Desde seus primórdios, no Brasil, como no resto do mundo, as redes de TV por assinatura foram desenhadas para prover múltiplos serviços: vídeo, voz e dados. No país, a NET Serviços não começou a oferecer triple play mais cedo por questões financeiras. Hoje, está simplesmente atuando como sempre deveria ter feito. Em entrevista ao Tele.Síntese, o presidente da empresa, o gaúcho Francisco Valim, diz que, quando a NET e a Embratel lançaram o serviço de voz, foi a primeira vez, no país, que as concessionárias tiveram que enfrentar concorrência – pelo menos nas cidades onde a NET atua. E, particularmente a Telefônica, baixou seus preços em função disso.
Para o executivo, o órgão regulador deveria, primeiro, estimular a concorrência onde ela não existe – no serviço local – para, só então, preocupar-se com a competição onde já existe, no segmento de TV paga. "O nosso negócio é fazer dinheiro, ganhar dinheiro com os serviços que a gente presta, com eficiência do lado interno, e com concorrência do lado externo. Então, para nós, não tem como ter qualquer tipo de parceria, acordo, amizade com o inimigo", afirma Valim. Ele também nega que, pelo fato de terem o mesmo acionista controlador, no caso o milionário mexicano Carlos Slim, Embratel, NET e Claro formem um "grupo" que possa passar a oferecer serviços empacotados, ou integrados, como Oi/Telemar ou Brasil Telecom.
Quanto ao futuro, Valim não faz projeções, mas informa que, o passo seguinte da NET, desde que a relação custo-benefício seja positiva e perceptível para o cliente, será a mobilidade, o quad play.
Tele.Síntese – Poderíamos começar falando um pouco sobre a estratégia geral da NET Serviços – TV por assinatura, banda larga, voz.
Francisco Valim – Vou dar uns passinhos para trás para você entender melhor. As redes de TV por assinatura, em qualquer parte do mundo, e em particular no Brasil, onde o serviço começou com algum atraso, no na década de 90, não foram feitas para fazer TV por assinatura, mas para fazer multisserviços.
Tele.Síntese – Desde o início?
Valim – Desde o início. Para dar um exemplo, eu, em 99, testei voz, vídeo, dados. Tanto que é que, no Brasil, a banda larga foi lançada em 1999, pela TV paga.
Tele.Síntese – Mas não avançou…
Valim – Por causa da crise financeira. A TV por assinatura investiu antes da desvalorização, e teve que pagar uma dívida valorizada, o que impediu que desenvolvesse múltiplos serviços. Foi uma questão absolutamente financeira, não estratégica. Então, hoje, a gente está simplesmente cumprindo nosso objetivo original de prover multisserviços. Aqui, compra-se o mesmo tipo de equipamento que a Scientific Atlanta vende às americanas Comcast ou Cablevideo – rigorosamente o mesmo equipamento para fazer vídeo, dados e voz. Ou seja, pay TV, banda larga e telefonia.
Tele.Síntese – Quando você fala voz, é VoIP, não?
Valim – VoIP é uma modo de entregar. A NET te entrega banda larga através de uma plataforma chamada Docsis, hoje na versão 2.0. VoIP é só a plataforma que trafega nessa rede, é o tipo de linguagem que esse negócio fala. Nós utilizamos, sim, uma tecnologia sobre protocolo IP. Mas, no Brasil, criou-se uma confusão, e se pensa que VoIP é de graça, e telefonia é paga.
Tele.Síntese – Mas VoIP não é mais barato?
Valim – Aqui, não é a tecnologia que determina o custo da ligação, mas o modelo de tributação e tarifação do uso rede. A tecnologia da NET é a mesma que as operadoras de cabo usam nos EUA. No entanto, a precificação tem que ser de acordo com a tributação e a legislação locais de interconexão. É por isso que os preços são o que são. Quando alguém vai para o Skype e faz uma ligação de graça, costumo chamar isso de ligação pirata. A empresa está no Brasil, não paga tributo no Brasil e não paga interconexão no Brasil. É uma ligação pirata, e as pessoas confundem isso com o nossos serviço. A gente usa tecnologia de voz sobre o protocolo internet, mas não é isso que define o nosso modelo de negócio. A gente não quer que se confunda o modelo de negócio com a tecnologia.
Tele.Síntese – Empresas como a Vono, da GVT, pagam impostos e seus serviços custam menos…
Valim – Não menos do que os nossos serviços.
Tele.Síntese – Porém menos do que os das concessionárias locais.
Valim – Tudo o que agente quer é que exista competição para a Telefônica cobrar menos. A Telefônica custa caro porque não enfrenta concorrência.
Tele.Síntese – Mas em todo lugar do mundo leva tempo para haver competição no serviço local…
Valim – Não oito anos. Não acho que as incumbents vão morrer, mas a competição vai permitir ao consumidor, primeiro, optar; em segundo lugar, pagar menos.
Tele.Síntese – Atualmente, na União Européia, os órgãos reguladores estão batendo pesado. É um processo demorado, mas um dia começa.
Valim – Estou totalmente alinhado contigo. Acho que agora que existe a possibilidade de concorrência no Brasil, o órgão regulador deveria permitir que essa competição se acirrasse mais no serviço que não tem competição, ao invés de estar discutindo a possibilidade de as teles entrarem no nosso serviço. A gente tem que inverter essa discussão, ver se ela é em benefício do consumidor. Se é, por que não incentivar a competição primeiro no serviço onde ela não existe, e, depois, permitir a competição no serviço que já é concorrido? Não precisamos de mais competição em TV por assinatura. Aqui em São Paulo, há três provedores para escolher: nós, a TVA, a Sky-DirectTV. São programações diferentes, preços diferentes, formatos de negociações diferentes, sócios absolutamente diferentes. É isso que eu acho que a Ofcom está fazendo no Reino Unido, que o órgão regulador está fazendo na França, que a FCC já fez, que o governo chileno já fez, e que a gente deveria fazer aqui no Brasil. Ah, e o governo não está deixando a Telmex fazer vídeo.
Tele.Síntese – O mercado não resolve isso sozinho?
Valim – Não há como as empresas se organizarem entre si. É preciso uma intervenção do órgão regulador.
Tele.Síntese – A convergência não vai mudar tudo isso, esteja a lei atualizada, ou não?
Valim – Vai. No entanto, ela pode mudar para pior. Imagina se existir um único provedor convergente. Aí, se vai pagar caro por TV paga, por banda larga e por voz.
Tele.Síntese – Nada indica que haverá um só provedor convergente!
Valim – Não, porque, em todos os países, o órgão regulador interviu. Nos EUA, o país de maior concorrência do planeta para tudo, o órgão regulador não permitiu que as teles fizessem vídeo até bem pouco tempo atrás.
Tele.Síntese – Mas, aqui, as operadoras de TV paga estão se entrincheirando…
Valim – Mas como se entrincheirando se existe competição em TV paga? O que está entrincheirado é a voz, não sei porque pergunta a mim. Não vivi um único dia sem concorrência. E estou nesse negócio desde o very begining. Como posso me entricheirar se tenho que concorrer com TVA e Sky-DirectTV? Telefonia fixa? Essa não precisa se entrincheirar, é um monopólio merecido, porque no modelo original da LGT quem iria competir eram as espelhinhos, que faleceram, todas.
Tele.Síntese – Sobrou a GVT.
Valim – A GVT é menor do que a Vivax.
Tele.Síntese – O que prova de que a competição não veio.
Valim – Portanto, nós temos uma segunda chance, um revival, para ter competição. Se o governo não entender isso, free to all, o que vai acontecer? Vai acabar a competição, como aconteceu com as espelhinhos. Vou explicar por que. Nós somos originalmente um distribuidor de TV por assinatura e, hoje, mais de 90% da nossa receita vêm desse negócio. Se alguém começa a fazer dumping nesse negócio, perco muita energia para fazer qualquer outro negócio. Então, é fácil de entender. E quando compara com uma tele fica mais fácil de entender. Por que a tele, se está tão disposta a competir, não compete nos serviços que estamos oferecendo hoje? A Telefônica só mudou a precificação nas cidades onde a gente opera. Por que não muda nas outras cidades? Em Barueri, aqui do lado? Em São Bernardo, Santo André, Diadema, que ficam do lado de São Paulo? A NET não tem licença lá. Esse tipo de posicionamento deveria ser entendido exatamente dessa forma: o jeito de ter concorrência é o governo entender que precisa haver concorrência, deixar que o concorrente cresça o suficiente nesse novo serviço. Nós temos três meses de serviço, e todo esse barulho por causa de três meses de serviço.
Tele.Síntese – Você acha que eles estão reagindo mal à entrada de vocês?
Valim – Acho que estão reagindo bem, nós é que somos a reação. Eles estão fazendo tudo isso para ficar igual à gente, não para ficar melhor do que a gente. O produto que a Telefônica tem é rigorosamente igual ao nosso, na tabela, o preço é por minuto, mas nós temos algumas vantagens adicionais. Por exemplo, a ligação de um cliente NET Fone via Embratel para outro cliente NET Fone via Embratel é gratuita.
Tele.Síntese – Você fala como se a NET fosse uma empresa isolada. Mas ela faz parte de um grupo, e a convergência está aí, não?
Valim – Que convergência? Que grupo? O grupo é Embratel e NET, são empresas coligadas.
Tele.Síntese – A Embratel e a Claro têm um sócio em comum. E quanto tempo vai levar para o grupo oferecer pacotes de serviços convergentes como a Telemar?
Valim – No México, os serviços não são empacotados. Aqui, por que seria, se a estrutura societária é muito mais complexa? Quem controla a NET é a Globo. A Telmex tem 40% do capital da NET, 50% são do mercado. A Embratel é uma das sócias da NET, não é sócia da Claro. Há um controlador em comum, mas os conselhos de administração são totalmente diferentes. Esse tipo de integração, que todo mundo acha que aconteceu…
Tele.Síntese – Pode não ter acontecido ainda, mas é inevitável que aconteça…
Valim – Uma coisa inevitável é quando acontece, quando pelo menos existe conversa para acontecer. Hoje, são operadoras inteiramente independentes. Mesmo nós e a Embratel somos independentes. Obviamente, tentamos trabalhar em parceria porque somos sócios. A Embratel foi desenhada para ser uma operadora virtual. A NET é a opção para ela deixar de ser uma operadora virtual e passar a ser real.
Tele.Síntese – Você está se referindo ao serviço local?
Valim – Claro, é o único que não tem competição. Não consigo entender a mídia especializada, que entende de telecomunicação, não questionar o modelo, porque, para mim, o monopólio é mais grave do que isso. Por que Telefônica, Telemar e Brasil Telecom não competem? Aqui temos uma opção real de competição, e a NET compete com as três. E, junto com a Embratel, criou um produto que, pela primeira vez no Brasil, concorre no serviço local com as concessionárias. A NET, nesse mundo, fatura R$ 2,5 bilhões, está entre as 100 maiores empresas do Brasil, temos alguns sócios capitalizados, então a NET não vai morrer , mas a competição pode morrer.
Tele.Síntese – E a convergência de serviços?
Valim – Imagine só, em um mundo convergente, tudo barato, acessível, flexível, todo mundo tendo que pagar pedágio à Telefônica, à Telemar, à Brasil Telecom. Com os provedores de acesso já é assim. Terra, Telefônica, Vivo; iG, Brasil Telcom, Telecom Italia; Telemar e Oi. E tu vem falar que nós somos um conglomerado? O que a gente tem de ativo no Brasil em termos de receita? A NET e a Embratel.
Tele.Síntese – Vamos falar um pouco da NET?
Valim – A NET nunca foi desenhada para ser um provedor mono play, mas para ser triple play, desde o começo. Mas, por problemas financeiros, não foi. Hoje, que agente consegue fazer isso, nosso foco e toda a nossa mídia é o que a gente chama de combo, de combinado: TV paga, banda larga e voz por um preço fixo que é de 20% a 30% mais barato do que assinar serviços NET individualmente, e os serviços NET são os mais baratos do mercado.
Tele.Síntese – Na NET, 80% do faturamento ainda vêm da TV paga?
Valim – É. Essa empresa passou por uma reestruturação financeira. Quando cheguei aqui, tínhamos cerca de 50 mil assinantes de banda larga, e zero de voz. Hoje, temos mais de 500 mil de banda larga e mais de 50 mil de voz.
Tele.Síntese – A NET está dando algum guidance para 2006?
Valim – Não. Estamos dizendo é que não vemos qualquer motivo para o ritmo de crescimento diminuir. Porque a economia está boa, temos um excelente produto, e estamos trabalhando para vender combo. Nossa estratégia? Temos 1,6 milhão de assinantes de TV paga, 530 mil de banda larga, 50 mil de voz – todos dual ou triple play. Nosso foco é trabalhar com triple play, o que não tem nada a ver com tecnologia, mas com eficiência operacional porque, ao ter um único cliente com três serviços, consigo reduzir meus custos operacionais, a rede é a mesma e rateio a rede em três serviços, não mais em um, dois ou três, o faturamento é único.
Tele.Síntese – A NET privilegia clientes de alto poder aquisitivo?
Valim – Quanto é que você pensa que se paga, em um domicílio da classe C para ter banda larga e telefone fixo? Hoje, temos produto para a classe C, sim, para substituir o dial up. A discussão é ter ou não ter computador. Se a pessoa investiu no computador, não quer ele desligado, quer ele conectado à internet, que é o principal uso da classe C para o computador. Repito, a decisão não é o provimento do serviço, é comprar ou não o computador.
Tele.Síntese – E, nessa seara, a questão é estimular a entrada?
Valim – O André Barbosa foi muito feliz ao dizer que, no Brasil, o que mata todas essas iniciativas – e a gente tentou várias delas, com várias instituições financeiras – é o tal do spread, o juro real.
Tele.Síntese – Tem aumentado a participação da classe C na sua carteira de clientes?
Valim – Muito.
Tele.Síntese – Você tem esses números?
Valim – Não temos esses dados tão precisos. Mas o que tem incentivado a classe C? É justamente banda larga e voz. A pessoa quer se livrar da assinatura mensal. O nosso serviço não só não tem assinatura mensal como tem o custo por minuto muito mais barato. É isso que faz a revolução do negócio. Não é a questão tecnológica porque essa convergência sobre a qual se fala como se tivesse acontecido semana passada, não existe. Nós, que somos integrados, não entregamos tudo com a mesma tecnologia. A telefonia vai por um caminho, a banda larga por outro, e a TV por outro. Tudo se junta no mesmo cabo.
Tele.Síntese – A mobilidade está nos planos da NET?
Valim – Temos uma piada interna que surgiu quando uma pessoa se expressou inadequadamente, e nós o chamamos de “quadrúpede” play, o cara falou uma bobagem e a gente chamou ele de animal. Mas a gente acha, sim, que esse é o próximo passo. Por exemplo, a Brasil Telecom lançou um produto, o terminal com o qual o assinante fala móvel fora de casa e fixo dentro e casa, e a gente acha que isso, junto com o triple play, vai dar ao cliente uma outra vantagem de custo.
Tele.Síntese – Vantagem como?
Valim – Porque quando eu estiver em casa, vou usar a rede ociosa da fixa, que é muito mais barato do que a outra.
Tele.Síntese – Mas a NET vai ser “quadrúpede”, ou não?
Valim – Nós acreditamos que ser “quadrúpede” é fundamental, mas o custo-benefício dessa tecnologia para o cliente ainda não é perceptível. E como somos uma empresa que trabalha focando rentabilidade e resultado, a gente ainda não encontrou uma equação custo-benefício adequada. Por exemplo, um terminal celular que tenha essa capacidade de falar duas línguas como esse que a Brasil Telecom está instalando, hoje custa em torno de US$ 150 fora do Brasil e, até chegar aqui, quase dobra o preço, vai para quase US$ 250 dólares , multiplica por dois, sai custando R$ 500, R$ 600.
Tele.Sintese – Mas aí entram subsídios.
Valim – Mas R$ 500,00, R$ 600,00 é caro, muitos aparelhos que estão na praça custam muito menos do que isso.
Tele.Síntese – E?
Valim – Quando pudermos vender para 10 mil, 100 mil, 200 mil, o terminal convergente estará na NET Serviços. Mas, hoje, ele é um gadget, um negócio bacaninha, mil pessoas vão ter. Nós não trabalhamos assim, somos uma empresa cost-effective. Só entramos em telefonia quando concluímos que o custo do serviço poderia resultar no crescimento que está tendo, caso contrário não valeria à pena. Porque só quem tem muito dinheiro pode para fazer esse tipo de brincadeira.
Tele.Sintese – A Embratel pode expandir seu serviço local através da rede NET, onde ela existe. Levando em conta que aqui a isonomia é obrigatória, se uma empresa chegar na porta da NET dizendo que também quer, vocês vão permitir, não?
Valim – É a lei do país. Não teremos qualquer problema em cumprí-la, vamos fazer as parcerias necessárias.
Tele.Síntese – Como a NET vê o futuro surgimento de operadoras virtuais (MVNOs)?
Valim – Desde que exista um acordo comercial entre as operações, acho legal e bacana.
Tele.Síntese – É assim que funciona no resto do mundo.
Valim – Há uma diferença que o pessoal não entende quando compara o Brasil com os EUA, que é o tipo de interconexão. Aqui, a interconexão é cheia, por minuto. Cada minuto que eu falo na rede do outro eu sou obrigado a pagar o que se chama TU-RL, taxa de uso de rede local, ou TU-RU taxa de uso de rede interurbano. No modelo americano, que é muito mais agressivo do que o nosso, existe o bill&keep, ou seja, eu decido o meu preço, uso a tua rede o quanto quiser, e tu não podes me cobrar nada por isso. Então, nesse modelo de bill&keep, proliferam as operadoras virtuais, porque o que elas têm a fazer é convencer o cliente de que têm uma boa oferta. No nosso, uma virtual teria dificuldade porque teria que ter uma interconexão com a Telefônica e, no fim do dia, ela teria que pagar uma conta. Então, no Brasil, o conceito de flat fee para telefonia, olha paga US$ 20 dólares e consome quanto quiser, não funciona, porque significaria quebrar quem adotasse esse modelo. E não tem como ser diferente porque eu compro um negócio que custa US$ 20, uns R$ 50,00, e falo R$ 150,00.
Tele.Síntese – Isso não pode mudar?
Valim – Para mudar, tem que mudar a LGT e o contrato de concessão das operadoras. A discussão para sair do modelo de interconexão para o de bill&keep aconteceu uns dois anos atrás. No Brasil, duas coisas mudariam radicalmente o cenário de competição e, se acontecessem, as concessionárias poderiam prestar TV por assinatura a hora que quisessem: bill&keep e portabilidade numérica. Esses dois elementos mudariam radicalmente o cenário, mas, no Brasil, se optou por uma mudança gradual e, nesse modelo, o órgão regulador precisa intermediar.
Tele.Síntese – Vamos mudar o modelo, então?
Valim – Não tenho problemas com o modelo existente, acho que é o adequado para o país.
Tele.Síntese – Nesse ritmo, que mudanças enxerga para o serviço local?
Valim – De novo, é criar competição. É só isso que falta no Brasil. O mundo móvel tem um modelo que incentivou a competição através da diferença de preço da VU-M. Mesmo assim, o que acontece hoje na telefonia móvel que não resolveu o problema? Dos quase 100 milhões de telefones celulares que existem, mais de 70% são pré-pagos.
Tele.Síntese – São mais de 80%.
Valim – Falo 70 % porque é pai de santo.
Tele.Síntese – O que é isso?
Valim – Só recebe. Por que ? Porque é muito caro fazer uma ligação celular. Então, é preciso haver uma opção de fazer uma ligação barata, e só dá para fazer isso com telefonia local, porque a infra-estrutura celular é cara.
Tele.Síntese – A escala do serviço não cobre esses custos?
Valim – Não. Se tu olhares os balanços das celulares, mais de 50% da receita deles vêm da interconexão com as fixas, ou seja, é gente das fixas ligando para as móveis, porque é mais barato ligar das fixas para um telefone móvel do que desse móvel para um fixo, ou do móvel para o móvel. As pessoas são sensíveis a isso. Então, de novo: entendendo esse bolão de coisas que estão todas juntas, é preciso intermediar essa transição, para permitir competição.
Tele.Síntese – Por muito tempo, nos países desenvolvidos, os órgãos reguladores agiram favoravelmente às incumbents.
Valim – Acho que, no Brasil, o órgão regulador tem se posicionado de forma mediativa e, na minha opinião, não omissa, tem pontos polêmicos, mas acho que não é omissa. E agora surgiu uma oportunidade de ter que definir uma coisa muito importante por causa de um movimento absolutamente ilegal por parte da Telemar.
Tele.Síntese – Você acha que a Telemar não vai conseguir levar a Way Brasil?
Valim – Eu acho que não poderia. Tudo o que sei sobre esse assunto me diz que não poderia.
Tele.Síntese – A lei não deixa?
Valim – Temos várias leis. A LGT, a Lei do Cabo, todas elas estão conectadas, o que cria uma certa confusão, mas existe a Justiça comum.
Tele.Síntese – O caminho para a barrar a Telemar é a Justiça?
Valim – Na nossa opinião, o órgão que vai dar o parecer é a Anatel.
Tele.Síntese – Você sabe que algumas operadoras de pay TV concordam com a entrada das teles no segmento, não é?
Valim – Sabe por que? Porque estão loucas para serem vendidas para uma das teles, só pode ser isso. Porque a única operadora no Brasil que tem um modelo consistente de voz é a nossa. A TVA está nesse negócio há mais tempo, e declarou no final do ano que tinha mil assinantes. O nosso tinha mil assinantes no primeiro dia. Então, é como eu te disse, o nosso negócio é fazer dinheiro, ganhar dinheiro com os serviços que a gente presta, com eficiência do lado interno, e com concorrência do lado externo. Então, para nós, não tem como ter qualquer tipo de parceria, acordo, amizade com o inimigo.
Tele.Síntese – Este ano vocês vão crescer?
Valim – Estamos crescendo.
Tele.Síntese – Isso vai continuar?
Valim – Deve continuar.