Nokia vê redes no limite e avisa que modelo comercial da fibra vai mudar

Wilson Cardoso, da Nokia, diz que a partir de 2025 haverá gargalo na capacidade de processamento dos dados e defende rede única óptica, realidade ainda distante, na visão de V.tal e Fibrasil.

Wilson Cardoso, Nokia

A expansão das redes de fibra óptica ainda está longe de acabar, mas no mercado já tem gente pensando em suas limitações e como será necessário se adaptar nos próximos anos. É o caso da fabricante de equipamentos Nokia. A empresa prevê a chegada de um grande gargalo tecnológico em 2025, quando, estima, a Lei de Moore chegará ao ápice.

A Lei de Moore trata da relação entre tamanho, capacidade de processamento e custo de produção de chips. Segundo a lei, em ciclos de dois ou mais anos a indústria consegue dobrar a quantidade de transistores em um mesmo chip.

Segundo Wilson Cardoso, CTO da Nokia para a América Latina, chegou-se ao limite da miniaturização, com produção de transístores de 1 nanômetro, que devem entrar em produção em 2025. A partir de lá, toda a indústria de telecomunicações, informática e quem mais precisar crescer em receitas vendendo mais capacidade de processamento e velocidade, precisará se adaptar. Isso terá reflexo sobre as redes de fibra, pois também atingiremos o limite da capacidade de dados trafegados que podem ser processados.

“Então será preciso rever a arquitetura da rede para um novo modelo”, alertou o executivo, durante o evento Furukawa Summit 2022*, que acontece em Atibaia (SP).

Segundo ele, ninguém ainda tem a resposta para este novo mundo em que a Lei de Moore deixa de fazer sentido. Mas há propostas. No caso da Nokia, acredita-se que a alternativa será ampliar muito a capilaridade das redes ópticas e distribuir o processamento ao longo de sua extensão.

Rede única de fibra

Para Cardoso, as redes ópticas vão acabar convergindo. A exigência de capital para expandir rumo à capilaridade necessária será tão alta, que os investimentos precisarão ser compartilhados.

Com isso, diz, as redes neutras e operadoras que hoje têm infraestrutura própria, vão integrar as redes entre si, criando uma rede única por onde trafega o tráfego de todas.

“Isso acontece por enquanto só no Reino Unido, que é o país com maior penetração de fibra óptica da Europa. A Ofcom [regulador local] determinou incentivos ao compartilhamento de fibra. A remuneração no caso se dá com base no investimento, e não no uso da rede”, explicou ao Tele.Síntese.

Para Rafael Marquez, CMO da operadora de rede neutra V.tal, essa previsão não está no radar das empresas brasileiras. A seu ver, as redes neutras seguirão independentes entre si, com os clientes contratando mais de uma a depender da estratégia.

“Para racionalizar os investimentos, entendo ser possível uma forma de evitar sobreposições dessas redes nas cidades, mas não vejo integração entre elas no curto prazo”, avaliou.

“A gente tem que dar um passo antes. Ter um cliente que faz parceria com A, com B, com C, é normal. Ter APIs comuns, se você se integra com um, se integra com qualquer um. Compartilhamento de rede com outras neutras não é algo que vislumbramos logo”, afirma.

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Rafael Bucco

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