Furukawa aguarda Lei de Informática para ampliar investimento no Brasil

Responsável pela multinacional na América Latina, Foad Shaikhzadeh defende que a nova Lei de Informática a ser enviada pelo governo ao Congresso deve manter os incentivos fiscais até 2029, pelo menos.

O governo deverá esticar, de agosto até o final deste mês, o envio ao Congresso Nacional de medida provisória que vai alterar a Lei de Informática com o objetivo de atender exigências da Organização Mundial do Comércio (OMC) em relação a incentivos fiscais do Imposto sobre Produtos Industrializados. Deve o texto, porém, manter a vigência desses atrativos até pelo menos 2029, conforme prevê a legislação em vigor. É o que defende Foad Shaikhzadeh, presidente da fabricante japonesa de fibra ótica Furukawa Electric LatAm e vice-presidente corporativo sênior do grupo Furukawa Electric.

“Se a gente quer trazer mais investimentos para o Brasil, nós precisamos que as condições da Lei de Informática continuem pelo menos até 2029”, afirmou o executivo ao Tele.Síntese.  “Se não, não tem dúvida, nós temos fábricas no mundo inteiro. Nós vamos atender o mercado [do Brasil]? Vamos. Trazendo de outros lugares. Mas, como sou o responsável pela operação na América Latina, eu gostaria de gerar empregos no Brasil”.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Tele.Síntese: Como o senhor está acompanhando a nova Lei de Informática?

Foad ShaikhzadehNós estamos acompanhando, porque fizemos novos investimentos no Brasil, temos condições de fazer mais investimentos, e a Lei de Informática foi prevista para ir até 2029. Com o PLC 79 virando lei,  isso vai demandar mais capacidade das fábricas. Felizmente, nós somos uma empresa bem avaliada pelo mercado. Se a gente quer trazer mais investimentos para o Brasil, nós precisamos que as condições da Lei de Informática, pelo menos até 2029, continuem. Se não, não tem dúvida, temos fábrica no mundo inteiro. Nós vamos atender o mercado? Vamos. Trazendo de outros lugares. Mas, como sou o responsável pela operação na América Latina, eu gostaria de gerar  empregos no Brasil.

Sob o aspecto de competitividade de produto, eu não tenho problema com isso. Os chineses, os indianos, que produzem fora do Brasil e importam, nós estamos competindo com eles de igual pra igual.

Tele.Síntese: Mesmo com a queda do Imposto de Importação?

ShaikhzadehA China tem regras muito fortes para produzir lá. A Índia tem regras muito fortes antichineses. O Brasil vai dar o mercado dele de graça? Os russos têm regras muitos fortes, falando de todos os Brics. Nenhum deles tem o mercado totalmente aberto.  Acho que nem nos EUA, que é tão forte. Não tem um metro de fibra importada lá dentro. Não tem equipamento da Huawei lá dentro. Essa briga do presidente Trump com a Huawei não é de graça. Nós vivemos num setor de alta tecnologia, que é sensível.  Não tenho problema de competir com essa turma. Não estou dizendo que tem que fechar  a porta. Que venham os chineses, mas tem que ter alguma coisa que incentive o Brasil, senão vamos trazer de fora. A Furukawa tem fábrica na China.  Esse pessoal pode vir produzir aqui, mas precisamos também priorizar o que está dentro, gerando emprego e renda.

Tele.Síntese:  E como é essa solução financeira que a Furukawa e distribuidores estão oferecendo aos clientes finais?

Shaikhzadeh: Normalmente, a gente financia o cliente final.  Para o ISP, a gente financia direto. Mas nós temos alguns produtos para as distribuidoras que não é para o ISP, é para o Data Center. Aí eu financio o meu distribuidor, para o meu distribuidor ter capital de giro e vender para o cliente final dele. O data center está crescendo. O integrador que está vendendo o meu data center precisa de financiamento. Nós procuramos o nosso parceiro financeiro e fizemos que ele desenvolvesse para alguns distribuidores algumas linhas de crédito para financiarem os integradores. Isso é totalmente inovador.

Tele.Síntese: Geralmente, grande empresa investe em tecnologia para redução de mão de obra. A Furukawa está indo na contramão dessa tendência mundial?

Shaikhzadeh: Como nosso negócio é tecnologia,  precisamos criar gente que ajude as empresas. Eventualmente, as empresas de tecnologia podem ter redução de mão de obra, mas não nós. Demora para as pessoas serem capacitadas. Temos pessoas com 30 anos na empresa porque sabemos que é muito difícil formar gente especializada. Somos 2.000 empregados, a maioria no Brasil e temos planos de expansão.

Tele.Síntese: Por que o senhor avalia que há espaço para todos com a aprovação do PLC 79, se a nova lei exigir investimentos das grandes operadoras em áreas mal atendidas, onde predominam os provedores regionais de internet?

Shaikhzadeh:  O projeto está regulando o mercado.  E ter regulação é algo que facilita ter as regras do jogo para poder operar. Para os pequenos provedores, há aplicações complementares em serviços de rede. Por exemplo, pegar toda a cadeia de hotéis, porque há hotel que não tem internet de boa qualidade. Uma grande operadora, ela nunca vai dar essa qualidade de costumer experience. E esse é o ponto forte dos ISPs. Não é construir rede onde, provavelmente, a grande não está presente. Cedo ou tarde, se o mercado é bom, a grande operadora vai estar lá. Se a economia estivesse bem, você acha que essas operadoras não estariam investindo?

Tele.Síntese: E com a chegada do 5G?

Shaikhzadeh: Vai ter uma demanda gigantesca do outro lado. Todas [as operadoras] falam também que vão terceirizar redes,  torres, um monte de coisas. Eles não são inimigos; o inimigo é nós mesmos. Qual é o papel do provedor? Prestar serviço, procurar sua razão de ser. O costumer experience é o segredo do futuro.

Tele.Síntese: Mas entidades dos ISPs manifestaram temor de que o PLC 79 desenvolva uma concorrência desleal…

Shaikhzadeh: É infundado esse temor. Claro que o pequeno pegou o mercado pela ausência do grande. O pequeno tem estratégia clara. As grandes operadores ainda não têm estratégia para fibra, que é  o futuro em tudo.  Os ISPs têm capacidade imensa de vender rede de qualidade, se a rede dele é boa. Agora, se ele pega e constrói a rede dele com produto econômico e barato… Agora repensa o seu negócio. Se você quer que seu negócio seja apenas econômico para comprar cabo do sudeste da Ásia, está jogando seu dinheiro fora, hoje. É isso que a Furukawa está querendo dizer para todo mundo: “Não compre apenas pelo barato”. Se você é dono de ISP, você não precisa se preocupar com o quanto gastou no cabo, você precisa se preocupar é com milhares de clientes que fiquem tão fiéis a você que pode vir quem vier, de qualquer lugar, que teu negócio é protegido.

Tele.Síntese: E isso  vai acontecer com a sanção do PLC 79 e quando o 5G chegar?

ShaikhzadehO 5G é baseado em fibra. Então o futuro está na fibra, tem que construir rede de fibra cada vez mais.  Por que que a Lei de Antenas é essencial? Porque o número de antenas para o 5G vai multiplicar. Em locais públicos você vai precisar colocar antenas cada vez mais.

 

 

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Abnor Gondim

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