Para Baigorri, plataformas digitais só caberão à Anatel ‘a depender do que se quer regular’

Presidente da Agência, Carlos Baigorri, ressalta que 'regular discurso de desinformação' não cabe a órgão do Estado.
Plataformas: Para Baigorri, Anatel só é a ideal 'a depender do que se quer regular' | Foto: Will Shutter / Câmara dos Deputados
Carlos Baigorri, presidente da Anatel, reforçou posição sobre regulação de plataformas digitais em debate | Foto: Will Shutter / Câmara dos Deputados

O presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Carlos Baigorri, pontuou nesta terça-feira, 23, as ressalvas na posição da autarquia para incorporar atribuições frente às plataformas digitais. Para ele, a Anatel pode até ser a entidade responsável, mas “depende do que se quer regular”.

“Se você quer regular o uso de dados que as plataformas fazem, não tenho dúvida nenhuma de que a ANPD [Autoridade Nacional de Proteção de Dados] é a responsável; se você quer regular desinformação, discurso de ódio, esse tipo de coisa, não sei se faz sentido algum órgão do Estado ficar monitorando, de forma paulatina, o que está sendo dito nas redes sociais”, exemplificou Baigorri, durante simpósio Regulação de Plataformas Digitais e a urgência de uma Agenda, realizado pela Coalizão Direitos na Rede, na Câmara dos Deputados.

A exemplo do que já vem sendo atribuído à Anatel e que conta nas argumentações pela formalização da competência da Agência no ambiente digital, o presidente ressaltou que a autarquia é que tem assumido desde 2022 um papel reativo diante das demandas judiciais para retirada de conteúdos da rede. “Isso decorre do fato de que a Anatel tem, por previsão legal, o poder de polícia – e não é que sejamos polícia, mas temos o poder administrativo – sobre as empresas de telecomunicações e, com base nesse poder estabelecido em lei, podemos punir”.

É o caso de quando a Justiça determina a exclusão de determinado conteúdo da rede e, diante do descumprimento, determinada plataforma pode ser suspensa. Neste caso, a Anatel é encubida de fiscalizar o bloqueio do acesso na camada de infraestrutura de rede, junto às operadoras, que estão sujeitas a sanções.

“O enforcement [cumprimento da lei] às plataformas digitais só vai ser efetivo se o agente público [atuar] sobre a camada de infraestrutura. É por isso que a gente é procurado pela Justiça”, destacou Baigorri.

Em recente contribuição em Consulta Pública do Ministério da Fazenda, a Superintendência de Competição da Anatel defendeu o pleito como futura reguladora de aspectos concorrenciais do mercado digital, sem invadir as competências já atribuídas a outras agências, como a ANPD e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

O simpósio nesta tarde também contou com a presença do relator do PL 2630/2020, deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), que defendeu a posicionamento do Poder Executivo para que a regulação de plataformas avance no Congresso (saiba mais).

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Carolina Cruz

Repórter com trajetória em redações da Rede Globo e Grupo Cofina. Atualmente na cobertura dos Três Poderes, em Brasília, e da inovação, onde ela estiver.

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