Anatel prepara teste de convivência na faixa de 3,5 GHz para venda em 2019

A Anatel quer vender as frequências de 2,3 GHz e de 3,5 GHz (300 MHz no total) no segundo semestre de 2019. Os testes de convivência são o primeiro passo para a preparação da modelagem do leilão
(Crédito: Shutterstock Sergign)

A Anatel está reunindo os diferentes agentes da cadeia de valor – indústria, operadoras de celular e de satélite – para realizar com eles os testes de convivência que irão dar a segurança necessária para o leilão da faixa de 3,5 GHz, previsto ocorrer no segundo semestre de 2019. “A nossa intenção é fazer os testes botton up, com a participação de várias mãos”, explicou o conselheiro Leonardo de Morais, coordenador do grupo de espectro e órbita que está conduzindo o tema.

Segundo ele, esses testes são importantes porque na faixa de 3.625 MHz está presente o serviço de TV aberta via satélite banda C, conhecido como banda C estendida. A intenção da agência é vender para as operadoras móveis 200 MHz de espectro entre 3.400 MHz e 3.600 MHz, o que aparentemente não teria problema, visto que há 25 Mhz de banda de guarda para o serviço de satélite.

Mas o problema de interferência entre os dois serviços pode ocorrer porque os conversores vendidos no Brasil não são certificados pela agência, e podem “avançar” na frequência que se quer colocar à venda, provocando, assim a interferência entre os serviços. “Sabemos que será necessário colocar filtros nos conversores existentes, mas essa questão será tratada em outra etapa do estudo”, firmou Morais. Os testes serão realizados no Rio de Janeiro e agora o grupo está trabalhando em seu cronograma.

Leilão de espectro

Segundo Morais, a intenção é  fazer o leilão simultâneo dessa faixa com a de 2,3 GHz (com 100 MHz liberados pelos serviços que ligam os equipamentos de externa de TV aos estúdios), as duas frequências já apontadas pela União Internacional de Telecomunicações (UIT) mundialmente para receber a 5G da telefonia celular. ” O Brasil demorou para ingressar na 3G, mas entrou em linha na 4G e, com essa venda, também estaremos assegurando para a sociedade novas oportunidades de serviços e de modelos de negócios em linha com o mundo”, afirmou ele.

Embora várias operadoras da Ásia e dos Estados Unidos prometam a 5G  para o próximo ano, o padrão tecnológico só estará mesmo concluído a partir de 2020. “E quando as operadoras começarem a prestar o serviço no Brasil, haverá mais aparelhos, e os equipamentos de rede já estarão mais baratos”, avalia o executivo.

Na avaliação de Morais, a venda conjunta desse espectro dará novas oportunidades para as operadoras, que poderão fazer diferentes opções de compra. “Aquelas que quiserem fortalecer a 4G poderão se concentrar na aquisição da faixa de 2,3 GHz, ou as que quiserem ir direto para a 5G podem ir direto para a 3,5 GHz”, sugeriu ele, para dizer que, de qualquer forma, a modelagem de venda, com o cap de frequência também será lançada à consulta pública.

A frequência de 3,5 GHz – que foi recentemente leiloada pela agência reguladora da Inglaterra, a Ofcom – não só assegura melhor troughput (ou vasão de dados) como é propícia para a IoT – Internet das Coisas- tanto para estimular novos modelos de negócios, como para permitir a expansão da IoT massiva em segmentos críticos (como água, luz e petróleo).

E a 700 MHz?

Na avaliação do conselheiro, a venda da frequência de 700 MHz (estão livres 20 MHz não comprados pela Oi) também poderá ser feita no leilão do próximo ano, mas ainda não há uma decisão da agência se ela será vendida este ano. Para ele, porém, o ideal é que todas as faixas sejam vendidas em conjunto. “Não gosto da ideia de se estimular a escassez artificial de espectro apenas para aumentar a arrecadação do Tesouro”, vaticinou.

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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