Brilhante repórter, fonte inteligente, mas abordagem errada. As duas matérias publicadas pela Folha de S.Paulo sobre os estudos da Anatel para as taxas de interconexão da rede móvel – conhecida no Brasil como VU-M- provocaram um reboliço no mercado, inclusive mexendo com os valores das ações, mas estão erradas. A Anatel nunca pensou em acabar com a taxa de interconexão da rede móvel. Estuda apenas mudança de remuneração entre as redes, saindo do atual full billing para o bill and keep.
As notícias estão confudindo a forma como a remuneração das redes de telecomunicações é feita hoje no país com o que a agência está estudando para mudar. Hoje, nas redes de celular a remuneração entre elas se dá sob a forma de full billing. Ou seja, qualquer ligação que um usuário faz para outro usuário, seja na rede da mesma operadora, seja para a rede de outra operadora, há o pagamento da taxa de interconexão entre uma e outra. Assim, se um cliente TIM liga para um cliente Vivo, e fala por cinco minutos, a TIM repassa para Vivo cinco minutos de taxa de interconexão, que ainda é a mais alta do mundo, apesar do primeiro movimento da Anatel para reduzi-la anunciado em janeiro deste ano.
No final do mês, as operadoras fazem o encontro de contas entre elas, e quem recebeu mais ligação paga mais VU-M para a outra. É claro que esta taxa de interconexão é repassada para o preço final do usuário, como qualquer outro serviço.
Mas como a VU-M brasileira é ainda um dos valores mais mais altos do mundo, (o que a Anatel já deveria ter enfrentado há muitos anos e só fez o primeiro movimento em 2012, reduzindo apenas 10%), as empresas acabam “mascarando” estes custos (não vão tirar de seu próprio bolso), porque não vão pagar para si mesmas estas VU-Ms. Passam, então, cobrar de seus clientes que falam dentro de sua própria rede muito mais barato do que cobram quando seus clientes falam com clientes de seus competidores, onde a remuneração é obrigatória.
Por isto, as ligações on net (ou dentro da rede ) TIM-TIM, Vivo-Vivo, Claro-Claro, Oi-Oi são SEMPRE muito mais baratas do que Tim-Vivo, Vivo-Claro, etc.
A Anatel, por sua vez, ao invés de encarar o problema principal, fica buscando saída para diminuir esta distorção do mercado de celular brasileiro. A distorção está justamente no fato que exitem hoje quatro redes de celular que quase não falam entre si, pois todos só querem manter seu clientes no confortável ninho On net.
O conselheiro Rodrigo Zerboni confirmou ao Tele.Síntese, que, na entrevista à Folha, estava apenas se referindo a um estudo do Bill and Keep, e não em eliminação da interconexão. “E o estudo ainda está no começo”, afirmou.
Qual é o estudo: ao invés do full billing (todos pagam para todos) a Anatel quer implementar o Bill and Keep (todos ficam com suas próprias receitas de interconexão). Nesta modelagem, acredita a Anatel, as empresas ampliariam a queda de preços para os seus clientes fora de suas redes, estimulando a troca de conversas entre as diferentes empresas. Mas os riscos são inúmeros e é preciso mesmo muito estudo.
Redes Fixas
Para não ir muito longe no tempo, hoje na pauta do conselho Diretor há a mesma proposta para a rede de telefonia fixa. Vamos esperar que a Anatel não crie problemas onde eles não existem, pois na rede fixa, a TU-L (tarifa de intercoxão) , é de 1 centavo, (enquanto a VU-M da rede móvel é de R$ 0,35 centavos), e não provoca qualquer ruído no setor. A conferir