precisa de um novo hardware de fato. Como funciona hoje? Imagina uma cidade que eu tenha 850 MHz, 1,8 GHz e 2,1 GHz [frequências usadas na 4G]. Quando eu vou colocar o 2,6 GHz nessa cidade, tenho que colocar um novo rádio. Quando eu for colocar o 3,5 GHz, terei que colocar o novo rádio.

Agora, a definição do padrão e da tecnologia é mais software do que hardware. Então, por exemplo, a TIM começou a colocar 700 MHz há quatro anos, 100% dos meus rádios de 700 MHz são software upgradable para DSS. Então não preciso fazer nada para que tenha o 5G DSS. Só atualizar software.

Mas alguma coisa será duplicada. O núcleo de rede, você terá que possuir um núcleo 4G e 5G atendendo aquela ERB, correto?
Capdeville: É. Mas vamos falar primeiro do padrão non-standalone. Por que criaram esse padrão? Porque o standalone não estava pronto. O NSA foi feito em base de simplificação, sem todos os serviços nem todas as características, mas posso começar operando pelas interfaces que tenho hoje. Falando do core, o core do 4G, quando se vai colocar o core do 5G nele, é preciso colocar novas funcionalidades, novo software, e pagaremos por isso. Então tem que ter um novo software para que no padrão non-standalone se consiga operar 4G e 5G.

Uma vez que o padrão 5G foi definido, não precisa mais usar as interfaces do 4G. Para conseguir implementar todas as capacidades do 5G, deixa-se para trás as interfaces do 4G e começa a operar no 5G.

Tem outro mito de que isso custa mais caro. Na nossa visão, não custa. No non-standalone tenho que pagar o upgrade do software e pela capacidade que vou usar, em hardware e software. O hardware já é virtualizado. Compro o hardware e vou pagando licenças de uso. Quando vou para o 5G, que é standalone, o mesmo hardware eu vou ter que comprar. O software, a grande vantagem que temos do ponto de vista da negociação é que não tenho o lock in. Não necessariamente tenho que usar o mesmo fornecedor do 4G para fazer o 5G. Então tenho a oportunidade de abrir ao mercado uma nova concorrência. Como o core 5G é independente, vamos ao mercado fazer a concorrência do core 5G. Se não fosse o SA, não dá, tem que ser o que já existe.

Além de Ericsson, Nokia e Huawei, quem mais faz core?
Capdeville: Vou te dar mais dois nomes que estão bem posicionados: Mavenir e Affirmed, que foi comprada pela Microsoft. Estou citando só duas além dos três tradicionais, que já têm operações comerciais em core standalone, com as mesmas funcionalidades. O padrão standalone abre a possibilidade de ter o cenário competitivo em que você possa criar a melhor dupla qualidade e preço, de forma independente, sem ficar recorrendo a um histórico de lock in.

Quem mais defende o padrão non-standalone são aquelas que hoje mais defendem a posição de market share. As que defendem o standalone são aquelas que estão buscando crescer no market share. Então tem o interesse das indústrias, que é legítimo. O ponto é que queremos ter a melhor tecnologia pelo melhor preço. Quanto melhor a tecnologia, e quanto mais baixo for o preço, melhor a qualidade e mais acessível o serviço.

E é possível misturar os núcleos Affirmed, Huawei e Mavenir, por exemplo?
Capdeville: Entre 4G e 5G, sim. Ou posso fazer um core por região. Mas é difícil ter tantos cores. Posso ter core da Huawei no 4G e ter outro core no 5G.

Você não vai ter Huawei no 5G?
Capdeville: Não sei. A Huawei é um excelente provedor.

Ela continuará com poder de mercado e competitiva?
Capdeville: Com certeza.

A licença de software para núcleo 5G é mais caro ou mais barato que o núcleo 4G?
Capdeville: O rádio tem o mesmo preço. O core ainda não definimos, então não posso dizer se é mais barato ou não. Nossa expectativa é, uma vez que teremos oportunidade de discutir uma parceria estratégica para os próximos anos, espero que esse cenário competitivo traga para a gente oportunidade de discutir preços mais acessíveis do que temos hoje. Podemos não atingir preço mais baixo, mas pelo menos temos oportunidade de discutir no mercado, algo que no non-standalone é muito mais difícil.

E teremos em 2022 uma base de usuários já de posse de smartphones compatíveis com rede 5G Standalone?
Capdeville: Seguramente. E acessíveis. A Qualcomm, desde junho de 2020, 100% dos chipsets dela são duais: standalone e non-standalone. Os modelos mais recentes, o iPhone 12, opera em 5G Standalone na China. Então não é uma questão de hardware, mas de habilitar ou não o software sobre esse hardware. O Samsung S21 é non-standalone e standalone.

A questão é que os celulares com 5G DSS hoje custam muito caro, quem usa?
Capdeville: O caminho natural é começar pelo high-end, depois desce pro mid e low. Hoje no mundo já tem terminais 5G que se aproximam de 150 dólares. O Brasil tem uma cadeia de impostos que já encarece muito também. Mas a tendência, com o passar da tecnologia, é que o preço caia muito. De qualquer forma, isso tem a ver com 5G ou não 5G, não tem a ver com ser standalone ou não porque todos os chipsets já são compatíveis.

E aí tem outra vantagem em vermos a Anatel definindo o padrão. Se esse padrão é exigido, todo o mercado vai na mesma direção. Quando todo o mercado vai para a mesma direção, há padronização, cria-se escala. E a vantagem de se criar escala é que o preço cai mais rápido. E se o preço cai mais rápido, massifica mais rápido, e gera escala mais rápido. Então entra-se em um círculo virtuoso. A definição do padrão favorece a uniformidade necessária para gerar escala.

Standalone é o futuro. Nós, como TIM, já decidimos que vamos para o standalone, porque é o que vai entregar os novos serviços e é à prova de futuro.

[quote cite=’Leonardo Capdeville, CTIO da TIM’]Standalone é o futuro. Nós, como TIM, já decidimos que vamos para o standalone, porque é o que vai entregar os novos serviços e é à prova de futuro.[/quote]

Quem comprou os celulares 5G DSS atuais, ou comprou lá fora um celular 5G, será compatível com as novas redes 5G?
Capdeville: A Motorola já me afirmou que sim, o Edge será compatível. A Apple não divulga a especificação se é ou não standalone, mas o iPhone 12 da China é. A Samsung, estamos analisando. Provavelmente os hardwares de agora e daqui para frente serão.

Quais os resultados das redes 5G DSS atuais de vocês?
Capdeville: Estamos fazendo isso pelo aprendizado. Tem em três cidade com FWA. E começou para usuários de smartphone no Rio de Janeiro e em São Paulo. A disposição de terminais ainda é muito pequena. A gente sempre corre atrás com a rede, mas quem dita a adoção da tecnologia, é ter o dispositivo disponível a um preço adequado.

 A TIM vai dar lances pelas outras licenças – 700 MHz, 2,3 GHz e 26 GHz? No 700 MHz, caso haja segunda rodada…
Capdeville: Depende das condições que a Anatel vai colocar. Com o que foi apresentado até agora conseguimos começar a calcular o custo da obrigação. Mas qual é o risco? Lembra que o preço da frequência é o VPL menos a obrigação? A gente consegue chegar no valor da obrigação, estamos fazendo as contas. A gente não sabe, porém, quanto que a Anatel vai colocar de VPL. Então tudo isso vai depender da Anatel, e esperamos que a agência seja muito consciente porque o caixa das operadoras é um só. A gente sempre falou de um leilão equilibrado. Nesse leilão a gente pode gastar para pagar a frequência, ou investir muito mais na infraestrutura. Esperamos que o leilão venha trazendo investimento na infraestrutura. Se a gente sofre com caixa para pagar licença, o que acaba sofrendo é o deployment da infraestrutura, e aí em vez de acelerar, a gente acaba tendo que postergar por uma questão de caixa. Então estamos esperando que a Anatel conclua o processo para dizer quais serão definitivamente as obrigações e qual será a conta de precificação do espectro.

Os 26 MHz não têm obrigação, então esperamos a divulgação do preço mínimo para decidir. No caso do 2,3 GHz, a gente conhece a obrigação, mas também não conhecemos o preço mínimo.

Os Estados Unidos estão concluindo agora um leilão de espectro gigantesco, que faturou mais de US$ 80 bilhões para o Tesouro do país, um modelo que muitos querem fugir no Brasil por consideraram capaz de inviabilizar os investimentos em 5G. O que os leilão dos EUA tem que atrapalha a implantação da tecnologia? É apenas uma questão de arrecadação?
Capdeville: Vou falar de outro país em que o caso foi parecido. Na Itália, foi um desastre. O órgão regulador colocou para o mercado dois blocos de 80 MHz e dois de 20 MHz. Então houve canibalização entre as empresas, porque quem não levava 80 MHz estava fora do jogo. Essa disputa acirrada entre as quatro operadoras italianas fez com que as que pagaram mais pelo espectro ficassem sem dinheiro para investir. Ao mesmo tempo em que as outras duas ficaram com dinheiro, mas não têm espectro para usar. Então duas têm espectro, sem caixa, e duas têm dinheiro, mas não têm espectro.

Nos EUA o que se está ponderando é exatamente a mesma coisa. Já tem um desequilíbrio espectral muito grande. A T-Mobile está muito bem posicionada em espectro, e tem a AT&T, Verizon e Dish competindo para tirar esse gap. E o total de espectro colocado não é suficiente para isso. Isso fez com que houvesse uma competição absurda. E a questão que fica agora é como exigir que as empresas invistam em tecnologia, se tiveram que pagar para o governo um dinheiro que não fará a menor diferença para o futuro do Tesouro?

É isso que a gente fala para o Brasil. Estudo do BNDES diz que a 5G trará R$ 250 bilhões ao PIB em 2035. Quando você pega esse número, qualquer número que você pense pelo espectro será menor. Então o risco de errar a mão agora é fazer com que as operadoras, por problemas de caixa, virem um gargalo no desenvolvimento. As operadoras precisam cumprir seu papel para que toda a economia se desenvolva. Se o governo erra e tire caixa das operadoras, elas não vão ter como investir. É isso que está acontecendo nos EUA.

Nos EUA tivemos portanto a mescla de leilão arrecadatório com uma divisão de blocos que aumentou a competição?
Capdeville: Exatamente. Isso a Anatel fez bem. Colocou 400 MHz, de modo que todas as operadoras vão poder estar presente no 5G. Esse desenho de cinco blocos é muito bom, pois já nos garante que não vamos ficar fora do jogo, que vamos conseguir oferecer 5G no Brasil. Esse risco, então, a Anatel eliminou. O segundo, de arrecadatório, tem conversas no governo que foram retomadas neste sentido. Mas espero que tenham a sensibilidade para entender que precisamos fazer investimento na infraestrutura.

No caso dos 4 blocos, a Oi já avisou que não pretende participar. Sobra um bloco nacional de 80 MHz em 3,5 GHz. Temos três operadoras que poderão comprar 20 MHz cada. Sobram, portanto, 20 MHz. Para onde vai essa frequência que sobras? 
Capdeville: Aí a Anatel que vai decidir ainda. O cap nos 3,5 GHz é de 100 MHz. A agência teria que rever isso.

Mas mesmo que reveja, hoje a canalização máxima no 5G é de 100 MHz…
Capdeville: Por enquanto. Já estão trabalhando nos requisitos do padrão para ampliar isso para 200 MHz. Nos 26 GHz, a canalização é 400 MHz, por exemplo.

O que o brasileiro poderá esperar ao fim desse leilão, caso seja decidido pelo padrão standalone?
Capdeville: O padrão prevê conexão de perto de 1 Gbps.

Para várias pessoas conectadas na ERB ou é o caso de uma conexão única?
Capdeville: Você sempre vai ter 1 Gbps no cômputo total. Mas conforme tivermos mais pessoas usando simultaneamente, reduz. Uma boa conexão no 4G hoje, estamos falando de velocidades de 30 a 40 Mbps. Uma boa conexão no 5G vai ter velocidade de 600 ou 700 Mbps.

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